ACORDO ORTOGRÁFICO

O autor dos textos deste jornal declara que NÃO aderiu ao Acordo Ortográfico e, por isso, continua a adoptar o anterior modo de escrever.

terça-feira, 31 de julho de 2012

QUE FAZER NAS FÉRIAS EM TEMPO DE CRISE?


Hoje calhou, mais uma vez, escutar outro daqueles programas de antena aberta onde as pessoas podem dizer o que lhes vai na alma a propósito de um tema que lhes é proposto. Hoje pretendia-se que os participantes dissessem como ou onde iriam passar as suas férias neste tempo de austeridade, nesta época sobretudo marcada pela subtracção do subsídio de férias.
Seleccionei três respostas que vou sintetizar de memória, as quais considero representativas de atitudes distintas no modo de enfrentar e superar as dificuldades que más gestões de anteriores governos provocaram.
Uma senhora disse que, nas férias, iria fazer um cruzeiro que a levaria a diversos países, conforme o programa que elaborou e preparou ao longo do ano. Criou o gosto de viajar com os seus patrões que viajam muito, é com as informações que lhe trazem dos lugares que visitam que faz os seus planos de viagens. Após o regresso de umas férias inicia, de imediato, as poupanças que lhe permitirão viajar no ano seguinte!
Outra senhora afirmou que decidiu, com o seu marido, ir passar as férias na terra e fazerem a recuperação do que lá possuem, a casa que querem tornar mais habitável e os campos que desejam que voltem a ser produtivos. Afirmou que, tal como primeiro-ministro um dia disse, pretendem, deste modo, fazer da crise uma oportunidade.
Em terceiro lugar, um senhor respondeu, apenas, que com o roubo que este governo lhe fez do subsídio de férias, fica em casa!
Não me parece que valha a pena fazer aqui muitas considerações sobre os tipos de atitudes descritos, de alguém que não altera as suas rotinas, de alguém que cria uma oportunidade e de alguém que, simplesmente, coloca a culpa nos outros. As conclusões a tirar parecem-me óbvias mas teria muito interesse em conhecer as conclusões de outros que, como eu, gostem de reflectir sobre o que ouvem ou vêem.

domingo, 29 de julho de 2012

GRANDE NAU, GRANDE TORMENTA


Por mais que o governo espanhol o queira disfarçar e desmentir, é cada vez mais evidente que o caos financeiro em Espanha mostra mais a sua enorme dimensão a cada dia que passa. Afinal, este paraíso que, aqui bem ao lado, nos fazia inveja, não era mais do que uma bomba prestes a rebentar.
O problema não é de hoje porque vem de há muito tempo, tal como aconteceu em Portugal.
Ainda me lembro de Saramago ter afirmado que à fraqueza de Portugal apenas restava ligar-se a Espanha!
O país vizinho tem, desde há muito tempo, uma taxa de desemprego altíssima, já da ordem dos 15% quando a nossa era de pouco mais de 2 ou 3%, nos tempos da vida airada!
Se com uma taxa de desemprego de um pouco mais de 15% estamos, porque é forçosos estar, preocupados, que dizer dos 25% de desempregados espanhóis? São um mundo de gente, mais de cinco milhões que, um dia sem subsídio de desemprego, pode ser um problema sem solução pacífica.
Esta crise mostra situações desesperadas e números excessivos que, mesmo quando for atingido o reequilíbrio que, fatalmente, um dia terá de o ser, seja qual for o nível em que se faça, pouca ou nenhuma esperança deixam para uma economia de pleno emprego no futuro. Mas esta questão do “emprego” é outra, sobre a qual será necessário reflectir conjuntamente com o conceito de “trabalho” que, aos poucos, se foi perdendo. A situação exigirá, agora, novas soluções e mudanças de hábitos, inevitáveis mas difíceis de aceitar.
A situação espanhola, assim como outras nesta União Europeia de faz-de-conta, preocupa-me seriamente porque estou muito longe de pensar que “o mal de muitos é conforto...”.
É, simplesmente, terrível o que está a suceder nesta Europa que parece cair de podre. É um mal que alastra e a todos acabará por atingir.
Mas a par destas desgraças há, também, países onde as coisas parecem não correr mal. A Finlândia, com um território muito maior do que o de Portugal mas apenas metade da população portuguesa, teve o bom senso de sempre gerir a sua economia de um modo equilibrado e a Islândia, um pequeno país como Portugal mas com uma população de pouco mais de 300000 habitantes decidiu, depois de se ter deslumbrado com o novo-riquismo que nos perdeu a todos, cortar o mal pela raiz e voltar ao trabalho no mar e no campo, como, antes do deslumbramento das engenharias financeiras, sempre fizera.
Na terra dos mil lagos há uma tradição de equilíbrio que a preserva, por enquanto, destas tropelias a que uma descabida mania das grandezas a nós nos obriga, enquanto na ilha dos vulcões há uma muito pequena população determinada a viver como sempre viveu e, por isso, afastou e puniu os que julgou culpados pelos maus momentos por que passou.
Um velho ditado diz que se a nau é grande, grande é a tormenta! Talvez por isso são tão assustadores os problemas que agora já são indesmentíveis na Espanha e começam a transparecer na Itália e noutras economias europeias tradicionalmente tidas como fortes.
Portugal não tem uma economia forte nem uma grande economia. É um país pequeno, uma pequena nau que, por isso, pode contornar a sua tormenta se, como a Finlândia, for gerido de um modo equilibrado e, como a Islândia, reconhecer que deve voltar ao mar e ao trabalho!
Uma forte razão para não deixar para amanhã a tomada de decisões que esta situação requer, é que todo o mundo se encaminha para uma situação que não pode deixar-nos tranquilos.
Deixamos que as coisas aconteçam por si ou decidimo-nos a controlá-las?

sábado, 28 de julho de 2012

A FUSÃO DE FREGUESIAS E O COBRADOR DE FRAQUE!


Tenho pena que em Portugal não consiga fazer-se uma reforma administrativa que tenha em vista os objectivos que deve ter e não esta simplista obrigação “troikiana” de eliminação de custos.
Como se tornou mais do que evidente, as exigências da Troika a Portugal, em contrapartida de empréstimo de dinheiro a juros inferiores aos do mercado, têm um caracter meramente financeiro, sem preocupações económicas e sociais. Pudera! A Troika quer de volta os dinheirinhos que emprestou, como qualquer agiota o quereria e manda-nos, regularmente, o seu “cobrador de fraque”.
Mas este é um agiota especial que não quer apenas o dinheiro. Dá indicações de onde ele deve vir. Obviamente, esta atitude deixa pouca margem de manobra, se alguma, e não deixa de ser uma intromissão humilhante em decisões que deveriam ser apenas nossas.
Curiosamente, porém, tem um mérito: obriga-nos a fazer coisas que já deveríamos ter feito há muito tempo e que, sem a sua intervenção talvez nunca fizéssemos, a par de precipitações como esta espécie de reforma administrativa que a fusão de Freguesias pretende ser.
Uma reforma administrativa não se faz a régua e esquadro como a que o PS um dia sufragou nem, tampouco, tem as razões de ser nem os inconvenientes que, então, se confrontaram e, por pequena margem, deram a vitória a um “não” que, entre outras coisas, imagine-se, prometia que com a poupança dos gastos que a “regionalização” implicaria, podiam ser aumentadas as pensões!
A um povo tão maioritariamente ingénuo (ainda bem que não sou primeiro –ministro para não ser crucificado) até uma patranha destas engana. Que se poderá dizer de outras…
A reforma administrativa é uma coisa muito séria que se decide com base em muito estudo e comparação de muitos parâmetros que determinam que ela atinja, ou não, os objectivos que não podem ser outros senão a ocupação e o desenvolvimento harmonioso do território, para um melhor aproveitamento dos seus recursos e o consequente aumento da qualidade de vida das suas populações.
Fundir agora Freguesias e mais tarde vir pedir a fusão de Concelhos para reduzir o número de autarcas e, deste modo, ter menos custos, nem sequer me parece porque sei que não é uma atitude inteligente. É a ignorância total do que uma reforma administrativa deve ser.
Aproxima-se a data em que a Troika deseja que a fusão das Freguesias esteja feita, mas a confusão, com Concelhos que não aceitam fusões, outros que as aceitam, ainda outros que foram dispensados de as fazer, dificilmente permitirá cumprir este objectivo, mesmo desta forma tão simplista e estúpida!
Quando faremos uma reforma administrativa com jeito?

quinta-feira, 26 de julho de 2012

A NOVA ECONOMIA MUNDIAL

A minha reflexão de hoje é sobre o excelente texto que Dani Rodrik, professor na Universidade de Harvard, escreveu e o jornal o Público hoje dá a conhecer.
Sem referir as razões nas quais, em tanto que já tenho escrito, me baseio para afirmar que um novo modo de vida as circunstâncias nos impõem, em vez desta economia que deixou de ter pés apara continuar, conclui de modo idêntico e faz previsões que, em meu juízo, não andarão distantes do que, na realidade pode acontecer.
Convido-vos, pois, a ler este texto:

Os vencedores (relativos) da nova economia mundial

A economia mundial enfrenta uma incerteza considerável a curto prazo. Será que a zona euro conseguirá resolver os seus problemas e evitar uma dissolução? Será que os Estados Unidos construirão um caminho para um relançamento do crescimento? Será que a China encontrará uma forma de reverter o seu abrandamento económico?
As respostas a estas perguntas irão determinar como é que a economia mundial evoluirá ao longo dos próximos anos. Mas, independentemente da forma como esses desafios imediatos são resolvidos, está claro que a economia mundial está também a entrar numa nova fase difícil a longo prazo – uma fase que será substancialmente menos hospitaleira para o crescimento económico do que possivelmente qualquer outro período, desde o final da Segunda Guerra Mundial.

Independentemente da forma como irão lidar com as suas dificuldades actuais, a Europa e os EUA sairão da situação com dívidas elevadas, baixas taxas de crescimento e políticas internas contenciosas. Mesmo no melhor cenário, no qual o euro permanece intacto, a Europa ficará atolada na árdua tarefa de reconstruir a sua união desgastada. E, nos EUA, a polarização ideológica entre democratas e republicanos continuará a paralisar a política económica.

De facto, em praticamente todas as economias avançadas, os altos níveis de desigualdade, as tensões na classe média e o envelhecimento da população irão alimentar conflitos políticos num contexto de desemprego e de escassez de recursos fiscais. À medida que estas velhas democracias se concentram cada vez mais nelas próprias, elas tornar-se-ão parceiras menos úteis a nível internacional – menos dispostas a sustentar o sistema de comércio multilateral e mais prontas a responder unilateralmente às políticas económicas, em qualquer lugar suspeito de ser prejudicial aos seus interesses.

Enquanto isso, os grandes mercados emergentes, como a China, a Índia e o Brasil não são susceptíveis de preencher o vazio, uma vez que se manterão empenhados em proteger as suas soberanias nacionais e os seus espaços de manobra. Como resultado, as possibilidades de cooperação mundial, no que diz respeito a questões económicas e outros assuntos, ficarão mais longínquas.

Este é o tipo de ambiente mundial, que diminui o potencial de crescimento de cada país. A aposta segura é que não veremos um retorno do tipo de crescimento que o mundo – especialmente do mundo em desenvolvimento – vivenciou nas duas décadas anteriores à crise financeira. É um ambiente que irá produzir profundas disparidades no desempenho económico em todo o mundo. Alguns países serão muito mais prejudicados do que outros.

Aqueles que serão menos prejudicados irão partilhar três características. Primeiro, não serão sobrecarregados com elevados níveis de dívida pública. Segundo, não estarão excessivamente dependentes da economia mundial e o factor impulsionador dos seus crescimentos económicos serão internos, em vez de externos. Finalmente, serão democracias resistentes.

Ter níveis de dívida pública baixos a moderados é importante, porque os níveis de dívida que atingem os 80-90% do PIB tornam-se num grave empecilho para o crescimento económico. Imobilizam a política fiscal, conduzem a graves distorções no sistema financeiro, originam lutas políticas em assuntos de tributação e incitam conflitos de distribuição dispendiosos. Os governos que estão preocupados com a redução da dívida, não são susceptíveis de realizarem os investimentos necessários para a mudança estrutural a longo prazo. Com poucas excepções (como a Austrália e a Nova Zelândia), a grande maioria das economias avançadas do mundo está ou estará em breve nesta categoria.

Muitas economias de mercado emergentes, tais como o Brasil e a Turquia, conseguiram controlar o crescimento da dívida pública, desta vez. Mas não impediram uma orgia de empréstimos nos seus sectores privados. Uma vez que as dívidas privadas têm maneira de se transformarem em passivos públicos, um baixo nível do fardo da dívida pública pode, na verdade, não dar a estes países a almofada que eles julgam ter.

Os países que dependem excessivamente dos mercados mundiais e das finanças globais para alimentarem os seus crescimentos económicos também ficarão em desvantagem. Uma economia mundial frágil não será hospitaleira para o grande número de devedores estrangeiros em termos líquidos (ou o grande número de credores estrangeiros em termos líquidos). Os países com elevados défices da balança de transacções correntes (como é o caso da Turquia) permanecerão reféns do sentimento nervoso do mercado. Os que têm elevados excedentes (como é o caso da China) estarão sob crescente pressão – incluindo a ameaça de retaliação – para controlarem as suas políticas “mercantilistas”.O crescimento, induzido pela procura interna, será uma estratégia mais segura do que o crescimento induzido pelas exportações. Isso significa que os países com um grande mercado interno e com uma classe média próspera terão uma vantagem importante.

Finalmente, as democracias funcionarão melhor, porque têm os mecanismos institucionalizados para a gestão de conflitos, que os regimes autoritários não têm. As democracias semelhantes à da Índia podem, às vezes, parecer caminhar muito lentamente e terem predisposição para o imobilismo. Mas elas fornecem espaços de troca de opiniões, de cooperação e de "dar e receber" entre grupos sociais adversos, que são cruciais nos momentos de turbulência e de confrontos.

Na ausência de tais instituições, o conflito distributivo pode facilmente passar a protestos, tumultos e desordem civil. É neste ponto que a democracia da Índia e da África do Sul tem vantagem sobre a democracia da China ou da Rússia. Os países que têm caído nas garras de líderes autocráticos – por exemplo, a Argentina e a Turquia – estão também, cada vez mais, em desvantagem.

Um importante indicador da magnitude dos desafios da nova economia mundial é o facto de haver tão poucos países que satisfaçam os três requisitos. De facto, algumas das mais espectaculares histórias de sucesso económico do nosso tempo – da China em particular – não cumpre mais do que um. Serão tempos difíceis para todos. Mas alguns – creio que o Brasil, a Índia e a Coreia do Sul – estarão em melhor posição do que os restantes.

Tradução: Deolinda Esteves/Project Syndicate

quarta-feira, 25 de julho de 2012

A LÓGICA DO TROCADILHO GROSSEIRO


Já aqui aplaudi o grito de Passos Coelho que recusou atitudes eleitoralistas em favor das que defendam os interesses de Portugal, coisa que nunca havia visto nesta democracia portuguesa em que o mais comum é cada qual fazer como o macaco, coçar-se para dentro.
Recordando o que disse Passos Coelho que afirmou que, se alguma vez, interesses eleitorais e nacionais entrassem em confronto, se lixem as eleições porque o importante é salvar o país, só posso concluir que manifestou uma intenção da qual espero nunca se esqueça porque é rigorosamente contrária ao que todos sabemos que os políticos fazem quando se aproxima o momento de defender ou de conquistar o poder, com todos os prejuízos para o país que de tal atitude decorrem! Aliás, é o que transparece, com toda a clareza, das atitudes do líder do PS que, neste momento que deveria ser de uma ampla frente de salvação nacional, está refém da necessidade absoluta de vencer as próximas eleições autárquicas, das quais depende o seu futuro político. Não o do país!
Se, antes, estava de acordo e aplaudi a atitude de Passos Coelho, mais de acordo estarei agora que o líder da bancada socialista, Zorrinho se chama ele, desvirtuando de forma mais do que abusiva o que é a leitura natural de uma modo de falar que todos tão bem conhecemos, sai a terreiro para demonstrar, usando a lógica do trocadilho grosseiro, que se trata de uma atitude de desprezo pelo povo que, nas eleições, manifesta a sua vontade.
Como é possível distorcer de modo tão soez uma frase em que o respeito pelos interesses nacionais manifesta a preocupação pelos interesses de todos os portugueses, por isso do povo, em vez dos interesses partidários que, afinal, a atitude deste socialista revela? Ou será que deverei antes perguntar como é possível julgar tão mal o entendimento do povo que, certamente, compreendeu o que Passos Coelho quis dizer quando usou a sua linguagem, tentando dar-lhe uma interpretação que nem a um tolo lembraria?
Distorcer as coisas para tentar fazer passar uma imagem ou uma mensagem que interessa ou para minimizar os efeitos de qualquer evento considerado prejudicial, é comum nesta baixa política e no parlamentarismo caduco que em Portugal se instalou. Já me dei conta deste tipo de atitudes tantas vezes que já quase nem as noto quando acontecem. Excepto desta vez, porque a distorção é tão grosseira como querer fazer crer que o branco é preto ou que o dia é noite! Não há, pois, como não a notar.
Chocou-me a lógica truculenta que Zorrinho adoptou para tentar alterar o sentido real do que disse Passos Coelho, mas mais me chocou, ainda, que tenha conseguido quem, ao expo-la, o escutasse.

terça-feira, 24 de julho de 2012

A PROPÓSITO DE GORDURAS…


É verdadeiramente extraordinário o que um deputado pode fazer para além das suas funções no Parlamento.
Pelo que estou a escutar num programa televisivo que fala sobre as “acumulações” dos representantes do povo, há quem, por certo, tem poderes que não há super-heróis que os exibam, tão extensa é a lista das coisas importantes que fazem.
Longas listas de lugares de responsabilidade, decerto bem remunerados, são os “extras” de uma actividade que deveria ser realizada a tempo inteiro ou será que a função de nos representar e defender os nossos interesses, é o “bico” que acrescentam às importantes funções em grandes empresas ou grupos empresariais?
Fiquei chocado pela exibição de oportunismo que, numa actividade que deveria ser um sacerdócio e que, por ser considerada um “sacrifício a favor da sociedade”, confere regalias afrontosas da maioria dos seus “representados” que nenhumas têm, possa haver quem faça disso um simples meio de ascensão social que, em pouco tempo, o leva do nada ao topo!
Quantos deles estão agora a braços com a Justiça e quantos mais virão a estar? A questão é saber se a Justiça tem mão para lhes pegar.
Poderemos aceitar que andam por ali os únicos seres capazes deste país, sem o saber e a competência dos quais as grandes empresas não podem passar ou teremos de, no futuro, ser mais cuidadosos com quem escolhemos?
Quando nos livraremos da subserviência que nos deixa de cócoras perante este tipo de gente de tantos recursos e deixamos de lhes permitir estas oportunidades de serem os “homens do olho” em terra de cegos?
Afinal, se lhes sobeja tanto tempo para fazer outras coisas, porque se não reduz drasticamente o seu número? É uma gordura que não faz falta alguma e cujo corte aos contribuintes dá jeito.

“QUE SE LIXEM AS ELEIÇÕES…”


Todos tecem críticas e mais críticas com prognósticos de tragédia e raramente se ouve quem, no meio de tantas dificuldades e incertezas que parecem afundar a Europa e o Mundo, manifeste alguma esperança no futuro e menos ainda quem tenha esperança de alcançarmos aquele “crescimento” que nos reconduziria ao nível de vida de um passado recente que nos fez pensar que o limite era o Céu.
Não acredito que seja possível regressar à sensação de abastança que já vivemos porque não haverá meios para tal. Mas creio ser perfeitamente possível alcançar um modo de viver com a qualidade própria da dignidade humana e respeitador da Natureza a que, por mais independentes e poderosos que julguemos ser, nunca deixaremos de pertencer e cujas leis e ritmos não podemos desrespeitar para todo o sempre.
O maior erro nesta luta contra uma crise que recomeça a cada dia, será tentar lutar contra uma realidade que torna inútil toda a nossa ambição de crescer sem parar. Assim, perdemos tempo que fará falta na reconstrução urgente de uma sociedade que terá de admitir que um modo de viver menos faustoso, ainda que não menos ambicioso nem menos feliz, é inevitável.
É mais do que tempo para responder a algumas perguntas que as atitudes de protesto tornam indispensáveis de fazer e nos permitirão saber como fariam e com que meios contariam os que se rebelam contra uma austeridade ditada por uma vida que, ilusoriamente, parecia ter-nos libertado da bíblica condenação de “ganhar o pão com o suor do rosto”!
O PS faria, certamente, como sempre fez, com os mesmos resultados que sempre alcançou com os investimentos não reprodutivos que parecem dar à economia uma força que não tem, com as concessões de benefícios que, depois, alguém terá de pagar, com a submissão incontrolada a direitos que a Constituição consagra mas, só por si, não garante. As próximas eleições autárquicas, não a superação da crise, são a sua grande e imediata preocupação.
O PCP nada conseguiria fazer com a cassete que, com o apoio da CGTP, acabou por recuperar e apenas diz o óbvio de uma situação que já era esperada, reclama contra as perdas que já se sabiam inevitáveis depois da euforia perdulária que se viveu e, sem nunca dizer onde encontraria os meios para recuperar as “conquistas” que estes “corruptos” destroem, continua a exigir a reposição dos níveis de salários e de emprego que a situação do país, da Europa e do Mundo, não consentem.
A Extrema-Esquerda mantém-se, como mais nada pode ser, como a caixa de ressonância do resíduo inconformado da Sociedade, seja ela qual for.
Mas é hora de nos deixarmos de lamentação tardias, de calar a exigência do que cedo demais delapidámos.
Se há modo de evitar a austeridade que tanta dor nos causa, em vez de reclamar contra ela, digam como é que fariam. Mas a sério… claro!
Gostei de ouvir Passos Coelho soltar o grito que dá título a este escrito: “que se lixem as eleições, porque o que interessa é Portugal”.

sexta-feira, 20 de julho de 2012

DEPOIS DA LUZ… (A propósito das ausências de Vitorino Nemésio e de José Hermano Saraiva)


Senti muito a falta de Vitorino Nemésio que no seu “se bem me lembro” me deixava preso ao que, no seu acentuado português dos Açores, contava com uma naturalidade difícil de igualar.
Aprendia-se um pouco de tudo com o que ele dizia e, sobretudo, ficava-se com a alma aliviada. Foi uma perda enorme quando nos deixou.
Hoje, a morte de José Hermano Saraiva é outra notícia infausta que, tal como a daquele açoriano maravilhoso, nos priva de uma “companhia” que outra não pode substituir.
Aquelas histórias da História que só ele, tão bem, sabia contar, prendiam o mais distraído dos que as escutavam. Quanto trabalho de pesquisa e de interpretação desenvolveu neste país tão carente de memória! É uma perda irreparável mesmo pensando que, como é hábito dizer-se, ninguém é insubstituível.
O imenso acervo de programas de que a RTP dispõe, quer de um quer de outro, é uma preciosidade que deveria ser aproveitada para, em horário nobre, aquele que as televisões desperdiçam com telenovelas de baixíssima qualidade na ficção e na literatura, mostrar a todo um povo que precisa de se reencontrar, como necessita de outros objectivos para além das tricas e nicas deste dia a dia sem graça.
Assim a RTP contribuiria para a educação de um povo que pouco conhece da sua maravilhosa história!
Deveria! Mas não acredito que o faça!

“TEACHER, LEAVE THE KIDS ALONE”?


Acabei de ouvir, na Antena 1, uma entrevista com o Presidente do Tribunal de Contas, dr Oliveira Martins. Apreciei a clareza e a tranquilidade com que expôs os seus pontos de vista e, sobretudo, o modo como esclareceu algumas questões preocupantes desta vida de problemas que levamos. Não foi além do que é próprio das suas funções mas foi suficientemente claro para nos fazer sentir que as dificuldades são para enfrentar e não para contornar.
Como foi diferente daquelas algaraviadas que se ouvem em outros programas, ditos de antena aberta, nos quais, embora com a maioria por certo a dizer o que lhe vai na alma, se vê como há tanta alma confundida que não conhece as razões de ser do que vai acontecendo nem dos comportamentos que lhes são pedidos. Também nesses programas se ouvem “especialistas” que, na maioria dos casos, nada contribuem para esclarecer seja o que for, antes encaminhando as sensações para vias preconceituosas que os seus interesses políticos lhe impõem.
Num tempo em que, como tudo o indica, temos de reaprender a viver, porque um novo estilo de vida se impõe, a educação é a única via que nos pode levar a lugares seguros. E como a educação se não faz na confusão que abre caminho a desmandos dos quais todos sairemos prejudicados, melhor seria privilegiar momentos que, como o de hoje na Antena 1, deixam mais esclarecidas as questões e permitem a centelha de esperança que parece aliviar a dor.
A Rádio, a Televisão e, de um modo geral, toda a Comunicação Social, são vias de transmissão de conhecimentos que deveriam ser melhor utilizados nesta função de educar o povo, aquela função da qual há umas ainda poucas dezenas de anos se escarnecia publicamente, em ditos e canções muito aplaudidas que nos conduziram à bagunça a que chegámos.

quinta-feira, 19 de julho de 2012

UMA BREVE NOTA SOBRE O ACORDO ORTOGRÁFICO

Tenho seguido as regras do novo acordo ortográfico, mas dou-me conta de coisas das quais, francamente, não gosto nem vejo nelas grande razão de ser!
Além do mais, continuando a verificar as diferenças que se mantêm entre o português de Portugal e de outros países lusófonos, sobretudo o Brasil, não me parece que este acordo seja um contributo para uniformização daquilo que o tempo tende a tornar menos igual.
Por isto, decidi regressar à velha ortografia que me parece mais ao jeito de alguém da minha idade. Nem que seja só por isso... Ou será por rebeldia também?

NAQUELE TEMPO… (1)


Quando, em 1952, vim para Lisboa para continuar a estudar, foi numa rua tranquila que me instalei. A rua Sabino de Sousa que hoje reencontrei engalanada porque, uma vez mais, foi a marcha deste Bairro, o Alto do Pina, a que ganhou o concurso das marchas de Sto António. Logo me veio à lembrança o Ginásio do Alto do Pina do qual cheguei as ser sócio e que, naqueles tempos, organizava as marchas. Se ainda as organiza, não sei.
Há muito que por ali não passava. Mas hoje, depois de uma eternidade de boca aberta no dentista que não fica muito longe dali, senti saudades e resolvi visitar o meu Bairro de outrora. Tanto ainda igual, entre as diferenças que encontrei, fizeram-me recordar pessoas, momentos e outras coisas que ficaram bem marcados na minha memória e foram importantes na vida que então vivi. Olhei as caras das raras pessoas que passavam, mas em nenhuma encontrei as que estão presentes na minha saudade. Nem esperaria encontrar, depois de tantos anos.


Desapareceu quase todo o comércio local, uma oficina de mecânica que por ali havia. Até a tasca, onde se reuniam os velhos da rua para caturrar enquanto se deliciavam com o seu “copo de três”, desapareceu também. Menos gente na rua, menos vozes, menos algazarra. Desapareceram os cumprimentos e as perguntas íntimas entre gente que se conhecia bem. Um bairro que tinha vida própria não parece agora ser mais do que um dormitório. Consequência deste tempo em que o pequeno não conta e todos nos concentramos no que é grande e impessoal.
Fiquei a olhar para a janela do quarto que foi o meu, para aquela varanda de onde, tantas vezes, olhei aquela rua e a vida que nela se vivia, tão diferente de como era nas terras mais pequenas de onde eu vim.
Em vez das portas de madeira que se fechavam à noite para tapar a luz, a janela têm, agora, estores de correr.
Na fachada do prédio, uns azulejos de mau gosto substituem o reboco pintado de então e, nos vãos, perfis de alumínio tomaram a vez à madeira de que antes eram feitas as portas e as janelas. Mas é a mesma placa com o número de polícia a que está por cima daquela porta de entrada por onde tantas vezes passei.
Vivendo ali, frequentei o Liceu Camões, onde fiz o 7º ano, então o último do curso secundário. Nunca utilizei qualquer tipo de transporte, privado ou público nas minhas deslocações entre a casa e o Liceu, o que me obrigava a fazer, em cada dia de aulas, um longo percurso que tantas vezes recordo. Percorria a Sabino de Sousa, uma boa parte da Morais Soares, passava pela Pª do Chile, seguia pela António Pedro até à Pascoal de Melo que me levava até ao Largo Dª Estefânia e dali, subindo a Rua Almirante Barroso, chegava, finalmente, à Praça José Fontana. Não sei que distância corresponde a estes percursos que au fazia quatro vezes diariamente, mas admito que eu caminhasse cerca de uma dezena e meia de quilómetros.
Fazia-o de boa mente, sem queixas, porque era meu dever faze-lo, correspondendo ao esforço dos meus pais para eu estar ali.
Continuei a morar naquela rua durante os seis anos que durou o curso de engenharia no Instituto Superior Técnico, o que representou algum alívio nas caminhadas pois, passada a R Barão de Sabrosa, apenas a Alameda D Afonso Henriques me separava da minha escola, dentro da qual uma outra grande alameda me conduzia ao Pavilhão Central ou a outros onde tivesse as aulas.
Havia muito espaço entre eles e contavam-se pelos dedos de uma mão os caros por ali estacionados, naquele espaço onde hoje mal se consegue lugar para estacionar uma lambreta.
O frio e a chuva do Inverno e o calor do Verão foram meus companheiros durante muitas e muitas horas naquelas caminhadas ao longo de sete anos, para o Camões e para o Técnico, até que concluí o curso de engenharia que tanto ambicionava.
Bem mais duros haviam sido aqueles invernos em Manteigas e na Guarda, que me gelavam os dedos ao ponto de quase nem poder escrever.
Por isso, os invernos em Lisboa pareciam-me uma delícia.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

A TEORIA DO QUANTO PIOR MELHOR


Dizia Cristo que era mais fácil vermos um minúsculo gão de pó no olho do vizinho sem nos darmos conta do argueiro que temos no nosso.
Mas diz o povo, também, que “o bom julgador por si julga”, ao que posso acrescentar “honi soit qui mal y pense”. Enfim várias citações que, de um modo ou de outro, se aplicam vezes demais aos comentadores que, neste país (eventualmente em outros também) não calam a sua ânsia de notoriedade e, sem digerirem melhor o que se passa, logo opinam. E como, Santo Deus!
Quando foram conhecidas as buscas que estavam a ser feitas na Caixa BI e no BES a propósito das privatizações da REN e da EDP, para muitos a conclusão foi óbvia: este governo que prometeu transparência nos processos de privatização que fizesse, afinal era como os outros! Quem poderia agora, de futuro, ter confiança no governo? Quem sabe se, por isso, D Januário o chamou corrupto…
Ontem, veio o DCIAP esclarecer que as buscas em curso nada têm a ver com as privatizações em si mesmas, as quais não estão em causa, mas, simplesmente, a intervenções pessoais e pontuais que é necessário esclarecer.
Escutei esta notícia, por acaso, uma só vez, sem o destaque e a ribombância da notícia inicial das buscas que nenhum pormenor ou razão de ser acrescentavam. Mais uma vez não dei conta de igual tratamento da notícia errada e do seu desmentido ou esclarecimento.
Será que à CS apenas interessam as parangonas que fazem vender e não as coisas vulgares que são as mais frequentes na vida?
Pensava eu que todos nós, portugueses, estaríamos profundamente interessados em que as coisas corressem bem para, o mais rapidamente possível, podermos voltar a ter uma vida normal, ainda que sem as “grandezas” e os disparates que nos perderam. Mas devia estar enganado porque estes pulos de alegria que parecem dar aqueles que, como certas pessoas, não gostam de ser sós, só me pode levar a pensar que continuam por aí os ressabiados que preferem os falhanços que podem redimir um ex-governo incapaz e leviano a um sucesso deste governo que possa beneficiar todos nós!
Esquisito, não é?

terça-feira, 17 de julho de 2012

D JANUÁRIO, A IGREJA CATÓLICA E A COMUNICAÇÃO SOCIAL


Não pode um Bispo Católico dar os exemplos que dá este D Januário que, em meu juízo, desta vez se aventurou demais no que disse, ao chamar corruptos aos membros do governo.  Se o chamasse a mim teria, por certo, graves dissabores porque não lhe consentiria, a propósito algum, acusações como as que fez. Fico à espera da reacção do governo, sem me esquecer de que o povo diz “quem se não sente, não é filho de boa gente”.
Como português e como católico manifesto o meu desagrado por tal comportamento em que nenhum dos princípios sociais e morais que me incutiram transparecem.
A Igreja Católica demarcou-se deste prelado afirmando que se trata, apenas, de uma opinião pessoal. É muito pouco porque não pode a Igreja ter no seu seio quem, com as responsabilidades de quem é Bispo e “capelão das Forças Armadas”, emita opiniões do modo com este fez.
Também a Igreja Católica me parece demasiadamente permissiva quanto aos comportamentos dos seus prelados, disso saindo muito fragilizada e comprometida com comportamentos moral e socialmente reprováveis.
Quanto à comunicação social, sabe bem que a este Bispo destemperado, basta dar-lhe guita para se espalhar. É sucesso garantido!

O QUE SERÁ QUE O GOVERNO VAI FAZER?


Depois de uma mal enjorcada decisão do Tribunal Constitucional que veio baralhar muitas coisas, todos gostaríamos de saber qual será a alternativa que o governo vai adoptar para compensar os dois mil milhões que irão faltar no Orçamento de Estado para 2013.
Fala o Tribunal de uma questão de equidade numa sociedade onde, desde há muitos anos ela não existe, como é óbvio nas diferenças profundas entre as regalias dos trabalhadores da função pública e da actividade privada. Duas realidades distintas numa sociedade onde os deveres e os direitos deveriam ser equilibrados. Mas não são e disso não se deu conta o Tribunal.
Eu, apesar de a minha pensão ser, na sua maior parte, resultante de descontos que me fizeram nos salários que a actividade privada me pagou, aceitei os cortes que me foram impostos porque não via que de outro modo pudesse fazer quem não tinha dinheiro para me pagar. Entre não ter nada e ter menos, como qualquer pessoa razoável preferi o mal menor.
Quanto à alternativa que o governo adoptará e ao contrário dos escandalizados comentadores que já têm soluções prontinhas, admito que não tenha ainda sido completamente definido o que vai fazer porque quem governa não pode nem deve ser tão apressado como os que, sem essa responsabilidade, aproveitam todas as oportunidades, não para fazer mas para dar nas vistas com ridículas demonstrações de saber. Quem governa terá de pensar nas diversas hipóteses ao seu alcance, avaliá-las e compará-las antes de tomar uma decisão que vai ter consequências, ao contrário do que sucede com os opinantes, aos quais apenas resta o esquecimento a que a curta memória do povo votará aquilo que tenham dito.
A governação de improviso e por intuições, ao ritmo das opiniões que se ouvem, é como tem sido a que em Portugal mais se pratica e tem como resultados os que nos colocaram nesta situação de quem se enfeitou com anéis e outras bugigangas mas se esqueceu do essencial que é prevenir o futuro! E assim caímos na situação do novo rico pateta que depressa descobre que, afinal, o não é.
Foram anos seguidos de disparates que, agora, em dois ou três anos terão de ser remediados o que, todos o sabemos, é contrário à experiência que nos diz que o erro se comete facilmente mas que remediá-lo é mais custoso e leva mais tempo!
Não há quem não queira meter o bico nesta mistela de opiniões dos que querem tudo sem nada dar em troca. Até ouvi o Presidente do Tribunal Constitucional dar o seu palpite, o que me deixou a sensação insólita de uma decisão política e não judicial.
Além disto, interpreta-se o que diz o FMI que, sem mais receitas que equilibrem o que o TC retirou, exige o equilíbrio das contas nacionais e o crescimento económico ao mesmo tempo. Mas que diferença haverá entre retirar um pagamento de salário ou de pensão (corte na despesa) e lançar um imposto que o equivalha (aumento da receita)? Talvez por coisas assim sempre tive uma total aversão à chamada "contabilidade" que tira de uma coluna para por na outra ou o contrário e chama coisas diferentes ao que tem iguais efeitos.
Mas a mim parece-me que o que devemos reter do que disse o FMI, porque a realidade claramente o demonstra, é que a recessão global estará a caminho, fazendo um percurso mais acelerado do que se esperava.
Nisto é que deveríamos reflectir quando preparamos o futuro.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

POR QUE CONTINUAMOS A PAGAR-LHE?


Estive a ler um texto de Mário Soares com o título “Perto do Caos”. Não sou leitor assíduo do que ele escreva, mas porque também acho que a situação é a que o título sugere, tive curiosidade de ler.
Mário Soares tem a sua visão própria das coisas e conserva a memória do passado que limitações próprias da idade lhe consentem ou que os preconceitos do seu “socialismo” lhe impõem.
Julgava eu que, numa centelha de iluminação, pudesse o vetusto político dizer algo com jeito. Mas equivoquei-me, porque o caos à beira do qual nos podemos encontrar é bem outro.
No que escreveu, chamou-me particularmente a atenção este trecho que aqui reproduzo: “Quanto a Portugal, apesar das grandes preocupações terem pouco a ver connosco, não estamos a participar no diálogo europeu, como devíamos. É mau que assim seja. Rajoy, correligionário de Passos Coelho, tem tido uma posição menos subserviente face à chanceler, e sabido dar, quando é preciso, um murro na mesa europeia. Não tem sido o caso dos dirigentes portugueses, demasiado ideológicos (leia-se neoliberais) e muito pouco pragmáticos. Estão, além disso, desatentos à evolução europeia. Aliás, o nosso Governo tem estado à deriva, sem rumo certo, com vários ministérios paralisados. Um só exemplo: dezenas de gestores públicos não recebem instruções do Governo, desde que tomou posse, há mais de um ano. É obra! Os portugueses, sem informação, sentem na pele que há cortes sobre cortes, mas ninguém lhes explica qual é o rumo a seguir. E como iremos sair da crise. Daí as greves, que se sucedem, e o desespero das pessoas em geral. As leis são mal feitas, como nunca antes sucedera”.
Não vou analisar detalhadamente o que ele diz, mas, em primeiro lugar, seria bom que distinguisse entre as posições de Portugal e de Espanha, sendo a nossa bem mais fraca no contexto europeu, seja pela diferença de dimensão entre as duas economias e, portanto, o seu peso relativo na economia global, seja pelas próprias causas da situação que obriga a pedir auxílio. Portugal não terá grande capacidade para fazer ouvir a sua voz como Rajoy o pode fazer ou, até, impor os seus os seus pontos de vista antes de conseguir a estabilidade financeira, bem como realizar as reformas estruturais que, como tudo mostra, são mais do que necessárias.
Se é fácil tomar algumas atitudes de natureza financeira de efeito rápido, ainda que muito penalizador, mais difícil é fazer as reformas que equilibrarão as finanças e permitirão desapertar um pouco o cinto que ele, como primeiro-ministro, nos fez apertar também.
E que instruções especiais esperaria Mário Soares que muitos gestores públicos recebessem sem estarem concluídos os trabalhos de esclarecimento, realinhamento e limpeza a que a confusa situação legada por um governo socialista obriga? Seriam instruções para continuarem a fazer os mesmos disparates? Por certo!
É de hoje a notícia de estar a ser entregue em Bruxelas o novo plano do QREN para o período 2007-2013 que os governos de Sócrates deixaram estranhamente comprometido com projectos irrealizados. Todos sabem que o actual governo deu instruções para o parar, como é de boa medida fazer quando as coisas não estão bem, só agora havendo condições para o retomar, lançando na economia portuguesa mais de 3 mil milhões de euros! Aqui está uma das razões pelas quais muitos gestores entretanto não puderam fazer o que agora terão de fazer mais rapidamente e com instruções claras.
Será que, também, terei de lembrar a Mário Soares os contratos danosos nas PPP e nas rendas pagas a certas empresas, sobretudo de energia, que nos têm sugado o sangue e se admite terem, alguns deles, contornos criminosos? Tudo problemas que não são nem fáceis nem rápidos de resolver.
As leis são mal feitas como nunca antes acontecera? Quem o afirma? Os “poderes estabelecidos” a quem as reformas que implicam não interessam? Sim, eles e Mário Soares.
Não deveria um ex-presidente da República, a quem continuamos a pagar uma fortuna para não fazer nada, ser mais contido e mais rigoroso naquilo que diz?
Deve SExa pensar que estamos ainda no tempo dos irrealismos de grandeza com visitas presidenciais faustosas à volta do mundo, das romarias em elefantes da Índia? Sei lá.

domingo, 15 de julho de 2012

DOUTOR DE AVIÁRIO?


Já falei deste incidente estranho que fez de Miguel Relvas doutor de aviário. Digo assim pela semelhança com a rapidez com que se fazem crescer e engordar os frangos naquelas unidades de produção que alimentam a voracidade do mercado!
A Declaração de Bolonha e, ao que parece, despachos de um ex-ministro da Educação, tornaram a responsabilidade de garantir a qualificação de alguém perante a sociedade numa atitude que, dependendo de quem a assume, é quase uma irresponsabilidade pelos muitos parâmetros subjectivos que quase permitem justificar qualquer coisa que se queira.
Não vou entrar na polémica de julgar o que se tenha passado. Conheço demasiadamente bem o peso da responsabilidade de garantir a qualificação de alguém, a qual sempre assumi com o rigor e a verdade que o respeito pela sociedade a que pertenço me exigem. Durante muito tempo tive de o fazer e, na dúvida, sempre julguei a favor da sociedade, como entendo que deve ser feito.
Também nunca me apareceu alguém com tantos "créditos" como os que, em poucos anos de actividade, perante alguém Relvas justificou. Mas, por vezes, aparecem prodígios!
Apesar de tudo, pensei que o caso se ficaria por aqui, por uma por uma situação estranha que a “legalidade” consente. Mas não ficou…
Afinal, aquelas apreciações minuciosas do currículo profissional de Miguel Relvas não existem, pelo menos na forma detalhada que justifique os créditos que lhe foram atribuídos.
Colegas da turma a que se diz Miguel Relvas pertenceu dizem nunca o ter visto por lá, nem sequer nos testes das cadeiras que se diz ter feito!
Pelo menos metade dos membros do Conselho Científico da Universidade afirma não ter participado na reunião que apreciou o processo de atribuição de créditos ao candidato a doutor.
Levantam-se cada vez mais vozes que pedem a Miguel Relvas para tomar a atitude própria em circunstâncias como esta em que a credibilidade em alguém que, em princípio, deveria ser um exemplo, se esgotou, sobretudo depois dos repetidos protestos de “consciência tranquila” que o que agora já é sabido não consente.
Até agora, tenho considerado a actuação deste governo como adequada às circunstâncias em que “herdou” o país, o modo como tem enfrentado adversidades que o exterior lhe impõe e, por isso, terei dificuldade em aceitar que, por uma questão de princípios correntes de ética social, se deixe prejudicar por uma atitude em que um dos seus ministros não terá dado o melhor dos exemplos…
Penso que Miguel Relvas deveria demitir-se já porque não haverá inspecção do Ministério da Educação que consiga limpar ou sujar mais ainda a imagem das circunstâncias estranhas e, aparentemente, de favorecimento discriminatório, nas quais Relvas conseguiu o bacharelato que permite chamar-lhe doutor!
Portugal necessita de tranquilidade para fazer as coisas difíceis que a recuperação da sua credibilidade exige, entre as quais mostrarmos ser pessoas credíveis!

sábado, 14 de julho de 2012

A INSEGURANÇA DE SEGURO


É evidente a insegurança de Seguro nesta altura de grandes dificuldades para o país e para ele próprio. O seu coração balança entre duas preocupações, a de ajudar o país e o medo das consequências de poder perder as eleições autárquicas que se aproximam.
Um patriota de verdade, um político preocupado com o povo em nome do qual diz trabalhar, não hesitaria um segundo na escolha a fazer, pois escolheria o seu país, o seu povo martirizado para quem as divisões sobejam. Mas não acredito que, deliberadamente, faça o que sabe ser melhor para o seu país porque teria de enfrentar os que, dentro do PS, não se cansam de lhe fazer a vida negra e para os quais o país é coisa que talvez nem saibam muito bem o que seja senão para a concretização dos seus projectos de poder.
É uma má nota que dão de si quer o PS quer o seu Secretário Geral, o que, aliás, não é de estranhar vindo de quem insiste em criticar nos outros o que eles próprios fizeram.
Tempos maus que se aproximam quando de melhores tempos já estávamos a esperar, poderão ser piores ainda se os políticos portugueses não assumirem, totalmente, as responsabilidades que são suas, de tudo fazerem para sairmos desta fogueira ardente que ameaça consumir-nos.
Há no espetro político português figuras que deveriam ser banidas de uma vez por todas, figuras ridículas e mesquinhas que não merecem representar nem as pedrinhas da calçada.
Ressabiados uns, enraivecidos outros e outros, ainda, para os quais uma grande confusão poderá evitar aborrecimentos maiores nos julgamentos que, se as coisas correrem bem, não poderão deixar de ser feitos a tantas coisas por que são responsáveis, em vez de contribuírem para o esforço comum de que Portugal necessita para ressurgir, parecem apostados em gerar a confusão que, em vez disso, o perderá.
Assim, em vez dos filhos tais que, um dia, fizeram ditosa a Pátria, como o Poeta cantou, restar-nos-á lamentar estes filhos que desditosa a Pátria fazem!

sexta-feira, 13 de julho de 2012

O QUE É A DEMOCRACIA AFINAL?


Depois de tantos anos de uma revolução que a implantou em Portugal, parece-me, por tanta coisa que leio e vejo, ainda haver quem não saiba bem o que é Democracia.
O mais frequente é ser confundida com uma liberdade sem limites, a qual tudo consente sem que possa ser impedido ou recriminado.
Não me parece que seja isso a democracia, como não é tantas outras coisas com as quais é confundida, no que os políticos são hábeis manipuladores de “realidades” que da realidade não fazem parte.
Ninguém pode apelar a uma liberdade total porque há limites naturais e democráticos impostos pela liberdade dos demais. Não é democrata, pois, aquele que a reclama, o que julga ser seu direito fazer seja o que for, mesmo se contrário ao bem comum. E este bem não há como interpretá-lo de modos diferentes porque se trata de uma noção clara que a sociedade há muito interiorizou.
A democracia exige cada vez mais conhecimentos que nos impeçam de atitudes contrárias ao objectivo de qualquer sociedade, o qual só pode ser a felicidade possível. A democracia tem, pois, uma moral própria de respeito pelos direitos dos outros.
Não me sinto muito surpreendido com algumas coisas que vejo porque jamais esqueci o que vi no dia 26 de Abril de 1974.
Encontrava-me em Lourenço Marques para onde desloquei a minha actividade profissional para evitar uma terceira chamada ao serviço militar quando já era pai de três filhos. Era professor na Universidade Local.
No dia 26 de Abril de 1974, ao deixar a minha mulher junto ao local onde trabalhava, dei conta de alguém que estacionava o carro com as rodas em cima do passeio, o que naquela bem ordenada e ordeira cidade era coisa jamais vista.
Ao ser-lhe feito o reparo por um polícia que o ia multar pelo erro cometido, escutei do infractor esta explicação extraordinária: “Óh amigo, isso era ontem. Hoje estamos em democracia”!
Francamente, o meu entusiasmo pela revolução esfriou bastante.

AS LIÇÕES DO PASSADO


Quando muita gente, cada vez mais gente já reconhece que o consumismo é responsável pelos maiores problemas da Humanidade em que as alterações climáticas, a degradação ambiental e a escassez de alimentos, além da cada vez maior falta de recursos naturais indispensáveis para o manter, questões que deveriam balizar as nossas atitudes com vista a um futuro equilibrado, como pode ainda haver quem o louve, dizendo-o a causa da expansão do Bem-Estar da Humanidade que não parou de crescer desde 1946?
Assim pareceu de facto, ainda que, perante as dificuldades que agora vivemos, apenas lhes possa restar a esperança de regresso a um passado que não tem condições para voltar a ser realidade.
Olhar o passado é uma atitude importante para dele extrairmos as lições indispensáveis para não cometermos no futuro os erros que antes cometemos porque, se o não fizermos, estamos, com certeza, condenados a repeti-los.
Mas é indispensável saber interpretar as coisas, colher os ensinamentos certos dos resultados das análises e das experiências que fizermos.
Na actividade de investigação, na qual passei diversos anos da minha vida profissional, era costume contarmos aos mais novos uma anedota que tinha como objectivo lembrar-lhes a importância das interpretações que fazemos.
“Se arrancarmos uma pata a um gafanhoto, o colocarmos no chão e lhe pedirmos para saltar, ele salta! Se o mesmo fizermos arrancando, sucessivamente, mais patas, ele continuará a saltar, ainda que fazendo saltos menores. Mas se ao arrancarmos a última pata lhe pedirmos para saltar, ele não salta. Conclusão possível: sem patas, o gafanhoto fica surdo!”
Esta anedota patética é difícil de esquecer e, por isso, obrigar-nos-á, sempre, a ponderar as conclusões que tiramos das experiências que vivemos ou dos factos que conhecemos.
Olhar para a abastança do passado que, como sabemos, a necessidade de crescimento continuado para manter a economia cada vez mais aumentou, poderemos pensar que este Planeta tem recursos infinitos e, por isso, nada impedirá a continuação deste modo de vida regalado. Porém, parece mais razoável pensar que, neste sistema finito que é o Planeta que habitamos, acabaremos, um dia, por exaurir os recursos de que o consumismo necessita para se manter e que da abastança passaremos a uma vida de míngua.
Mas nem sequer necessitaremos de invocar a razoabilidade para tirar as conclusões mais certas depois de termos visto como cresceram e estoiraram os maiores bancos e as enormes empresas americanas que acenderam o rastilho desta crise que incendeia o mundo. Poderemos, perante estas realidades que a Economia Devoradora tenta disfarçar, continuar a pensar que as “bolhas” podem crescer indefinidamente sem estoirar?

quarta-feira, 11 de julho de 2012

CEGO MESMO É O QUE NÃO QUER VER


Ainda não percebi se são menos dotados de entendimento ou mal intencionados, mas ouvindo estes analistas que logo se empertigam para criticar seja o que for e para debitar palpites que, afinal, não são nada, fico com a impressão de que nem sabem bem do que falam.
Mas piores do que eles me parecem ser os "moderadores" que lhes sugerem os temas e, mesmo até, os espicaçam com perguntas em que fazem renascer ideias ou casos que já deviam estar mais do que esclarecidos e sanados. Sei que é função deles a provocação que cria “casos” que são a sua razão de ser, a causa da sua existência, mas, não raras vezes, dão provas de uma pobreza de imaginação que só nos pode deixar estarrecidos.
Passos Coelho, conscientemente ou não, disse há tempos que teríamos de “empobrecer”, o que, se ele pensou em baixar o nível de vida que levámos sem poder, até níveis compatíveis com as nossas capacidades, lhe dá toda a razão. Mas se o disse na esperança de um dia os voltarmos a recuperar, então estará tão equivocado como tantos que tardam em ver a realidade de um mundo que, longe de equilibrado, está a cair na mais profunda agonia económica alguma vez sentida. É a situação característica de um fim de ciclo!
Andamos há muito tempo a falar dos graves problemas da Grécia, da Irlanda e de Portugal sem nos recordarmos já da origem de todos os seus males, dos crimes económicos cometidos nessa enorme economia que os gerou mas os encobre, os Estados Unidos da América!
Para além disso não reparam, sequer, neste mal do qual ninguém se cura e que alastra nesta Europa onde nem só os “periféricos” dele sofrem.
A Espanha começa a seguir um caminho que todos já por aqui conhecemos, com medidas nas quais deposita esperanças de alívio rápido que, sabemo-lo bem, não irá acontecer.
Outros países se seguem e seguirão, o Chipre, a Itália, a França e mais outros também, sucessivamente, numa progressão que nada nem ninguém conseguirá evitar, ainda que alguns países a consigam retardar pelas enormes potencialidades de grandes mercados internos que ainda podem explorar, como são os casos da China, da India, e um pouco o Brasil onde os crescimentos económicos já se ressentem fortemente do drama mundial em que todos participamos.

O ESTADO DA NAÇÃO


Começo por dizer que, por ter a certeza de um futuro em que os desperdícios de ontem se não poderão repetir porque os recursos são escassos, acato as medidas de austeridade que me são impostas e tento adaptar-me a um tipo de vida que não ultrapasse o que a realidade consente em condições equilibradas. É este o único apoio que posso dar ao governo que, estou certo, sabe, como eu sei, que jamais o passado será recuperado e as leviandades do consumismo não mais serão possíveis, sendo melhor, por isso, que nos preparemos para viver o nível de vida que as circunstâncias permitirem.
O debate de hoje sobre O Estado da Nação não me desiludiu rigorosamente nada! O governo fez o seu papel e as oposições fizeram os seus.
O governo não pode fazer muito diferente daquilo que faz, o PS deu, uma vez mais, uma triste nota daquilo que é e o passado comprovou, o PCP não podia ser diferente do fóssil em que há muito se tornou e a esquerda radical não perdeu o pendor folclórico que lhe é próprio e que, para além de irresponsável, é monótono e chato!
De duas coisas me ficou o medo: daqueles que, pelas dificuldades que sofrem, se possam deixar equivocar pelos chavões dos que ao dizerem defender os seus interesses nada mais fazem do que garantir a sua própria sobrevivência política e do oportunismo de outros que, pela sua força corporativa, insistam nas greves destrutivas que a mais austeridade ainda nos obrigarão.
Por isso, instigados por ideias que, como classe culturalmente evoluída deveriam ter recusado, insistiram os médicos numa greve oportunista que nada tem de hipocrática por ser, apenas, hipócrita porque, em nome dos interesses dos doentes que dizem defender, nada mais fazem do que prejudica-los, defendendo os seus.
Desta oportunidade, saiu enfraquecida uma oposição que o país necessitaria que fosse forte, dando de si uma triste nota de falta de sentido de Estado.
Este é o lado mais escuro e preocupante do Estado da Nação!

domingo, 8 de julho de 2012

ONTEM FUI À FEIRA


Desta vez não deixei a Feira do Artesanato acabar sem ir visitá-la. E fiquei contente por ter ido.
Que excelentes artistas que temos. Vi arte autêntica em todos os domínios e gostei tanto que, não fora esta crise que nos retira tanto poder de compra, teria vindo bem carregado para casa.
Mesmo assim, ainda comprei umas coisitas, uns doces regionais, mais dois leões para a minha colecção e um S. Pedro que, desde que alguém me partiu o que comprei em Portalegre e do qual muito gostava, fazia falta na minha prateleira.
S Pedro é um santo muito especial para mim. Nasci numa Freguesia que tem o seu nome, em Manteigas; é o Homem das chaves do Céu e, por isso, convém ter como amigo, sobretudo se o fogo dos infernos nos assusta; dizem, também, que é quem, lá de cima, manda chover. Como a minha especialidade, em engenharia, foi hidráulica, em particular hidráulica fluvial, dava-me jeito ter por amigo o responsável por aqueles fenómenos aleatórios que tentamos prever e causam as cheias e as secas que nos põem a cabeça à roda! Pois é, aprendi que nunca chove o que se deseja e, por isso, a água é, sempre, de mais ou de menos. Por isso pedia ao santo que mandasse uma chuvinha bem chovida, como dizem as pessoas do campo lá na minha Serra.
Este ano estou farto de lhe pedir que acabe com esta seca que tanto prejuízo está a causar, mas ele não me ouve. Sei lá se a idade, tal como a mim, também a ele o afeta e lhe tornou duro o ouvido…  Ou então será porque o não tinha perto de mim.
Pois bem, já tenho de volta o meu S. Pedro com quem gosto de conversar. Veremos se agora me escuta!
Agradou-me encontrar, no meio de tanta coisa, algo da minha Terra, algo do que de bom por lá se faz e já é bem conhecido por esse mundo. O já famoso Burel de Manteigas que a Microsoft escolheu como um dos materiais para decorar a sua moderníssima sede em Lisboa!
Mas tive pena de não encontrar outras coisas tão boas que por lá há, também. Mas não vi. Quem sabe de uma próxima vez…
Percorri com cuidado a feira e lá no último pavilhão encontrei o Rancho Folclórico de Oliveira de Azemeis, uma Vila simpática da Beira Litoral, próxima de Ovar. Fiquei um bocado a vê-los dançar e a ouvi-los cantar porque me recordaram coisas da minha infância. Aqueles tons e aquelas batidas eram as de então. As cantigas fizeram-me recuar dezenas de anos no tempo. Cantaram a Tirana e, até, outra que me lembro de brincar em danças de roda com os amiguinhos de então. A música ainda me estava no ouvido mas a poesia era diferente. Era assim:
Ó Margarida moleira,
Dá-me da tua farinha,
Que eu a quero peneirar
Com a nova peneirinha…
Em Manteigas, cantávamos assim:
Ó videira dá-me um cacho,
Ó cacho dá-me um baguinho…
Esqueci o resto da quadra. Mas posso completá-la assim:
Como é pr’ó meu amor,
Dá-me o que for mais docinho!