Depois de tantos anos de uma
revolução que a implantou em Portugal, parece-me, por tanta coisa que leio e
vejo, ainda haver quem não saiba bem o que é Democracia.
O mais frequente é ser confundida
com uma liberdade sem limites, a qual tudo consente sem que possa ser impedido
ou recriminado.
Não me parece que seja isso a
democracia, como não é tantas outras coisas com as quais é confundida, no que
os políticos são hábeis manipuladores de “realidades” que da realidade não
fazem parte.
Ninguém pode apelar a uma
liberdade total porque há limites naturais e democráticos impostos pela
liberdade dos demais. Não é democrata, pois, aquele que a reclama, o que julga
ser seu direito fazer seja o que for, mesmo se contrário ao bem comum. E este
bem não há como interpretá-lo de modos diferentes porque se trata de uma noção
clara que a sociedade há muito interiorizou.
A democracia exige cada vez mais
conhecimentos que nos impeçam de atitudes contrárias ao objectivo de qualquer
sociedade, o qual só pode ser a felicidade possível. A democracia tem, pois,
uma moral própria de respeito pelos direitos dos outros.
Não me sinto muito surpreendido com
algumas coisas que vejo porque jamais esqueci o que vi no dia 26 de Abril de
1974.
Encontrava-me em Lourenço Marques
para onde desloquei a minha actividade profissional para evitar uma terceira
chamada ao serviço militar quando já era pai de três filhos. Era professor na
Universidade Local.
No dia 26 de Abril de 1974, ao
deixar a minha mulher junto ao local onde trabalhava, dei conta de alguém que
estacionava o carro com as rodas em cima do passeio, o que naquela bem ordenada e ordeira
cidade era coisa jamais vista.
Ao ser-lhe feito o reparo por um
polícia que o ia multar pelo erro cometido, escutei do infractor esta
explicação extraordinária: “Óh amigo, isso era ontem. Hoje estamos em democracia”!
Francamente, o meu entusiasmo
pela revolução esfriou bastante.
Sem comentários:
Enviar um comentário