ACORDO ORTOGRÁFICO

O autor dos textos deste jornal declara que NÃO aderiu ao Acordo Ortográfico e, por isso, continua a adoptar o anterior modo de escrever.

sábado, 7 de julho de 2012

DOUTORES, ANTES E DEPOIS DE BOLONHA


Francamente, já me aborrece o caso académico de Relvas, tal como aconteceu com o de Sócrates, dois entre tantos de caça ao “canudo” que, depois, outro proveito poderá não ter para além do uso de um “título” que, em boa verdade, não confere. Não se exige um título de doutor para ser deputado ou membro do governo, porque são outras as vias que aí conduzem. Mas, como os factos comprovam, ser deputado ou membro do governo já pode, por sua vez, ser a via rápida para um título.
Mas não é nada disto o importante neste mundo de doutores onde a ignorância se disfarça em retóricas confusamente brilhantes ou se esconde atrás de um título que se exibe como um troféu. Talvez nem tanto hoje em dia, desde que passou a haver centenas de cursos que, “em três tempos”, fazem “bachareis” que, automaticamente, se dizem doutores. E os que o não são também arranjam algum modo fácil de o ser, nem que seja no “diploma” de uma associação qualquer a que pertençam, no qual, antes do nome, se coloca um bem evidente Dr!
Depois do “Processo de Bolonha” tudo é possível, mesmo as atitudes mais ridículas como concluir o curso ao domingo ou num ano só, por exemplo, não se exigindo, sequer, que se assista às aulas que a leitura de uns capítulos de uns quantos livros pode substituir. Apetece perguntar para que servem as aulas e os professores se, nem sequer, é obrigatório participar nelas para se ser doutor! E como não conheço livro sobre matéria alguma que ensine a pensar, o que, em meu juízo, é indispensável para o conhecimento seja do que for, poderei concluir que a um candidato a doutor bastará decorar o que vem no livro e, depois, debitá-lo em exames que, deste modo, testam a sua memória, não o seu saber.
“Bolonha”, melhor talvez a sua aplicação do modo que conhecemos, deverá ter sido a decisão mais tacanha alguma vez tomada em relação ao ensino superior onde o lidar com a vida deveria ser preparado com o trabalho e o cuidado que aprender exige, sobretudo agora, neste mundo saturado que cada vez menos consente erros grosseiros sem consequências danosas. Por isso, é necessária elevada competência para tomar decisões cujos efeitos podem afetar todos nós. Com “Bolonha” a preparação para assumir responsabilidades elevadas tornou-se descuidada e os cursos para ser doutor uma corrida que não dá tempo para uma breve reflexão e menos ainda para a síntese das diferentes matérias cujo conhecimento pressupõe.
Se, antes, ser doutor era pertencer a uma elite bem preparada, hoje, não o ser é a desqualificação absoluta numa sociedade em que sê-lo está ao alcance de todos, não sendo o saber nem a competência o que, tantas vezes, é reconhecido no diploma que lhe corresponde.
Curiosamente, vou-me dando conta de currículos onde há o cuidado de acrescentar, em relação à formação académica, “curso pré-Bolonha”!

Sem comentários:

Enviar um comentário