ACORDO ORTOGRÁFICO

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domingo, 1 de julho de 2012

A EUROPA DE UNS E A DE OUTROS


Começa a ficar complicado entender as diferenciações que se fazem no seio de uma União em que, afinal, só o tamanho conta. Parece que a Srª Merkel não se dá bem quando a sombra do seu interlocutor a cobre demasiado. A Espanha e a Itália conseguiram “resgates” excepcionais e mais vantajosos para os respectivos povos e nada faz crer que a mesma medida se aplique aos que já estão mais penalizados por medidas que, entende-se agora, devem ser menos agressivas para as economias.
Em Portugal teremos, porventura, mais “bolhas” do que pensamos, as quais, depois de rebentarem, deixaram chagas profundas que nos custam muito caro porque correspondem a infra-estruturas excessivas, cujas empreitadas foram contratadas em condições muito prejudiciais para o Estado, cujas contribuições para o desenvolvimento são questionáveis em face das “rendas” a que somos obrigados. Parafraseando uma ex-ministra da Educação, o que sucedeu foi, na verdade, uma festa! Para os construtores, obviamente.
A desculpa de que o Estado não estava preparado para enfrentar os juristas dos empreiteiros em negociações complexas de Parcerias Público-Privadas é, no mínimo, ridícula, porque qualquer jurista principiante daria conta de como eram excessivas as contrapartidas!
Mesmo assim, a ajuda da Europa aos seus membros em dificuldades devia ser mais cuidada. A justa medida na ajuda com vista ao desenvolvimento harmónico na União deveria ser um princípio transparente e escrupulosamente respeitado, de modo a não consentir desigualdades como as agora criadas com os “resgates” da Espanha e da Itália.
Continuo a pensar que, apesar desta última cimeira europeia que muitos acham poder marcar uma viragem no modo de enfrentar a crise do euro, continuamos a criar condições para uma ruina maior em domínios em que os problemas se não resolvem em “cimeiras” porque dependem de circunstâncias naturais, de factores que não está na nossa mão alterar. Uma resposta mais adequada a realidades que os interesses económicos não deixam ver, seria urgente neste Continente que continua longe de entender os problemas que se levantam para lhe dificultar o futuro.
Os interesses financeiros antecipam-se a quaisquer outras preocupações, pelo que as perdas de uns são as vantagens de outros. Este aspeto faz-me lembrar uma discussão com o dr António Maria Pereira quando eu era, ainda, militante do PSD e de como ele me considerou retrógrado no meu modo de pensar quando lhe dizia que esta me parecia a forma simples de, pelo poder económico, nos retirarem o que o nosso querer os impediu de nos conquistarem de outro modo. Eu era então, e nunca deixei de o ser completamente, cético de uma União Europeia, então CEE, baseada em princípios económicos, tal como estava a ser concebida. Parecia-me demasiado evidente que países como a França e a Alemanha pouco ou nada mais queriam do que aumentar a massa crítica do espaço que dominam perante o crescimento de outros mercados de muito maior dimensão do que a sua. Comprovaram-no, rapidamente, as diversas “políticas comuns” que nos privaram de muitos meios indispensáveis ao nosso equilíbrio. Provam-no, agora, os modos distintos como se prestam ajudas.
Se, com estas atitudes, a “Europa” pretende fazer mais Grécias, também não creio que saia disso bem tratada.

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