ACORDO ORTOGRÁFICO

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domingo, 29 de julho de 2012

GRANDE NAU, GRANDE TORMENTA


Por mais que o governo espanhol o queira disfarçar e desmentir, é cada vez mais evidente que o caos financeiro em Espanha mostra mais a sua enorme dimensão a cada dia que passa. Afinal, este paraíso que, aqui bem ao lado, nos fazia inveja, não era mais do que uma bomba prestes a rebentar.
O problema não é de hoje porque vem de há muito tempo, tal como aconteceu em Portugal.
Ainda me lembro de Saramago ter afirmado que à fraqueza de Portugal apenas restava ligar-se a Espanha!
O país vizinho tem, desde há muito tempo, uma taxa de desemprego altíssima, já da ordem dos 15% quando a nossa era de pouco mais de 2 ou 3%, nos tempos da vida airada!
Se com uma taxa de desemprego de um pouco mais de 15% estamos, porque é forçosos estar, preocupados, que dizer dos 25% de desempregados espanhóis? São um mundo de gente, mais de cinco milhões que, um dia sem subsídio de desemprego, pode ser um problema sem solução pacífica.
Esta crise mostra situações desesperadas e números excessivos que, mesmo quando for atingido o reequilíbrio que, fatalmente, um dia terá de o ser, seja qual for o nível em que se faça, pouca ou nenhuma esperança deixam para uma economia de pleno emprego no futuro. Mas esta questão do “emprego” é outra, sobre a qual será necessário reflectir conjuntamente com o conceito de “trabalho” que, aos poucos, se foi perdendo. A situação exigirá, agora, novas soluções e mudanças de hábitos, inevitáveis mas difíceis de aceitar.
A situação espanhola, assim como outras nesta União Europeia de faz-de-conta, preocupa-me seriamente porque estou muito longe de pensar que “o mal de muitos é conforto...”.
É, simplesmente, terrível o que está a suceder nesta Europa que parece cair de podre. É um mal que alastra e a todos acabará por atingir.
Mas a par destas desgraças há, também, países onde as coisas parecem não correr mal. A Finlândia, com um território muito maior do que o de Portugal mas apenas metade da população portuguesa, teve o bom senso de sempre gerir a sua economia de um modo equilibrado e a Islândia, um pequeno país como Portugal mas com uma população de pouco mais de 300000 habitantes decidiu, depois de se ter deslumbrado com o novo-riquismo que nos perdeu a todos, cortar o mal pela raiz e voltar ao trabalho no mar e no campo, como, antes do deslumbramento das engenharias financeiras, sempre fizera.
Na terra dos mil lagos há uma tradição de equilíbrio que a preserva, por enquanto, destas tropelias a que uma descabida mania das grandezas a nós nos obriga, enquanto na ilha dos vulcões há uma muito pequena população determinada a viver como sempre viveu e, por isso, afastou e puniu os que julgou culpados pelos maus momentos por que passou.
Um velho ditado diz que se a nau é grande, grande é a tormenta! Talvez por isso são tão assustadores os problemas que agora já são indesmentíveis na Espanha e começam a transparecer na Itália e noutras economias europeias tradicionalmente tidas como fortes.
Portugal não tem uma economia forte nem uma grande economia. É um país pequeno, uma pequena nau que, por isso, pode contornar a sua tormenta se, como a Finlândia, for gerido de um modo equilibrado e, como a Islândia, reconhecer que deve voltar ao mar e ao trabalho!
Uma forte razão para não deixar para amanhã a tomada de decisões que esta situação requer, é que todo o mundo se encaminha para uma situação que não pode deixar-nos tranquilos.
Deixamos que as coisas aconteçam por si ou decidimo-nos a controlá-las?

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