ACORDO ORTOGRÁFICO

O autor dos textos deste jornal declara que NÃO aderiu ao Acordo Ortográfico e, por isso, continua a adoptar o anterior modo de escrever.

domingo, 8 de julho de 2012

ONTEM FUI À FEIRA


Desta vez não deixei a Feira do Artesanato acabar sem ir visitá-la. E fiquei contente por ter ido.
Que excelentes artistas que temos. Vi arte autêntica em todos os domínios e gostei tanto que, não fora esta crise que nos retira tanto poder de compra, teria vindo bem carregado para casa.
Mesmo assim, ainda comprei umas coisitas, uns doces regionais, mais dois leões para a minha colecção e um S. Pedro que, desde que alguém me partiu o que comprei em Portalegre e do qual muito gostava, fazia falta na minha prateleira.
S Pedro é um santo muito especial para mim. Nasci numa Freguesia que tem o seu nome, em Manteigas; é o Homem das chaves do Céu e, por isso, convém ter como amigo, sobretudo se o fogo dos infernos nos assusta; dizem, também, que é quem, lá de cima, manda chover. Como a minha especialidade, em engenharia, foi hidráulica, em particular hidráulica fluvial, dava-me jeito ter por amigo o responsável por aqueles fenómenos aleatórios que tentamos prever e causam as cheias e as secas que nos põem a cabeça à roda! Pois é, aprendi que nunca chove o que se deseja e, por isso, a água é, sempre, de mais ou de menos. Por isso pedia ao santo que mandasse uma chuvinha bem chovida, como dizem as pessoas do campo lá na minha Serra.
Este ano estou farto de lhe pedir que acabe com esta seca que tanto prejuízo está a causar, mas ele não me ouve. Sei lá se a idade, tal como a mim, também a ele o afeta e lhe tornou duro o ouvido…  Ou então será porque o não tinha perto de mim.
Pois bem, já tenho de volta o meu S. Pedro com quem gosto de conversar. Veremos se agora me escuta!
Agradou-me encontrar, no meio de tanta coisa, algo da minha Terra, algo do que de bom por lá se faz e já é bem conhecido por esse mundo. O já famoso Burel de Manteigas que a Microsoft escolheu como um dos materiais para decorar a sua moderníssima sede em Lisboa!
Mas tive pena de não encontrar outras coisas tão boas que por lá há, também. Mas não vi. Quem sabe de uma próxima vez…
Percorri com cuidado a feira e lá no último pavilhão encontrei o Rancho Folclórico de Oliveira de Azemeis, uma Vila simpática da Beira Litoral, próxima de Ovar. Fiquei um bocado a vê-los dançar e a ouvi-los cantar porque me recordaram coisas da minha infância. Aqueles tons e aquelas batidas eram as de então. As cantigas fizeram-me recuar dezenas de anos no tempo. Cantaram a Tirana e, até, outra que me lembro de brincar em danças de roda com os amiguinhos de então. A música ainda me estava no ouvido mas a poesia era diferente. Era assim:
Ó Margarida moleira,
Dá-me da tua farinha,
Que eu a quero peneirar
Com a nova peneirinha…
Em Manteigas, cantávamos assim:
Ó videira dá-me um cacho,
Ó cacho dá-me um baguinho…
Esqueci o resto da quadra. Mas posso completá-la assim:
Como é pr’ó meu amor,
Dá-me o que for mais docinho!

Sem comentários:

Enviar um comentário