Desta vez não deixei a Feira do
Artesanato acabar sem ir visitá-la. E fiquei contente por ter ido.
Que excelentes artistas que
temos. Vi arte autêntica em todos os domínios e gostei tanto que, não fora esta
crise que nos retira tanto poder de compra, teria vindo bem carregado para
casa.
Mesmo assim, ainda comprei umas
coisitas, uns doces regionais, mais dois leões para a minha colecção e um S.
Pedro que, desde que alguém me partiu o que comprei em Portalegre e do qual
muito gostava, fazia falta na minha prateleira.
S Pedro é um santo muito especial
para mim. Nasci numa Freguesia que tem o seu nome, em Manteigas; é o Homem das
chaves do Céu e, por isso, convém ter como amigo, sobretudo se o fogo dos
infernos nos assusta; dizem, também, que é quem, lá de cima, manda chover. Como
a minha especialidade, em engenharia, foi hidráulica, em particular hidráulica
fluvial, dava-me jeito ter por amigo o responsável por aqueles fenómenos
aleatórios que tentamos prever e causam as cheias e as secas que nos põem a
cabeça à roda! Pois é, aprendi que nunca chove o que se deseja e, por isso, a
água é, sempre, de mais ou de menos. Por isso pedia ao santo que mandasse
uma chuvinha bem chovida, como dizem as pessoas do campo lá na minha Serra.
Este ano estou farto de lhe pedir
que acabe com esta seca que tanto prejuízo está a causar, mas ele não me ouve.
Sei lá se a idade, tal como a mim, também a ele o afeta e lhe tornou duro o
ouvido… Ou então será porque o não tinha
perto de mim.
Pois bem, já tenho de volta o meu
S. Pedro com quem gosto de conversar. Veremos se agora me escuta!
Agradou-me encontrar, no meio de
tanta coisa, algo da minha Terra, algo do que de bom por lá se faz e já é bem
conhecido por esse mundo. O já famoso Burel de Manteigas que a Microsoft
escolheu como um dos materiais para decorar a sua moderníssima sede em Lisboa!
Mas tive pena de não encontrar
outras coisas tão boas que por lá há, também. Mas não vi. Quem sabe de uma
próxima vez…
Percorri com cuidado a feira e lá no último pavilhão
encontrei o Rancho Folclórico de Oliveira de Azemeis, uma Vila simpática da
Beira Litoral, próxima de Ovar. Fiquei um bocado a vê-los dançar e a ouvi-los
cantar porque me recordaram coisas da minha infância. Aqueles tons e aquelas
batidas eram as de então. As cantigas fizeram-me recuar dezenas de anos no
tempo. Cantaram a Tirana e, até, outra que me lembro de brincar em danças de roda com os
amiguinhos de então. A música ainda me estava no ouvido mas
a poesia era diferente. Era assim:
Ó Margarida moleira,
Dá-me da tua farinha,
Que eu a quero peneirar
Com a nova peneirinha…
Em Manteigas, cantávamos assim:
Ó videira dá-me um cacho,
Ó cacho dá-me um baguinho…
Esqueci o resto da quadra. Mas posso completá-la assim:
Como é pr’ó meu amor,
Dá-me o que for mais docinho!
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