Já na Antiguidade se discutia a “democracia”
que Aristóteles considerava um regime tanto ou tão pouco fiável e meritório
como outro qualquer, dependendo do modo como se pratica. Aliás, quantas coisas
que hoje sabemos, práticas dolosas e profundamente reprováveis que a democracia
encapotou, nos fazem reconhecer a razão de Aristóteles?
Mas não é para a comparar com
outros regimes que quero falar da democracia que Winston Churchil, sem dúvida o
estadista mais notável do Século XX, considerou ser “o pior regime, com exceção
dos demais conhecidos”. Este homem fantástico que salvou a Inglaterra de ser
mais uma vítima fácil do expansionismo alemão na Segunda Grande Guerra Mundial,
tinha as suas dúvidas quanto aos méritos infalíveis deste regime que muitos
consideram como uma religião, tão elevadas e inegáveis consideram as suas
virtudes. Há, mesmo, quem lhe atribua o mérito de ter solução para todos os
problemas políticos, seja qual for a sua origem.
Não se pode esquecer que o
princípio democrático que é a “razão da maioria” não é, infelizmente, uma
verdade. Pareceu sê-lo quando as disponibilidades de recursos eram tais que as
perdas resultantes de más decisões eram facilmente superadas, o que, actualmente,
se não faz sem grandes custos que, aos poucos, se vão tornando
impossibilidades.
As condições ambientais em que
colocámos o nosso mundo, a euforia com que devorámos os seus recursos naturais,
alguns à beira da exaustão, não nos permitem os devaneios a que a leviana disputa
democrática nos habituou. As coisas deixaram de ser o que o parlamentarismo democrático
conseguia fazer crer que eram para passarem a ser o que são, o que tornou necessário
procurar a verdade e a razão de ser das coisas em vez de as confundir no
palavreado pretensamente erudito de quem finge conhecer bem a verdade sem, de facto, a conhecer. Para os
problemas que se acumulam em montanhas que se podem tornar intransponíveis, há
que encontrar as soluções possíveis que são, cada vez menos, aquelas a que a
fúria consumista nos habituou, as que os princípios económicos clássicos tomaram
como garantidas, mas não são.
Todos já sabíamos, há muito
tempo, que o desemprego seria, mais cedo ou mais tarde, um problema sem solução
porque o desenvolvimento tecnológico foi, sucessivamente, tornando dispensável
a mão-de-obra que máquinas mais eficientes e mais dóceis, bem como programas informáticos vantajosamente substituem.
A democracia consentiu este equívoco, mesmo até o empolou com leis que criam
direitos laborais que, obviamente, não poderiam ser garantidos a prazo.
A democracia permitiu a divisão
do mundo em duas realidades distintas, a dos ricos e a dos pobres, não
reconhecendo a razão daqueles a quem a miséria tornou débil a voz. É a
perversão do um princípio que, hipocritamente, continua, mesmo assim, a defender.
O mundo dos miseráveis, os mais numerosos, é aquele que, por dó, fingimos ajudar
com dádivas ridículas em vez de lhe reconhecermos o direito da igualdade de
direitos com que todos nascemos, como, cinicamente, promulgámos nos “direitos
do Homem”.
Em democracia julgámos ter ganho
batalhas que, afinal, perdemos; estávamos crentes de conquistas que, afinal,
não foram mais do que miragens; fizemos de certas facilidades direitos que a
realidade agora nos não reconhece. Tudo, por que é fácil conquistar o apoio da
maioria para a qual todas as falsas promessas fazem parecer a Terra um Paraíso.
Terá chegado mais depressa do que
esperávamos a hora da verdade, o momento de reconhecermos os erros que
cometemos, o fim de um estilo de vida a que a Natureza porá fim se não nos
anteciparmos nas mudanças inevitáveis a que nos obrigará?
Talvez! Por isso é hora de pensar
que a democracia apenas terá futuro se for a “maioria da razão” em vez da “razão
da maioria” o seu princípio!
De outro modo será a “razão da
força” a que vai impor-se. E todos sabemos o que isso significa.
Sem comentários:
Enviar um comentário