ACORDO ORTOGRÁFICO

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quarta-feira, 4 de julho de 2012

O FUTURO DA DEMOCRACIA


Já na Antiguidade se discutia a “democracia” que Aristóteles considerava um regime tanto ou tão pouco fiável e meritório como outro qualquer, dependendo do modo como se pratica. Aliás, quantas coisas que hoje sabemos, práticas dolosas e profundamente reprováveis que a democracia encapotou, nos fazem reconhecer a razão de Aristóteles?
Mas não é para a comparar com outros regimes que quero falar da democracia que Winston Churchil, sem dúvida o estadista mais notável do Século XX, considerou ser “o pior regime, com exceção dos demais conhecidos”. Este homem fantástico que salvou a Inglaterra de ser mais uma vítima fácil do expansionismo alemão na Segunda Grande Guerra Mundial, tinha as suas dúvidas quanto aos méritos infalíveis deste regime que muitos consideram como uma religião, tão elevadas e inegáveis consideram as suas virtudes. Há, mesmo, quem lhe atribua o mérito de ter solução para todos os problemas políticos, seja qual for a sua origem.
Não se pode esquecer que o princípio democrático que é a “razão da maioria” não é, infelizmente, uma verdade. Pareceu sê-lo quando as disponibilidades de recursos eram tais que as perdas resultantes de más decisões eram facilmente superadas, o que, actualmente, se não faz sem grandes custos que, aos poucos, se vão tornando impossibilidades.
As condições ambientais em que colocámos o nosso mundo, a euforia com que devorámos os seus recursos naturais, alguns à beira da exaustão, não nos permitem os devaneios a que a leviana disputa democrática nos habituou. As coisas deixaram de ser o que o parlamentarismo democrático conseguia fazer crer que eram para passarem a ser o que são, o que tornou necessário procurar a verdade e a razão de ser das coisas em vez de as confundir no palavreado pretensamente erudito de quem finge conhecer bem a verdade sem, de facto, a conhecer. Para os problemas que se acumulam em montanhas que se podem tornar intransponíveis, há que encontrar as soluções possíveis que são, cada vez menos, aquelas a que a fúria consumista nos habituou, as que os princípios económicos clássicos tomaram como garantidas, mas não são.
Todos já sabíamos, há muito tempo, que o desemprego seria, mais cedo ou mais tarde, um problema sem solução porque o desenvolvimento tecnológico foi, sucessivamente, tornando dispensável a mão-de-obra que máquinas mais eficientes e mais dóceis, bem como programas informáticos vantajosamente substituem. A democracia consentiu este equívoco, mesmo até o empolou com leis que criam direitos laborais que, obviamente, não poderiam ser garantidos a prazo.
A democracia permitiu a divisão do mundo em duas realidades distintas, a dos ricos e a dos pobres, não reconhecendo a razão daqueles a quem a miséria tornou débil a voz. É a perversão do um princípio que, hipocritamente, continua, mesmo assim, a defender. O mundo dos miseráveis, os mais numerosos, é aquele que, por dó, fingimos ajudar com dádivas ridículas em vez de lhe reconhecermos o direito da igualdade de direitos com que todos nascemos, como, cinicamente, promulgámos nos “direitos do Homem”.
Em democracia julgámos ter ganho batalhas que, afinal, perdemos; estávamos crentes de conquistas que, afinal, não foram mais do que miragens; fizemos de certas facilidades direitos que a realidade agora nos não reconhece. Tudo, por que é fácil conquistar o apoio da maioria para a qual todas as falsas promessas fazem parecer a Terra um Paraíso.
Terá chegado mais depressa do que esperávamos a hora da verdade, o momento de reconhecermos os erros que cometemos, o fim de um estilo de vida a que a Natureza porá fim se não nos anteciparmos nas mudanças inevitáveis a que nos obrigará?
Talvez! Por isso é hora de pensar que a democracia apenas terá futuro se for a “maioria da razão” em vez da “razão da maioria” o seu princípio!
De outro modo será a “razão da força” a que vai impor-se. E todos sabemos o que isso significa.

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