Desde que as primeiras medidas
duras de austeridade foram tomadas, a equidade tem sido muito invocada. E bem,
porque todos, independentemente das suas possíveis culpas, devem contribuir
para o resgate de Portugal. Todos, de modo justo e equitativo, porque se algum
dolo existiu oportunamente deverá ser julgado da forma que lhe for própria,
política ou juridicamente.
Foi na base de princípios de
equidade que o Tribunal Constitucional considerou inconstitucional o corte dos
subsídios de férias e de Natal apenas a funcionários públicos e a reformados,
medida que o governo teve de substituir por outra ou outras que garantissem
idêntica arrecadação de receitas ou mesmo mais, porque a "crise" sempre pede mais.
A equitatividade envolve, porém, aspectos
mais dos que correspondem aos salários e seus cortes, porque há benefícios
específicos, salários médios, estabilidade de emprego, regalias especiais e
outros que devem ser consideradas e fazem desta sociedade portuguesa uma manta
de retalhos de situações díspares que, num regime democrático não deviam
existir. Neste aspecto, há entre os trabalhadores públicos e privados enormes
diferenças a considerar, assim como existem, em cargos políticos, benefícios e
regalias que, perante as situações de dificuldade da maioria dos portugueses
não fazem qualquer sentido ou são, mesmo, afrontosos da dignidade humana que
a todos os cidadãos honrados e no pleno uso dos seus direitos deve ser garantida.
Por exemplo, são agressivos da
justiça social alguns dos subsídios, as condições de remuneração e de reforma,
além de outras regalias muito especiais de que os deputados dispõem, especialmente
escandalosos quando se trata dos representantes de um povo sufocado por uma
austeridade cada vez mais severa. Onde estão as condições que lhes permitem avaliar
a dureza de vida daqueles cujos interesses e direitos devem defender no
Parlamento?
São, por demais óbvias as
vantagens de ex-governantes que, apenas porque o foram, têm “valores de mercado”
que muito boa gente bem mais competente não tem. Serão os governantes, sem
qualquer dúvida, os mais competentes deste país? Se, como se diz, pelo fruto se
conhece a árvore, nem me parece que sejam.
São injustificáveis as regalias concedidas
a ex-Presidentes da República que, reformados, jubilados ou seja o que for, não
deviam ter mais do que as que aos cidadãos comuns são devidas e que, em período
de austeridade como o que vivem, lhes pagam com enorme dificuldade. Outra situação
afrontosa que o cada vez maior número de pobres deste país não consegue
entender.
São, inquestionavelmente, excessivos
os custos do Governo, da Assembleia da República e da Presidência da República
que a racionalidade e o pudor deveriam tornar compatíveis com os já muitos
rasteiros rendimentos dos cidadãos em geral.
A crise tornou Portugal num país de meninos de ouro e de meninos de lata que, por isso, a crise não trata de modo equitativo porque, num país que apregoa a igualdade, nem todos são assim tão iguais,
A crise tornou Portugal num país de meninos de ouro e de meninos de lata que, por isso, a crise não trata de modo equitativo porque, num país que apregoa a igualdade, nem todos são assim tão iguais,
Há, obviamente, muitas questões
de equidade que ainda não foram consideradas e o deveriam ser cada vez que se pedem sacrifícios como este "aumento brutal de impostos" que um ministro monocórdico, sem surpresa para ninguém, anunciou.
Por último (e porque não hei-de
preocupar-me com o que me dói) porque pode os Estado reter o que lhe não
pertence nem alguma vez pertenceu, como o são os descontos reais que os
trabalhadores da actividade privada lhe entregaram e deve ser restituído como uma reforma? Onde está a confiança que deveríamos ter na Pessoa de Bem que o Estado devia ser?
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