ACORDO ORTOGRÁFICO

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sábado, 27 de outubro de 2012

QUE ESPERANÇA?


Muito se tem falado no desespero em que esta crise diabólica tem lançado muita gente, na falta de perspectiva para os sacrifícios que fazemos e em como é difícil suportar dores sem a esperança do alívio que ha-de chegar.
Tudo quase se resume numa frase que a Srª Ministra da Justiça terá dito nas Jornadas Parlamentares conjuntas PSD/CDS, uma afirmação que quase diria nem ser preciso faze-la de tão natural que é pois, quem sofre, sempre espera por melhoras. “É preciso dar esperança aos portugueses”, disse ela.
Tem, pois, a ministra toda a razão porque sem esperança o caminho que vamos seguir corre o risco de ser muito desagradável e perigoso, porque será o daquele que, perdida a esperança, tanto se lhe dá...
Admitamos que uma ministra lúcida fez aquela afirmação de boa consciência. E porque não? Mas continua a questão de saber que esperança nos pode dar e quem..
Depois de uns governos absolutamente paranóicos, com atitudes maníacas que só poderiam levar-nos a esta confusão a que chegámos, tive a esperança de que um novo governo nos guiasse por caminhos que nos reconduzissem à realidade da vida que, pelas nossas capacidades e pelo nosso esforço, pudéssemos viver.
E aceitei, sem reclamações, toda aquela austeridade que me afectava, apesar de me sentir inocente de culpas por tanto disparate feito, porque não contribuí, de modo algum, para a loucura que a mania das grandezas instalou na nossa sociedade de novos-ricos perdulários.
Reformei-me com 74 anos e passei a viver de uma reforma que o dinheiro que fui entregando ao estado, ao longo de décadas, me deveria garantir integralmente. Uma atitude simples num “negócio” entre duas partes que se crêem sérias. Eu paguei. O Estado teria de me devolver! Mas não devolve nas condições que acordámos! Corta na minha reforma e volta a cortar e, sei-o bem, nem terá sido esta a última vez que cortou porque o Estado entrou num negócio falido no qual teima em envolver-nos cada vez mais.
Perdi a esperança quando verifiquei que, após um ano, as contas estavam erradas, o abate das gorduras em que todos acreditámos para nos devolver uma vida mais calma era uma ilusão e um novo orçamento não tinha qualquer perspectiva de futuro menos austero. Tudo isto me mostrou que continuávamos por um caminho errado. Outro caminho, mas tão errado quanto o anterior do qual apenas se tornou um natural corolário! Como, talvez, não pudesse deixar de ser pelas condições a que nos obrigaram, dizendo que para sair da bancarrota em que nos puseram.
Tornámo-nos escravos de um mundo que não tem muito mais para nos dar senão, mesmo, a austeridade que também lhe bate à porta mas que, melhor do que nós, ainda conseguem disfarçar, mas que jamais afastarão definitivamente.
Que poderemos pensar de países poderosos com dívidas imensas que nem a produção maciça de dinheiro disfarça, de economias emergentes que todos os dias perdem clientes a quem vender o excesso das porcarias que produzem mesmo com os preços que a desvalorização da moeda permite reduzir, de “mercados” que já quase se não atrevem a emprestar a uns e pagam a outros para lhes guardar o dinheiro?
Tudo me parece um mundo de pernas para o ar.
Os entendidos já gastaram todas as explicações nos disparates que dizem e nós, os pacóvios que lhes dão atenção, continuamos a ser castigados pelos erros que nos levaram a cometer.
Voltámos ao tempo dos exploradores que se arriscavam por caminhos desconhecidos, de onde, tantas vezes, não chegaram a regressar. Ninguém sabe, ao certo, qual o caminho a percorrer, mas todos teimam em seguir na direcção que já mostrou só poder levar ao precipício.
Mas poderá, afinal, haver alguma esperança quando se tem o estúpido desejo de voltar à vida que nos perdeu?

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