Muito se tem falado no desespero
em que esta crise diabólica tem lançado muita gente, na falta de perspectiva
para os sacrifícios que fazemos e em como é difícil suportar dores sem a
esperança do alívio que ha-de chegar.
Tudo quase se resume numa frase
que a Srª Ministra da Justiça terá dito nas Jornadas Parlamentares conjuntas
PSD/CDS, uma afirmação que quase diria nem ser preciso faze-la de tão natural
que é pois, quem sofre, sempre espera por melhoras. “É preciso dar esperança
aos portugueses”, disse ela.
Tem, pois, a ministra toda a
razão porque sem esperança o caminho que vamos seguir corre o risco de ser
muito desagradável e perigoso, porque será o daquele que, perdida a esperança,
tanto se lhe dá...
Admitamos que uma ministra lúcida
fez aquela afirmação de boa consciência. E porque não? Mas continua a questão
de saber que esperança nos pode dar e quem..
Depois de uns governos
absolutamente paranóicos, com atitudes maníacas que só poderiam levar-nos a
esta confusão a que chegámos, tive a esperança de que um novo governo nos guiasse
por caminhos que nos reconduzissem à realidade da vida que, pelas nossas
capacidades e pelo nosso esforço, pudéssemos viver.
E aceitei, sem reclamações, toda
aquela austeridade que me afectava, apesar de me sentir inocente de culpas por
tanto disparate feito, porque não contribuí, de modo algum, para a loucura que
a mania das grandezas instalou na nossa sociedade de novos-ricos perdulários.
Reformei-me com 74 anos e passei
a viver de uma reforma que o dinheiro que fui entregando ao estado, ao longo de
décadas, me deveria garantir integralmente. Uma atitude simples num “negócio”
entre duas partes que se crêem sérias. Eu paguei. O Estado teria de me
devolver! Mas não devolve nas condições que acordámos! Corta na minha reforma e
volta a cortar e, sei-o bem, nem terá sido esta a última vez que cortou porque o
Estado entrou num negócio falido no qual teima em envolver-nos cada vez mais.
Perdi a esperança quando verifiquei
que, após um ano, as contas estavam erradas, o abate das gorduras em que todos
acreditámos para nos devolver uma vida mais calma era uma ilusão e um novo
orçamento não tinha qualquer perspectiva de futuro menos austero. Tudo isto me
mostrou que continuávamos por um caminho errado. Outro caminho, mas tão errado
quanto o anterior do qual apenas se tornou um natural corolário! Como, talvez,
não pudesse deixar de ser pelas condições a que nos obrigaram, dizendo que para
sair da bancarrota em que nos puseram.
Tornámo-nos escravos de um mundo
que não tem muito mais para nos dar senão, mesmo, a austeridade que também lhe
bate à porta mas que, melhor do que nós, ainda conseguem disfarçar, mas que
jamais afastarão definitivamente.
Que poderemos pensar de países
poderosos com dívidas imensas que nem a produção maciça de dinheiro disfarça,
de economias emergentes que todos os dias perdem clientes a quem vender o
excesso das porcarias que produzem mesmo com os preços que a desvalorização da
moeda permite reduzir, de “mercados” que já quase se não atrevem a emprestar a
uns e pagam a outros para lhes guardar o dinheiro?
Tudo me parece um mundo de pernas
para o ar.
Os entendidos já gastaram todas
as explicações nos disparates que dizem e nós, os pacóvios que lhes dão atenção, continuamos a ser castigados pelos erros que nos levaram a cometer.
Voltámos ao tempo dos exploradores
que se arriscavam por caminhos desconhecidos, de onde, tantas vezes, não chegaram
a regressar. Ninguém sabe, ao certo, qual o caminho a percorrer, mas todos
teimam em seguir na direcção que já mostrou só poder levar ao precipício.
Mas poderá, afinal, haver alguma esperança
quando se tem o estúpido desejo de voltar à vida que nos perdeu?
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