Há coisas que impossíveis
de passarem despercebidas. São, como o cheiro do pão quente, impossíveis de
disfarçar.
Assim é o facto que sempre
me fizeram notar de que “bom não é ser
ministro, mas sim ex-ministro”. E prova esta verdade a comparação dos
rendimentos antes e depois do exercício de cargos governativos. De poucas
dezenas de milhares de euros, como é corrente em profissões que exigem elevado
nível de formação académica, passaram a muitas centenas de milhares ou a milhões,
como no milagre da multiplicação dos pães que a Bíblia nos conta! Ou então,
como ouvi Catroga dizer, num momento de humor engraçado, pelo valor que, entretanto, adquiriram no “mercado”.
Há décadas que o governo
me não revela valores extraordinários, daqueles que apetece perguntar “por onde
tens andado?” Não vi, quanto a rasgos de inteligência ou a feitos de notável
valor, muito mais do que pessoas vulgares que fizeram conhecimentos e
compilaram informação ou sei lá que mais que lhe valeu lugares muito generosamente
remunerados. Posso, até, dizer que vi pessoas que, por atitudes e por decisões
que tomaram, me pareceram de curto entendimento e de muito fraco empenhamento
na gestão do bem comum, alcançarem, posteriormente, sucessos financeiros que
uma carreira normal a alguém verdadeiramente sabedor e muito competente jamais proporcionaria.
Há, mesmo, casos em que a
passagem pelo governo não passa de uma desobriga a cumprir rapidamente, bastando
um qualquer pretexto para lhe por fim. Por exemplo, sempre me causou uma tremenda
decepção a tão pronta demissão de Jorge Coelho, ministro do equipamento social
do XIV Governo Constitucional, logo após o gravíssimo acidente da Ponte Hintze
Ribeiro, em Entre-os Rios, deixando sem tutela um processo delicado e
socialmente muito importante porque envolveu a morte de dezenas de pessoas em
circunstâncias que deveriam ter um adequado esclarecimento relativamente às
causas que o proporcionaram, por se tratar de uma infra-estrutura da
responsabilidade do Estado!
E tudo acabou sem que fosse
esclarecida, como deveria, a causa real de tão horrível mas evitável tragédia.
Um ministro responsável tudo faria para que fosse alcançado o total
esclarecimento do que se passou. Só então faria sentido retirar-se!
Por tanta coisa que tenho
visto, não posso deixar de estar ciente de que ser um ministro responsável não
é coisa de que muitos sejam capazes, mas que é coisa que muitos
desejam pelos benefícios que trás. Seja lá pelo que for...
É que, tal como acontece
aos participantes dos degradantes “reality shows” que a TV nos mostra, a vida
de quem por eles passa jamais volta a ser a mesma.
Vi, há pouco tempo, numa
rede social, a informação sobre como subiram em flecha os rendimentos de muitos
que passaram por ministérios e fiquei esclarecido de como se forma o “valor de
mercado” que não é, de todo, aquele de que Portugal necessita para se tornar
melhor.
Foi essa a causa desta
reflexão, pois não encontrei melhor nos filmes de “horrores” ou de “comédia de
mau gosto” que, entretanto, a classe política, comentadores e jornalistas incluídos, vão montando com os episódios dignos de dó que realizam, em condições
que me levam a perguntar por onde andarão a inteligência e o bom senso.
Mas, o oportunismo nota-se bem por onde anda!
Mas, o oportunismo nota-se bem por onde anda!