Se o ditado popular “casa onde não há pão, todos ralham mas ninguém tem razão” precisasse se ser confirmado, eu diria que melhor ocasião não há do que esta em que, cada um pensa ter a sua. Por isso tomamos as atitudes que tomamos, de sobranceria, de reclamação, de confrontos que se tornam cada vez mais agressivos que, nos deixam sem tempo e sem condições para pensar no que deveríamos fazer para por um fim no que nos desagrada e desune!
Vivemos um tempo de mudanças
inevitáveis porque é preciso e urgente tornar viável um país que deixou de o
ser. O mesmo poderia dizer do mundo inteiro!
Não se trata do que a
Troika nos impõe em troca do resgate financeiro que nos fez, mas das mudanças
que nos permitirão viver por nós próprios, num equilíbrio saudável entre o que
produzimos e o que consumimos.
Este é um aspecto simples
da cultura básica que a vida natural nos levou a estabelecer, mas que o
aparecimento de uma entidade nova, os mercados, alterou por completo! Como
poderiam existir os tais mercados que nos sorvem o sangue e as energias se não os
utilizássemos para os excessos que cometemos? Não existiriam e, para existir,
têm de nos convencer de que necessitamos deles para viver. E convenceram, a tal
ponto que nos endividámos de modo a não poder escapar da sua ganância que nos
torna, a cada dia, mais devedores e, por isso, mais de si dependentes.
Disse-me, há muito tempo,
um vendedor que a sua primeira preocupação, quando tentava fazer um novo
cliente, era convencê-lo de que tinha necessidade do seu produto! Depois de
convencido, criava-lhe o hábito de o consumir e, só depois, ele seria o cliente
que lhe engordava a carteira de encomendas e lhe proporcionava o lucro
crescente que ele ambicionava.
Afinal, é mais ou menos o processo
que faz curso no mundo da droga onde, depois de adquirido o hábito, a
dependência é a inevitabilidade que, como todos sabemos, ninguém ainda descobriu
como se anula definitivamente! Assim nos encontramos nestes hábitos de
consumismo que nos conduziram à falência, mas que, desinteligentemente, tudo
fazemos para recuperar. Como os outros “dependentes” fazem também.
E, por isso, me parece
andarmos todos drogados neste mundo que nos não pode dar a droga toda de que
necessitamos para consumir e, por isso, origina as divergências que, mais ainda,
nos arruínam.
E quando as coisas chegam
a este ponto, são difíceis os consensos porque cada um está mais preocupado em
salvaguardar-se do que a proteger a sociedade que vai por maus caminhos.
E cria-se a confusão nas
decisões que devem ser tomadas, nas soluções que devem ser adoptadas. A
verdadeira autoridade, a que se empenharia na defesa do bem comum, não consegue
impor-se aos interesses pessoais, institucionais, partidários ou corporativos que
a sufocam e dispersa-se numa amálgama de “poderes” que fazem e desfazem,
transformando em balbúrdia o que devia ser a ordem de um Estado cujo direito
estivesse em consonância com a realidade e não com os interesses instalados que
lutarão enquanto puderem para não serem destruídos.
Quem decide o que em
Portugal se deve fazer para recuperar uma vida sem os tormentos da escassez e
da dúvida que esta nos dá? O Governo ou todas aquelas formas de controlo
baseadas em princípios não conformes com a realidade que vivemos?
Numa situação em que se tornou
clara a incompatibilidade entre certos direitos que a Constituição consagra e a
realidade que os pode conceder, criou-se o hábito de recorrer ao Tribunal
Constitucional, que se rege pela lei e não pelas circunstâncias reais, para
vetar decisões do Governo ou a outros para as adiarem. Recorre-se às greves que
causam danos desproporcionados e a quem os nem deveria sofrer. Mas pouco
interesse, se algum, eu vejo em recorrer ao esclarecimento cabal do que se
passa na realidade que jamais nos consentirá a “reconquista” do que tão
insistentemente reclamamos, simplesmente porque é impossível, porque a Natureza tem regras que não se podem desprezar sem consequências graves..
Neste mais do que óbvio
conflito entre a realidade natural e a lei que defende as expectativas criadas por um
modo de viver que aquela não consente, quem acabará por vencer?
A resposta é óbvia, mas
resistimos a vê-la! Para nosso mal que continuamos a não ajustar as leis que fazemos às leis naturais às quais, por mais que o tentem, não podem fugir.
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