Há muito que o Natal deixou de ser, para mim, a festa que outrora fora, a festa da família da qual, agora, a sociedade se esquece, porque a família está em extinção sem que, apesar disso, alguém se lembre de uma lei que a proteja dos predadores que a desfazem, uma lei como aquelas que protegem lobos e águias, o lince da Malcata ou até a lagartixa da hera… Sei lá!
Mas da família ninguém se
lembra. Pelo contrário, fazem leis que a banalizam e a desconsideram, a começar
pelo próprio acto que lhe dá origem.
Por isso, celebro o Natal como
uma data importante, a do nascimento de alguém que, filho de Deus como eu sou,
foi digno de ser Homem e pagou com a vida o seu confronto com as hipocrisias
instituídas, os seus apelos ao bem, à justiça, à cooperação entre os Homens, à
tolerância e à virtude. Uma atitude bem diferente daquela dos que mostram a sua força na guerra que conseguem fazer.
É nesta comparação com Ele
que noto a minha fraqueza que é, também, o que me recorda a grandeza ao meu
alcance, porque nada me impede de seguir o seu exemplo, por, com ele, fazer
parte da mesma Humanidade. Mas não tenho a sua força e, por isso, me fico pelos
lugares cinzentos dos que para muito pouco contribuem.
É sempre grande quem
procede como Cristo procedeu, com coragem e com dignidade capaz de confrontar perversos
poderes instituídos. É sempre digno de admiração quem faz o que ele fez e, por
isso, se distinguiu entre todos. Como outros se distinguiram e distinguem
também, em atitudes de amor e de paz que deveriam tomar os lugares das invejas
que geram ódios e são, por isso, os males maiores deste mundo que, infelizmente,
tantas vezes vejo bem retratados nas assembleias daqueles que o povo escolheu como
os melhores para o representar e fazer as leis que descaracterizam o mundo e
vão matando a razão de ser da Humanidade.
Aos poucos, o Natal do
amor, da convivência fraterna, da ajuda e da reconciliação, foi dando lugar
àquele que interessa a uma economia ávida de consumo supérfluo e, por isso, faz
dele um dos momentos altos de manifestação de vitalidade que, apesar de todos
os esforços que faz, mesmo assim não consegue evitar a morte lenta a que está condenada.
A intensidade do Natal já
não se mede tanto pela fraternidade que inspira como pelos milhões que, para as
desobrigas socialmente impostas, se levantam no multibanco.
A economia substituiu a
Humanidade, tal como é o dinheiro, em vez do espírito, que dá dimensão ao homem.
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