Mais uma vez Christine Lagarde, ex-ministra francesa das Finanças e agora Directora do FMI, vem dizer, sem subterfúgios, que o FMI se enganou em relação aos efeitos da austeridade imposta aos países intervencionados, aos quais foram concedidos tempos demasiadamente curtos para os “ajustamentos” necessários. Di-lo numa conferência em Bruxelas, a uma União Europeia nunca disposta a reconhecer tal erro, nem mesmo quando, para evitar males maiores, foi, uma vez ou outra, obrigada a conceder alguma flexibilidade quanto à metas a atingir.
Sendo os países
intervencionados em causa, países da União Europeia, é estranho que seja o FMI
a reconhecer a dureza da austeridade imposta, a dizer que aos países em
dificuldade deveriam ter sido concedidas condições de mais fácil cumprimento,
ao mesmo tempo que a UE rejeita que assim se faça, regida pela batuta de uma
Alemanha a quem, quando disso precisou para se reconstruir, teve todas as facilidades
para o poder fazer!
A acrescentar a tal facto,
há as vantagens que a Alemanha sempre retirou da situação criada que levaram os
mercados, ao mesmo tempo que sobrecarregavam os países em dificuldades, a reduzirem
os juros aos alemães, ao ponto de os tornar negativos!!!
Não pode restar a mínima
dúvida de que a Alemanha retirou benefícios da má situação de outros a quem
continua a não conceder facilidades, apesar de tanto mal que já causou.
A leviandade da UE, ou má
fé da Alemanha se preferirmos, reflecte bem a falta de solidariedade de uma
União particularmente importante para os alemães que, sem ela, se veriam sós perante
as alternativas dos demais membros para estabelecerem laços comerciais e
políticos com outros países, com o poderiam e deveriam ter feito Portugal, a Espanha,
a França, a Inglaterra e outros.
Mas não me parece tarde
demais para tirar conclusões claras de tudo quanto se tem passado, fazendo
delas a base de novos procedimentos, preferíveis a estes em que a Alemanha nos
impõe condições excessivas, bem diferentes das que lhe foram impostas para se reconstruir
depois de terem feito uma guerra que destruiu meio mundo!
Não me parece que seja
possível, com um povo como o é o alemão, fazer seja o que for sem que a
Alemanha imponha o seu domínio, exactamente o mesmo que quiz impor pela força
física em duas guerras mundiais por cujos prejuízos causados ainda deveria
estar a pagar.
Foi curioso ver como
arrefeceram rapidamente os ímpetos de Hollande que prometia fazer valer o peso
da França para equilibrar a prepotência alemã, mas acabou com a sua “linha
Marginot” de novo ultrapassada.
E assim continua a Europa a
ser esta manta de retalhos que a Alemanha vai cosendo a seu belo gosto, desta
vez com métodos afinados por procedimentos próprios do outro lado da cortina de
ferro!
E é agora que Passos
Coelho vem dizer que o plano da Troika estava mal calibrado! Mas quão tarde o
entendeu!
Poucas dúvidas me ficam de
que os resultados finais de uma mudança drástica da vida que as circunstâncias
não permitem perpetuar seriam os mesmos, mas poderíamos ter evitado muito
sofrimento.
Alguma vez os alemães ou
os mercados levaram isso em consideração? Veremos o que lhes acontece.
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