ACORDO ORTOGRÁFICO

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quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

MORREU UM HOMEM BOM



Conheci a África do Sul no tempo do “apartheid” que me causou alguns embaraços quando pela primeira vez, ido de Moçambique, ali me desloquei.
Na fronteira, dirigi-me à alfândega, deixando no carro a mulher e três filhos. Entrei e chocou-me o ar de espanto com que fui olhado, o que me levou a sair de imediato e olhar melhor a porta por onde entrara. A razão é que não reparei que havia, do lado de fora, um letreiro a dizer “não brancos”! Uma distinção a que não estava habituado.
Depois, já na “porta certa”, mostrei os passaportes e perguntei se era preciso vir ali toda a família. Simpaticamente disseram que não, mas ao repararem que a minha mulher havia nascido em Angola mudaram de atitude a lá tive de pedir à família que viesse ter comigo. Porém, logo que saíram, apresentaram-me todas as desculpas pelo equívoco e desejaram-nos uma boa viagem.
Depois dos cerca de 500 quilómetros que percorri até Joanesburgo, enganei-me nos acessos e fui parar ao Soweto, um bairro periférico de “não brancos” onde o ambiente era completamente hostil aos brancos que por ali se aventuravam. Felizmente, depois de uns quantos minutos de profunda intranquilidade, encontrei a Fox Street onde um “branco” me indicou o caminho até ao hotel.
Naturalmente que este ambiente que, pela cor da pele, distinguia de um modo tão brutal os seres humanos e os impedia de uma convivência pacífica, teria um dia de terminar e, porventura, de um modo violento.
Felizmente alguém, Nelson Mandela, líder do movimento anti-apartheid, encarcerado depois de condenado por traição em 1969, passando a ser o prisioneiro 46664, foi libertado em 1990 e negociou de modo pacífico, primeiro com Botha e depois com de Klerk, o fim daquele regime inícuo.
Nas primeiras eleições livres, Mandela é eleito Presidente da República da África do Sul.
Pautou a sua vida e as suas atitudes por um princípio que traduziu numa frase que ficou célebre “ninguém nasce odiando outra pessoa por causa da cor da sua pele, da sua origem ou da sua religião. Para odiar é preciso aprender. E, se podem aprender a odiar, as pessoas também podem aprender a amar”, o que o tornou digno do Prémio Nobel da Paz com que foi agraciado.
Com 95 anos, morreu um Homem bom. Um dos poucos que o mundo tinha, em vez dos muitos de que necessitaria para ser melhor.

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