Conheci a África do Sul no
tempo do “apartheid” que me causou alguns embaraços quando pela primeira vez,
ido de Moçambique, ali me desloquei.
Na fronteira, dirigi-me à
alfândega, deixando no carro a mulher e três filhos. Entrei e chocou-me o ar de
espanto com que fui olhado, o que me levou a sair de imediato e olhar melhor a
porta por onde entrara. A razão é que não reparei que havia, do lado de fora, um
letreiro a dizer “não brancos”! Uma distinção a que não estava habituado.
Depois, já na “porta certa”,
mostrei os passaportes e perguntei se era preciso vir ali toda a família.
Simpaticamente disseram que não, mas ao repararem que a minha mulher havia
nascido em Angola mudaram de atitude a lá tive de pedir à família que viesse
ter comigo. Porém, logo que saíram, apresentaram-me todas as desculpas pelo
equívoco e desejaram-nos uma boa viagem.
Depois dos cerca de 500
quilómetros que percorri até Joanesburgo, enganei-me nos acessos e fui parar ao
Soweto, um bairro periférico de “não brancos” onde o ambiente era completamente
hostil aos brancos que por ali se aventuravam. Felizmente, depois de uns
quantos minutos de profunda intranquilidade, encontrei a Fox Street onde um “branco”
me indicou o caminho até ao hotel.
Naturalmente que este
ambiente que, pela cor da pele, distinguia de um modo tão brutal os seres
humanos e os impedia de uma convivência pacífica, teria um dia de terminar e,
porventura, de um modo violento.
Felizmente alguém, Nelson
Mandela, líder do movimento anti-apartheid, encarcerado depois de
condenado por traição em 1969, passando a ser o prisioneiro 46664, foi
libertado em 1990 e negociou de modo pacífico, primeiro com Botha e depois com
de Klerk, o fim daquele regime inícuo.
Nas primeiras eleições
livres, Mandela é eleito Presidente da República da África do Sul.
Pautou a sua vida e as
suas atitudes por um princípio que traduziu numa frase que ficou célebre “ninguém
nasce odiando outra pessoa por causa da cor da sua pele, da sua origem ou da
sua religião. Para odiar é preciso aprender. E, se podem aprender a odiar, as
pessoas também podem aprender a amar”, o que o tornou digno do Prémio Nobel da
Paz com que foi agraciado.
Com 95 anos, morreu um
Homem bom. Um dos poucos que o mundo tinha, em vez dos muitos de que
necessitaria para ser melhor.
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