Eu posso acreditar em muita coisa. Até que, numa altura como esta, o Pai Natal venha lá do frio, no seu carro puxado por renas e vá deixando, na chaminé de cada um, as prendas que os seus méritos, ao longo do ano, lhe valeram!
Acredito na boa vontade
das pessoas, na sinceridade das suas propostas, no amor que as suas dádivas
querem demonstrar.
Mas não posso esquecer as
muitas vezes que já vi a mesma coisa, fui impulsionado por este desejo de
entrega, por uma vontade sincera de ser melhor e, até mesmo, me senti capaz de
mudar o mundo que vai por maus caminhos. Depois, tudo se esfuma, se perde no
meio das tricas da vida, das ambições e das desgraças que são, afinal, as
coisas correntes do dia a dia.
Mas nada disto impede que,
no próximo ano, eu volte a sentir a mesma coisa, a mesma vontade de distribuir
abraços ternos que a todos façam sentir como os adoro!
Então, porque não hei-de
acreditar numas quantas pessoas que decidem sair do marasmo dos seus queixumes
e da comodidade das suas críticas e opiniões para nos dizerem que estão ali
dispostos, não apenas a falar mas a fazer, a substituir os “incapazes” que nos
governam, dar o seu contributo para uma vida melhor?
Mas, depois, falam-me de
esquerdas e de direitas e acordam-me do sonho bonito que quase já me faziam viver
e caio no chão duro da realidade limitada, da qual, também eles, não são
capazes de sair.
A conversa é sempre a
mesma, invariavelmente redonda, a das terríveis consequências de uma governação
que só nos pode conduzir à desgraça e que, por isso, é preciso substituir por
uma outra que saiba o que faz, que seja capaz de nos fazer regressar aos tempos
da abastança que duras conquistas nos valeram.
Falam dos impostos que
sobem, dos cortes sucessivos, da pobreza que não pára de aumentar, da redução
dos salários, enfim, de toda uma austeridade que, todos sabemos, não nos vai
fazer voltar aos tempos maravilhosos do pão a pataco!
Mas não explicam como
acabarão com tantos males, tal como eu não sei explicar esta boa vontade tão especial
que me assalta nestas alturas, mesmo sabendo que vai durar, apenas, por breves
instantes.
Porque não tenho a força
que julgo sentir, não mudo o mundo. Eles, porque não sabem o que hão-de fazer,
nada mudam também porque o tal crescimento económico que querem promover e dizem
tão necessário para “dar a volta à crise”, está refém dos mais sérios problemas
que, apesar de bem à vista, não conseguem vislumbrar, como não consegue evitar
males bem maiores do que aqueles que já vivemos e se encontra limitado por uma
realidade saturada pelos expedientes saloios dos que pensam poder iludir uma
Natureza que é a que temos… e nada mais.
É mais do que evidente que
a nossa ambição deu o passo maior do que a perna e não é capaz de sair da
posição incómoda em que se colocou. A menos que aceite seguir por outras vias…
Sejam os amigos de Mário
Soares ou de Daniel Oliveira, aqueles que se propõem mudar este modo de viver, terão
de, primeiro, entender melhor a Natureza a que pertencem, em lugar de pensarem
poder continuar a explorá-la para além do que ela pode dar.
Quando ainda era tempo de
olhar o futuro para evitar consequências que eram previsíveis, há mais de
quatro ou cinco dezenas de anos, discutiu-se a “capacidade de suporte do Planeta”,
à qual alguém pôs fim afirmando tratar-se de um falso problema “porque bem antes de a exaurir, o Homem já teria conquistado outros planetas onde
continuaria a sua civilização”!
Hoje não discutimos o
futuro porque não conseguimos sair das agruras de um presente que vivemos envolvidos numa teia de problemas e de equívocos de
onde não somos capazes de sair, porque a Terra continua a ser a única casa que temos.
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