ACORDO ORTOGRÁFICO

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quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

SONHOS DE NATAL?


Eu posso acreditar em muita coisa. Até que, numa altura como esta, o Pai Natal venha lá do frio, no seu carro puxado por renas e vá deixando, na chaminé de cada um, as prendas que os seus méritos, ao longo do ano, lhe valeram!
Acredito na boa vontade das pessoas, na sinceridade das suas propostas, no amor que as suas dádivas querem demonstrar.
Mas não posso esquecer as muitas vezes que já vi a mesma coisa, fui impulsionado por este desejo de entrega, por uma vontade sincera de ser melhor e, até mesmo, me senti capaz de mudar o mundo que vai por maus caminhos. Depois, tudo se esfuma, se perde no meio das tricas da vida, das ambições e das desgraças que são, afinal, as coisas correntes do dia a dia.
Mas nada disto impede que, no próximo ano, eu volte a sentir a mesma coisa, a mesma vontade de distribuir abraços ternos que a todos façam sentir como os adoro!
Então, porque não hei-de acreditar numas quantas pessoas que decidem sair do marasmo dos seus queixumes e da comodidade das suas críticas e opiniões para nos dizerem que estão ali dispostos, não apenas a falar mas a fazer, a substituir os “incapazes” que nos governam, dar o seu contributo para uma vida melhor?
Mas, depois, falam-me de esquerdas e de direitas e acordam-me do sonho bonito que quase já me faziam viver e caio no chão duro da realidade limitada, da qual, também eles, não são capazes de sair.
A conversa é sempre a mesma, invariavelmente redonda, a das terríveis consequências de uma governação que só nos pode conduzir à desgraça e que, por isso, é preciso substituir por uma outra que saiba o que faz, que seja capaz de nos fazer regressar aos tempos da abastança que duras conquistas nos valeram.
Falam dos impostos que sobem, dos cortes sucessivos, da pobreza que não pára de aumentar, da redução dos salários, enfim, de toda uma austeridade que, todos sabemos, não nos vai fazer voltar aos tempos maravilhosos do pão a pataco!
Mas não explicam como acabarão com tantos males, tal como eu não sei explicar esta boa vontade tão especial que me assalta nestas alturas, mesmo sabendo que vai durar, apenas, por breves instantes.
Porque não tenho a força que julgo sentir, não mudo o mundo. Eles, porque não sabem o que hão-de fazer, nada mudam também porque o tal crescimento económico que querem promover e dizem tão necessário para “dar a volta à crise”, está refém dos mais sérios problemas que, apesar de bem à vista, não conseguem vislumbrar, como não consegue evitar males bem maiores do que aqueles que já vivemos e se encontra limitado por uma realidade saturada pelos expedientes saloios dos que pensam poder iludir uma Natureza que é a que temos… e nada mais.
É mais do que evidente que a nossa ambição deu o passo maior do que a perna e não é capaz de sair da posição incómoda em que se colocou. A menos que aceite seguir por outras vias…
Sejam os amigos de Mário Soares ou de Daniel Oliveira, aqueles que se propõem mudar este modo de viver, terão de, primeiro, entender melhor a Natureza a que pertencem, em lugar de pensarem poder continuar a explorá-la para além do que ela pode dar.
Quando ainda era tempo de olhar o futuro para evitar consequências que eram previsíveis, há mais de quatro ou cinco dezenas de anos, discutiu-se a “capacidade de suporte do Planeta”, à qual alguém pôs fim afirmando tratar-se de um falso problema “porque bem antes de a exaurir, o Homem já teria conquistado outros planetas onde continuaria a sua civilização”!
Hoje não discutimos o futuro porque não conseguimos sair das agruras de um presente que vivemos envolvidos numa teia de problemas e de equívocos de onde não somos capazes de sair, porque a Terra continua a ser a única casa que temos.

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