Há circunstâncias em que não adianta tentar puxar para tapar um buraco porque logo, em qualquer lado, outro buraco se destapa. Talvez até maior do que o anterior. É a doença da imaginação curta que muitos parecem ainda desconhecer, mas da qual este governo dá sobejas mostras de sofrer.
Revela-se a cada instante
nesta terra por onde a fartura passou como uma praga de gafanhotos que a deixou
rapada, de um modo que só muito trabalho e a imaginação permitem reconstruir. Trabalho a que poucos estão dispostos e imaginação que quase ninguém parece ter.
Hoje, sem os milhões que
corriam daqui e dali como um maná e sem o crédito que, quase sem o querermos,
nos enchia os bolsos e permitia a loucura de ter mais do que o necessário, senão
mesmo o que nem sequer fazia falta alguma, reclamamos que volte um doce modo de
viver em que o gozo dos proveitos suplantava o dever de produzir.
Esquecemos a labuta do dia
a dia para ter o indispensável e habituámo-nos aos direitos de um emprego em
que os deveres minguam na medida em que as conquistas crescem.
Agora, perante o pouco que
há, a dor da perda é grande e aumenta na medida em que se torna evidente a
impossibilidade de recuperar o que, afinal, não existia!
“Cortar” é a solução que a
mais simplista análise revela necessária quando já nem a simples moderação é
bastante.
Mas há um princípio que
jamais deveria deixar de orientar todas as atitudes e é, sem qualquer
hesitação, o da equidade que leve todos a contribuir sem privilégios ou discriminações
negativas. Mas é evidente como o poder financeiro, político ou sindical
preserva uns, enquanto os mais fracos são espoliados no pouco com que contam.
Uma situação que o TC já
ignorou ao consentir o CES, ao contrário do que a maioria dos
constitucionalistas tinham por certo por ser uma óbvia discriminação e, por
isso, nela o Governo insiste, agora em versão ampliada, para contrabalançar a “injustiça”
que o TC não consentiu, a de corrigir as diferenças entre as pensões que da função pública ou do privado se recebem.
A contribuição especial de
solidariedade (CES) é o princípio infame do desrespeito pelo mais fraco que o
TC jamais deveria ter consentido ou o Governo deveria ter imaginado, escondido
no cínico esgar de um fingido sorriso que afirma não passar de “pedir um pouco
mais aos reformados” para o bem de todos!
Como seria de esperar, a um disparate pode suceder outro ainda pior, o que é próprio da doença que afecta a imaginação.
Como seria de esperar, a um disparate pode suceder outro ainda pior, o que é próprio da doença que afecta a imaginação.
Haverá como confiar nuns
ou nos outros?
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