Tantas vezes, desde muito
novo, ouvi dizer, a propósito de coisas difíceis de terminar, “é como as obras
de Santa Engrácia”!
Nem sabia eu, tão pequeno
que era, que santa seria aquela que ninguém jamais acabava.
Quando o soube, nem sequer
fiquei admirado porque há tanta coisa por acabar neste país e aquela não seria senão
“mais uma”.
O que eu não sabia é que,
um dia, as obras seriam acabadas e a Igreja de Santa Engrácia passaria a ser o
Panteão Nacional destinado a última morada dos “ilustres” deste país.
E lá puseram o Marechal
Carmona e mais este e mais aquele, a Dª Amália Rodrigues e outros mais, mas D
Afonso Henriques continua na Igreja de Santa Cruz, em Coimbra, D Pedro e a sua
Inês permanecem no Mosteiro de Alcobaça, assim como muitos outros, verdadeiramente
ilustres e símbolos de um país multisecular permanecem nos seus dignos lugares
e outros talvez esquecidos, sem que ninguém pense para ali os transladar.
Morreu o Eusébio, sem
dúvida um grande futebolista, e logo o Panteão Nacional foi exigido para ser a
sua última morada, o lugar onde intermináveis filas de turistas, vindos de todo
o mundo, se formariam para venerar o grande herói nacional. E por que não
Salgueiro Maia, um digno Capitão de Abril, como propõe Manuel Alegre? E porque julgo poder ter a minha opinião, também, por que não guardar, desde já, um
lugar para o Ronaldo antes que o Panteão se esgote, o que desejo aconteça
daqui a muitos anos, e repescar outros famosos como foram Alfredo Marceneiro, a
Severa ou Peyroteu? E sei lá quem mais que, por um ou outro mérito, se
distinguiu, gente que, sem qualquer dúvida, merece não ser facilmente esquecida.
Por isso não fico admirado
com a engraçadíssima anedota que ilustra a exigência de uma moribunda que foi “rainha
do baile de finalistas, dois anos seguidos”. Tenho pena de não saber quem é o
autor para o poder citar e prestar-lhe a minha homenagem pela oportunidade de
me fazer rir com muito gosto… ou talvez não.
E para fechar a história,
lembrei-me de que fui eu quem dirigiu a construção do cimbre que permitiu
terminar as obras de Santa Engrácia com aquela bela cúpula que tão bem se
recorta na paisagem de Lisboa. Terei, por isso, direito a que reservem lá um
lugar para mim?
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