Diz a Bíblia que Deus criou o Homem e o colocou no Paraíso onde vivia sem problemas, podendo dispor de tudo quanto desejasse. Mas havia uma excepção, uma árvore, a do conhecimento, cujo fruto nunca deveria ser comido. Ao que Eva não resistiu, convencida pela venenosa serpente que lhe terá dito querer Deus, com isso, que ninguém soubesse tanto como ele! Desafio maior a que Eva não resistiu e incitou Adão a faze-lo também, do que se arrependeu mas já sem tempo para o evitar.
O castigo foi viverem num
mundo onde comeriam “o pão amassado com o suor do rosto”.
Muita verdade estará
contida nas fantasias com que os nossos longínquos antepassados explicavam aquilo que o
seu conhecimento não alcançava. Muito do que se passa parece ser a tradução
real do que textos muito antigos, na sua ingenuidade, pareciam dizer, até a
expulsão do Paraíso que bem pode ser esta crise sem fim que vivemos e nos
obrigará, tudo o indica, a transformar profundamente o modo como vivemos.
É uma mudança que, quase
sem dela darmos conta, está em curso e poucas ou nenhumas novidades nos trará
esta política que continua a não fazer da realidade das coisas o seu meio de
actuação nem procura nela as explicações para as preocupações que os múltiplos
problemas que enfrenta lhe trazem. Pelo contrário, fixa a sua atenção na
pseudo-realidade que criou e insiste gerir o seu mundo irreal segundo as leis
que, para ele, inventou.
Há tanto tempo que é assim
que se esqueceu completamente do mundo real, aquele onde as coisas importantes
para a Humanidade acontecem porque, embora persistindo em viver num mundo de
fantasia, jamais o Homem deixará de ser um Ser da Natureza, em vez do senhor
que dela julgou ser.
Basta reparar nas
“novidades requentadas” que são as grandes notícias do dia a dia, nas quais
sempre se fala da mesma coisa por mais que se tente alterar-lhe o aspecto, nos
problemas que se tenta resolver mas sempre defrontam as mesmas dificuldades
inultrapassáveis sempre que se pensa ter encontrado uma solução, na crise que
deixou de ser um período de correcção dos problemas económico-financeiros que
se vão acumulando entre longos períodos de sucesso, para se tornar num longo
período de problemas que breves momentos de ilusória esperança não conseguem
fazer acabar.
Sucederam-se as propostas
e os falhanços dos sábios que procuraram e julgaram encontrar, em situações do
passado, semelhanças que os inspirassem para resolver os problemas do presente
que, infelizmente, extravasaram o âmbito do domínio em que estão habituados a
mover-se e no qual as suas teorias têm relativa validade. E até os Prémios
Nobel da Economia continuam a ser atribuídos a trabalhos que não ultrapassam os
limites de uma fantasia que a realidade já ultrapassou, continuando a ignorar a
fronteira com o mundo em que se insere, aquele do qual provêm os recursos
escassos que têm alimentado a fogueira em que, excessivamente e segundo as suas
teorias da abundância em que persistem, os queimaram.
Não é, pois, de um
problema de teoria que se trata, mas de uma questão de meio e de condições em
que se aplica.
Está esta “economia de
sucesso” que, arduamente, tentamos recuperar, rodeada por problemas que,
levianamente, criou e lhe cortam as vias para um novo fôlego de expansão de que
necessitaria para se continuar. Refiro-me às questões, numerosas e insuperáveis
a curto prazo que tornam o nosso ambiente cada vez mais hostil ao modo de vida
que adoptámos. E, mesmo assim, não acabamos com os erros que os provocam…
Seria bom que as
levássemos em conta e perdêssemos, de vez, a petulância do quem se julga
permanentemente dominador, para assumir, em vez dela, a humildade de admitir a
insignificância que somos perante um poder maior, o da natureza que nos rege e
não regemos. Só então poderemos viver em harmonia com ela.
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