O “aquecimento global” que a
acumulação de gases de estufa produzidos pela actividade económica está a
acelerar, será causa de profundas alterações que nos obrigarão a uma penosa
adaptação a condições de vida bem mais difíceis.
Poucos, se alguns, serão os domínios
em que os seus efeitos se não farão sentir, com especial intensidade na
agricultura e na saúde, para além dos efeitos dramáticos dos fenómenos meteorológicos
intensos que as mudanças climáticas estão a causar.
A ideia de que certas doenças estão
irradicadas da Europa ou de que aqui os seus vectores de propagação não
encontram as condições propícias ao seu desenvolvimento, pode estar seriamente
comprometida pelo aumento das temperaturas, sendo possível o aparecimento
daquelas agora consideradas como tropicais, entre as quais o regresso da
malária e o aparecimento da dengue, doença da qual o Japão acaba de anunciar o
primeiro caso de transmissão dentro do país. De notar que o Japão se encontra
entre latitudes semelhantes às da Europa.
A transmissão da dengue acontece
a temperaturas elevadas, mais frequentemente entre 30° a 32° C, pelo que se desenvolve
sobretudo em áreas tropicais e subtropicais. A fêmea coloca os ovos em lugares
quentes e húmidos, sendo muito rápido o desenvolvimento do embrião muito
resistente a condições adversas, mesmo de seca durante a qual se pode propagar
a longas distâncias, o que torna difícil a sua irradicação.
Desde o ovo, o mosquito atinge em
menos de 48 horas a fase adulta que lhes permite o acasalamento, o que leva as
fêmeas a alimentarem-se de sangue que contém as proteínas indispensáveis ao
desenvolvimento dos ovos.
A doença é transmitida pela
picada de dois tipos de mosquitos, o Aedes aegypti (que também transmite a
febre amarela) e pelo chamado mosquito tigre (Aedes albopictus). Não se
transmite, pois, entre pessoas como acontece no caso do ébola com que o mundo
está altamente preocupado.
O Aedes aegypti mede menos de um
centímetro, tem aparência inofensiva, tem cor castanha escura ou preta com listras
brancas no corpo e nas pernas. A sua
picada ocorre, normalmente a horas de menos calor ou nas sombras quando o calor
é mais intenso, fora ou dentro de casa. A picada não é dolorosa e não faz
comichão, pelo que o indivíduo se não dá conta de ter sido picado.
Os principais sintomas da dengue são febre aguda repentina
que permanece durante cerca de uma semana, apresentando o infectado dor de
cabeça intensa, dores nas articulações e dores musculares, ao que, quatro a
cinco dias depois se seguem erupções cutâneas.
A dengue não tem tratamento
específico, apenas sintomático, sendo a melhor forma de combate a prevenção que
impeça a reprodução do mosquito.
A dengue é uma doença febril que
pode evoluir para uma fase hemorrágica mais grave com elevado risco de morte e
constitui, segundo a OMS, um dos problemas de saúde pública mais graves do
mundo e que afecta entre 50 a 100 milhões de pessoas anualmente em mais de 100
países de todos os continentes, excepto a Europa.
É esta excepção que está em causa
se as temperaturas globais continuarem a aumentar, como tudo indica que
aconteça.
A conclusão é da equipa liderada
por Paul Hunter, investigador na Universidade de East Anglia, no Reino Unido, e
foi publicada na sexta-feira passada na revista BMC Public Health.
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