ACORDO ORTOGRÁFICO

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sábado, 9 de agosto de 2014

UMA CARTA FORA DO BARALHO

"Não podem ser os mais vulneráveis a pagar os erros dos administradores e dos accionistas. Isso é que é inaceitável. Então agora os administradores cometeram erros e são os trabalhadores que vão pagar, que vão ser os responsáveis?"
Isto foi o que se ouviu de António José Seguro, candidato a futuro Primeiro-Ministro deste país, a propósito do desastre do BES que, como responsável político, não foi capaz de prever e cuja complexidade reduz a um dichote próprio de um sindicalista menor.
Aliás, os políticos, ao contrário do que deveria acontecer, nunca prevêem nada. Nem sequer as consequências de muitos dos actos que praticam. Bem ao contrário, são sempre surpreendidos pelo que acontece sobre o que dizem, depois, umas larachas politicamente oportunas mas sem qualquer réstia de pudor ou de bom senso! Como é o caso.
O desastre do BES aconteceu e Seguro até deveria conhecer, como político que pretende ser, as teias em que se emaranhou o jogo de ambições interesseiras que o originou. Aliás, um passado não muito distante mostrou, como o presente continua a mostrar, como os políticos oportunistas e excessivamente ambiciosos percorrem a rota de sucesso que para o comum mortal seria um caminho de brasas em que queimaria os pés e destruiria a vida.
Haverá sempre um "mexilhão" que a onda leva para que os outros sobrevivam, até que, um dia, seja a sua vez.
Quando a muita gente já cheirava mal o que se passava, quando rumores já se ouviam por tanta coisa que acontecia, fossem carreiras bem sucedidas ou créditos excessivamente generosos que permitiam fantasias a que a realidade agora põe fim, faz algum sentido que haja políticos surpreendidos ainda mais do que eu estou que, naturalmente, não tinha como saber o que se passava?
Nem me passa pela cabeça que Seguro fosse algum dos beneficiados nos jogos de poder que o dinheiro à solta comanda. Mas é, com certeza, um dos que, nesta terra de oportunistas, por aí andam a brincar aos políticos e a ver os comboios passar sem imaginar quem vai lá dentro. Uma carta fora do baralho, por certo.
Aliás, bastará reparar no que os senhores do jogo lhe preparam na insólita atitude de contestação que as regras democráticas não prevêem.
Analisei e voltei a analisar a frase pomposa que, emocionado,  se viu Seguro gritar em mais uma batalha da desesperada guerra que trava para manter o poder que lhe desejam caçar, envolvido por uma pequena multidão que o aplaudia, mas nunca consegui, nem na mais generosa interpretação, ver nela mais do que o chorrilho de disparates que é.
Quando muito, fico a tentar adivinhar como seria que Seguro resolveria um problema que a política, da qual tanto deseja ser figura de proa, criou e pelo qual alguns trabalhadores vão ter de sofrer desagradáveis consequências para que outros possam evitá-las.
Mais importante me pareceria que se apurassem, para além das responsabilidades de quem cometeu os actos que provocaram este terramoto, aqueles que os permitiram e, mais do que isso, os que com eles lucraram.
Mas isso é coisa que não vai acontecer porque a máfia não consente!




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