Esperaria de alguém como
Adriano Moreira que fosse muito mais além das evidências de que falou na sua
grande entrevista conduzida por Edite de Sousa, a maioria das quais reconheço
em absoluto e também maldigo, porque esperava, do seu saber e experiência, não
o retrato de uma realidade execrável mas sim a explicação de como e porque a
ela se chegou.
Tal como ele, dei conta de
como, ao longo de muitas décadas, as coisas mudaram numa sociedade cujo modo de
viver se foi modificando até à perversão de valores que hoje é.
Quando nasci não havia
“mercados” mas os agiotas faziam já carreira. Também não havia Estado Social,
havia a solidariedade que permitia a muitos superar a dureza dos tempos que
viviam. Solidariedade que o Estado Social não tem porque é feito apenas com o
dinheiro que o capitalismo lhe atribui, por interesses de momento e não por
princípios de humanidade. E muitas outras coisas que se foram alterando
profundamente ao longo do tempo e que Adriano Moreira, decerto melhor do que
eu, pode observar dos lugares altos por onde andou.
Seria da razão de ser
destas mudanças que gostaria de o ter ouvido falar. Mudanças que me parecem o
caminho inevitável de uma Humanidade em que o egoísmo e a inveja são os pecados
capitais que a conduzem por caminhos perigosos, dos quais também não falou.
Seria das soluções (se
porventura as há) que gostaria de saber a sua opinião, em vez da sugestão de um
discurso que parece colocar todo o ónus num “neo-liberalismo repressivo” que,
tenho a certeza, os “socialistas” que se seguirão não vão conseguir alterar.
Dar-lhe-ão um outro nome menos agressivo e justificarão a inevitabilidade das suas práticas
com as consequências das do passado recente. Tal como o passado recente o fez pelas
consequências de outro mais distante. São as desculpas de que a alternância se
serve para não mudar nada para além dos interesses que serve.
Em que lugar do mundo
existe esse socialismo humano de que Adriano Moreira falou? Porventura em
algumas pequenas sociedades remotas, desligadas deste mundo cão em que nós
vivemos, enquanto lá não chegar o “progresso” que nos trouxe até aqui.
O próprio Papa Francisco
que tenta implantar, na Igreja, uma postura que faça jus à sua política social
tão apregoada (da qual Adriano Moreira também falou) mas tão mal vivida, não
verá facilitados os seus propósitos neste mundo inquinado por pérfidas
ambições.
Sabe Adriano Moreira que é
este o caminho, porventura irreversível, deste modo capitalista de viver no qual os “princípios” de que fala, tal como a “comunidade de afectos” a que também se
referiu são coisas perdidas numa sociedade onde a transitoriedade e o desafecto
se instalaram em consequência do consumismo por cujo regresso todos esperam
para voltar aos tempos “felizes” da riqueza virtual que conduziu o mundo ao
que hoje é, tal como Adriano Moreira o descreveu, o que me deixa totalmente incrédulo
em relação à “conversão” aos “princípios” que implantariam o “socialismo
humano” e a “doutrina social da Igreja” que relembrou.
É o chover no molhado que
nos mantém constantemente a patinar, quem sabe se deslizando para o abismo!
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