Ontem, em mais uma
daquelas “antenas abertas” que já não escutava há muito tempo, surgiu como tema
a debater o desemprego.
Como seria natural, lá
apareceu um “especialista” que sabe de tudo sobre a matéria” e, obviamente,
catadupas de telefonemas de desempregados, cujo desespero compreendo e lamento,
desbobinando frases feitas e aduzindo as razões que as vozes da “oposição
política” já institucionalizou, mas que não passam do engodo mentiroso com que
lhes fazem crer ter o problema um remédio fácil que, quando poder, lhe darão.
Durante todo o tempo o
problema do desemprego foi reduzido a alguns aspectos estatísticos mal
amanhados, com todos os perigos que a estatística representa quando deste modo
tratada. Ela pode conduzir e tem conduzido aos maiores equívocos porque a
estatística não é uma ciência. Não passa de uma ferramenta de avaliação que,
como qualquer outra, quando mal aplicada conduz a erros clamorosos ou,
simplesmente, a coisa nenhuma.
Quanto ao fenómeno social
gravíssimo que o desemprego é, às suas razões de ser e ao modo de resolver esta
terrível questão humana, nada de importante foi dito. Eu já sabia que
dificilmente iria ouvir, nestes programas de baixa qualidade, alguma coisa que
fizesse luz sobre este tormento social que o capitalismo criou. Mas, apesar
disso, têm o mérito de revelar o nível de percepção das grandes questões do
nosso tempo que, mais uma vez, se revelou demasiadamente baixo para a esperança
de ver surgir uma solução.
De algum modo, a solução
vai aparecendo aos poucos nas iniciativas dos que já entenderam ser a
iniciativa própria, tal como no passado já o fora, a forma de ter, em vez de continuar à espera do que outros possam dar.
O socialismo mal entendido
é mesmo isto mesmo, amaldiçoar o capitalismo para o qual não propõe alternativa e ficar á espera que outros resolvam os problemas que a cada um
compete resolver! Por isso os seus mentores prometem o que nunca darão, o que
até sabem que nunca poderão dar, tornando-se na origem do grande equívoco que,
de tragédia em tragédia, nos conduzirá ao inferno.
Como tudo, como a própria
vida até, o capitalismo teve o seu começo e terá, inevitavelmente, o seu fim
cuja proximidade diversos sintomas revelam. Entre outros, o desemprego é um
deles.
Porque a tecnologia e a
racionalização do trabalho dispensam cada vez mais a intervenção humana, o
funcionalismo público não consegue continuar a ser o asilo dourado dos
desempregados que o capitalismo moderno vai fazendo, a formação superior vai
deixando para cada vez menos pessoas as tarefas que outros não consideram dignas do seu
nível de preparação ou porque se procura a mão de obra mais barata onde quer
que ela se encontre, em mercados de trabalho confinados rareiam as
oportunidades e, por isso, sobejam os desempregados que a actividade económica
dispensou.
É por isso que as
migrações de trabalhadores se tornaram normais nesta economia global onde cada
um procura a sua oportunidade onde julga poder encontra-la.
Mas esquecem os "doutores do desemprego estatístico", por certo de
um modo deliberado, que o desemprego é um problema que se expande nos países capitalistas,
enquanto continua a ser a normalidade na grande maioria daqueles onde a simples
sobrevivência é, só por si, muito difícil. Não dizem que muitos dos nossos emigrantes “altamente
qualificados” apenas encontram, lá fora, oportunidades em tarefas menores que aqui jamais aceitariam executar, nem chamam a atenção para os milhares de
postos de trabalho que, em Portugal, não têm candidatos, em tarefas porventura
socialmente menores mas que terão mesmo de ser executadas, apenas preenchidos
por imigrantes de outros países onde os problemas de desemprego superam os
nossos.
Enfim, mais um programa em
que a apresentadora me pareceu ufana do seu “sucesso” mas que nada mais fez do
que confundir a cada vez que ouvia as reclamações duras dos seus ouvintes.
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