ACORDO ORTOGRÁFICO

O autor dos textos deste jornal declara que NÃO aderiu ao Acordo Ortográfico e, por isso, continua a adoptar o anterior modo de escrever.

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

O DESEMPREGO ESTATÍSTICO

Ontem, em mais uma daquelas “antenas abertas” que já não escutava há muito tempo, surgiu como tema a debater o desemprego.
Como seria natural, lá apareceu um “especialista” que sabe de tudo sobre a matéria” e, obviamente, catadupas de telefonemas de desempregados, cujo desespero compreendo e lamento, desbobinando frases feitas e aduzindo as razões que as vozes da “oposição política” já institucionalizou, mas que não passam do engodo mentiroso com que lhes fazem crer ter o problema um remédio fácil que, quando poder, lhe darão.
Durante todo o tempo o problema do desemprego foi reduzido a alguns aspectos estatísticos mal amanhados, com todos os perigos que a estatística representa quando deste modo tratada. Ela pode conduzir e tem conduzido aos maiores equívocos porque a estatística não é uma ciência. Não passa de uma ferramenta de avaliação que, como qualquer outra, quando mal aplicada conduz a erros clamorosos ou, simplesmente, a coisa nenhuma.
Quanto ao fenómeno social gravíssimo que o desemprego é, às suas razões de ser e ao modo de resolver esta terrível questão humana, nada de importante foi dito. Eu já sabia que dificilmente iria ouvir, nestes programas de baixa qualidade, alguma coisa que fizesse luz sobre este tormento social que o capitalismo criou. Mas, apesar disso, têm o mérito de revelar o nível de percepção das grandes questões do nosso tempo que, mais uma vez, se revelou demasiadamente baixo para a esperança de ver surgir uma solução.
De algum modo, a solução vai aparecendo aos poucos nas iniciativas dos que já entenderam ser a iniciativa própria, tal como no passado já o fora, a forma de ter, em vez de continuar à espera do que outros possam dar.
O socialismo mal entendido é mesmo isto mesmo, amaldiçoar o capitalismo para o qual não propõe alternativa e ficar á espera que outros resolvam os problemas que a cada um compete resolver! Por isso os seus mentores prometem o que nunca darão, o que até sabem que nunca poderão dar, tornando-se na origem do grande equívoco que, de tragédia em tragédia, nos conduzirá ao inferno.
Como tudo, como a própria vida até, o capitalismo teve o seu começo e terá, inevitavelmente, o seu fim cuja proximidade diversos sintomas revelam. Entre outros, o desemprego é um deles.
Porque a tecnologia e a racionalização do trabalho dispensam cada vez mais a intervenção humana, o funcionalismo público não consegue continuar a ser o asilo dourado dos desempregados que o capitalismo moderno vai fazendo, a formação superior vai deixando para cada vez menos pessoas as tarefas que outros não consideram dignas do seu nível de preparação ou porque se procura a mão de obra mais barata onde quer que ela se encontre, em mercados de trabalho confinados rareiam as oportunidades e, por isso, sobejam os desempregados que a actividade económica dispensou.
É por isso que as migrações de trabalhadores se tornaram normais nesta economia global onde cada um procura a sua oportunidade onde julga poder encontra-la.
Mas esquecem os "doutores do desemprego estatístico", por certo de um modo deliberado, que o desemprego é um problema que se expande nos países capitalistas, enquanto continua a ser a normalidade na grande maioria daqueles onde a simples sobrevivência é, só por si, muito difícil. Não dizem que muitos dos nossos emigrantes “altamente qualificados” apenas encontram, lá fora, oportunidades em tarefas menores que aqui jamais aceitariam executar, nem chamam a atenção para os milhares de postos de trabalho que, em Portugal, não têm candidatos, em tarefas porventura socialmente menores mas que terão mesmo de ser executadas, apenas preenchidos por imigrantes de outros países onde os problemas de desemprego superam os nossos.
Enfim, mais um programa em que a apresentadora me pareceu ufana do seu “sucesso” mas que nada mais fez do que confundir a cada vez que ouvia as reclamações duras dos seus ouvintes.

A propósito: porque será que todos os “intelectuais socialistas” agora usam barba e bigode à Marx? Convenientemente aparados, claro está! 


Sem comentários:

Enviar um comentário