A discussão do Orçamento
de Estado na Assembleia da República fez-me lembrar aquelas conversas de café
quando, sem motivos de grande conversa, se fala do tempo.
“Isto é que está um tempo!”
“ Já nem sabemos às
quantas andamos”.
“Coitado do S Pedro, está
velhote e desnorteia-se”…
Enfim, conversas de chacha
que mais não fazem do que preencher o tempo com vulgares lugares comuns que apenas
alimentam uma conversa que não é!
De facto, há conversas que
não dizem nada do muito que há para dizer sobre aquilo de que se fala.
Na AR insiste-se no apelo
a uma Constituição que, quando foi feita, não teve em consideração, porque nem
podia ter, as circunstâncias que hoje obrigam a tomar decisões que, por ser
assim, se podem considerar inconstitucionais. Ou talvez não…
A Oposição insiste nos
discursos da desgraça, invoca o empobrecimento que a austeridade provoca,
recordam os bons tempos dos gastos sem contenção, invoca direitos cujos custos
ninguém assegura nesta situação de exiguidade de meios que é própria de uma
crise a que ninguém parece ser capaz de por um fim.
E à semelhança do que se
faz quando se fala deste tempo que já ninguém entende, em vez de procurar para
tal uma explicação, arranja-se um qualquer S Pedro, velho e desgastado, que já
não sabe o que faz e, assim, se torna o responsável por todas as desgraças que
nos acontecem. Só pode ser o Governo. Nunca quem provocou a tempestade. Certamente!
Anseia-se pelo regresso
aos bons velhos tempos de uma abastança desgastada, desdobram-se os protestos em
apelos que apenas farão mudar aqueles a quem chamar “ladrões” porque o
“empobrecimento” inevitavelmente continuará enquanto, em vez de pensar em
soluções, se reclamam os proveitos que delas possam provir sem o trabalho duro de
as realizar.
Está escolhido o que uma
maioria espera que lhe devolva os direitos que julgam serem seus por natureza,
sem necessidade de qualquer esforço para os garantir. Estão criadas as
condições de uma desilusão maior do que as demais porque mais pobres ainda
ficaremos se nos dermos à leviandade de, como de outras vezes, gastar aquilo
que, de todo, já não temos.
Mas uma coisa inédita
aconteceu e, por isso a realço para memória futura.
O Primeiro Ministro fez a declaração
mais estranha que alguma vez se ouviu em tempos de dura competição política. Apesar da imposição do Tribunal
Constitucional para que sejam repostos os salários da Função Pública em 2016, Passos
Coelho fez a incrível “promessa eleitoral” de tudo fazer para que não seja
assim, por entender não comportarem as finanças portuguesas mais do que uma
reposição ao ritmo de 20% anuais. Aposto que Costa garantirá exactamente o contrário!
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