ACORDO ORTOGRÁFICO

O autor dos textos deste jornal declara que NÃO aderiu ao Acordo Ortográfico e, por isso, continua a adoptar o anterior modo de escrever.

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

PROBLEMAS DE NATALIDADE


Ontem, na Assembleia da República e quando se tratava de falar sobre o Orçamento de Estado acabado de apresentar pela Ministra das Finanças, soou-me a trágico-cómico o pedido da bancada do PSD para “tréguas” no combate partidário para que o país se livre do “abismo demográfico” para onde a baixíssima natalidade o atira. Como se este gravíssimo problema que distorce perigosamente a estrutura etária que inviabilizará, a curto prazo, a solidariedade de que o Estado Social necessita, se resolvesse num clima de pacifismo forçado, em vez de num ambiente de inteligência esclarecida!
As reacções ao pedido foram imediatas e, como seria de esperar, em discursos patéticos, a Oposição pôs no Governo as culpas do que se passa.
Decidi prestar mais cuidada atenção ao repentismo verboso de uma conhecida deputada de “os Verdes”. Contive a racionalidade, fiz tábua rasa da inteligência e deixei-me envolver pela emoção que o seu enérgico e comovente discurso inspirava. No final, apeteceu-me bater-lhe palmas como alguns naquele hemiciclo lhe bateram e como, por certo, o fizeram alguns dos que, como eu, a escutaram numa qualquer emissão de TV!
As críticas ao Governo que, em sua opinião, é o grande causador da baixa natalidade foram firmes, inflamadas, daquelas que não podem deixar dúvidas a quem as escutar. O desemprego, a elevada carga fiscal, os baixos salários e tudo mais que a inevitável contenção financeira implica são, para ela e para a generalidade da Oposição, as causas do problema em nome do qual o PSD pede tréguas, decerto para desviar atenções de mais um Orçamento troikista em que dizem ser evidentes as razões que o agudizam.
Que este pedido não passa de uma farsa é, pois, a conclusão para a qual Heloísa Apolónia não admite contradição.
Obviamente, não me deixaria ficar, para sempre, naquele estado de hibernação mental a que, por momentos, me prestei. Regressado à realidade, em vez de bater palmas senti uma vontade enorme de dizer-lhe para acordar também e, em vez dos discursos inflamados que tantos incautos iludem, prestar atenção à realidade de um fenómeno que é bem distinta daquela que ali pintou.
O decréscimo da natalidade não é, de todo, uma consequência dos três anos de austeridade que, para evitar males maiores, o Governo teve de assumir em troca de um resgate financeiro que leviandades sucessivas obrigaram a pedir. Vem já de longe, de hábitos egoístas que a economia consumista foi gerando, este fenómeno que, desde há muito, põe em risco o valor maior de um país que é o seu povo, os seus hábitos e, mesmo até, as suas virtudes.
Mas quando a memória é curta e são persistentes os interesses que tentam iludir a verdade, resta o recurso ao que, ao longo do tempo, ficou registado em estatísticas que os arrazoados oportunistas não podem perverter, as quais mostram que a natalidade decresceu mesmo quando quase não havia desemprego e todos pensávamos viver num país de abundante riqueza.
Desde o começo da década de sessenta do século passado que a taxa de natalidade decresce em Portugal atingindo, em 2012, o baixíssimo valor de 8,5 nascimentos por cada 1000 habitantes, o segundo mais baixo de toda a União Europeia.
Mas não é este um fenómeno português porque acontece assim em todo o mundo dito “civilizado”. Não passa de uma das várias graves doenças das quais a civilização enferma e põe em risco a própria Humanidade.

Depois de tudo isto apetece-me perguntar: são estes lunáticos que nos representam naquela Assembleia onde, pretensamente, os nossos problemas se resolvem?


Sem comentários:

Enviar um comentário