ACORDO ORTOGRÁFICO

O autor dos textos deste jornal declara que NÃO aderiu ao Acordo Ortográfico e, por isso, continua a adoptar o anterior modo de escrever.

sábado, 4 de outubro de 2014

UM SONHO DE INDEPENDÊNCIA

(Zona velha de Tossa de Mar, um quadro que religiosamente guardo comigo)

Esta batalha entre o governo central espanhol e o governo catalão que insiste num referendo em que os catalães se manifestem sobre se desejam ou não a independência de Espanha, faz-me lembrar as únicas férias que passei na Costa Brava, em Tossa de Mar, uma povoação encantadora, de gente simpática e acolhedora.
Não sei no que dará esta “guerra” que não é de hoje porque já a senti bem quando, há quase 20 anos por ali andei e me fez crer que, algum dia, os catalães reivindicariam o que sentiam ter-lhes sido roubado, o direito de serem um país como já foram no tempo de velho Reino de Aragão.
É por isso que não resisto a registar aqui algo que aconteceu na minha primeira noite em Tossa de Mar.
Depois de instalados, de um banho reparador da fadiga de um voo que fora um tanto conturbado e de um rápido passeio de reconhecimento pelas redondezas, chegou a hora de jantar.
Um dos empregados indicou-nos uma mesa sobre a qual, sorridente, colocou uma bandeira inglesa.
Sem nada dizer, fiz um esgar que ele interpretou como um reparo pelo erro que cometera. E, sempre sorridente, apressou-se a trocar a bandeira, escolhendo, desta vez, uma italiana.
Repetiu-se a cena e, rapidamente, sobre a mesa apareceu uma bandeira francesa que, do mesmo modo, recusei.
O homem arregalou os olhos de espanto e, finalmente, falou: então?
A revelação da nossa nacionalidade portuguesa deixou-o confundido e preocupado porque teve de me dizer que, infelizmente, não tinham uma bandeira portuguesa porque era raro algum português passar por ali, na zona de Mar Menuda.
Disse-me do seu desgosto por não poder colocar na mesa a nossa bandeira, o que lhe daria um enorme prazer porque, afinal, os portugueses eram os melhores aliados dos catalães!
Foi a vez de me mostrar surpreendido, estupidamente surpreendido porque ele acabou por me dizer o que eu já devia saber e, de facto, até sabia mas de que me não lembrara. Não só tinha sido Raínha de Portugal uma aragonesa, a Raínha Santa Isabel, como eram os portugueses quem aliviava os aragoneses na sua luta dura com Castela quando, por estas bandas, os combatíamos também.
Mas estava por resolver a questão da bandeira na mesa para o que sugeri que lá colocasse a da Catalunha.
Entristecido, declarou que também não tinha uma. Mas manifestou a esperança de ali a poder colocar quando, de outra vez que ali voltássemos, a Catalunha já fosse um país livre.
Não sei se voltarei a Tossa de Mar nem se a Catalunha se tornará independente, mas que sinto saudades daquele lugar maravilhoso não posso negar!


Sem comentários:

Enviar um comentário