ACORDO ORTOGRÁFICO

O autor dos textos deste jornal declara que NÃO aderiu ao Acordo Ortográfico e, por isso, continua a adoptar o anterior modo de escrever.

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

DE GANDHI A COSTA

Não consigo entender as vantagens de uma economia “ligada à máquina” que a mantém a vegetar quando, ao fim de tanto tempo de tentativas falhadas para a recuperar, outra conclusão não será possível senão a de que são demasiadamente extensas e irrecuperáveis as lesões causadas por décadas e décadas de loucuras.
Dito assim, parecerá muito longo o tempo das loucuras praticadas que nos fizeram pensar serem inesgotáveis os recursos com que faríamos crescer indefinidamente este negócio de ilusões que preferimos à realidade do que um mundo limitado pode garantir-nos. Mas não passa de um breve instante em que quase já delapidámos o que a Natureza, em muitos milhões de anos, acumulou neste mundo único que é o nosso, sem outra despensa que satisfaça as necessidades que tenhamos.
A tão festejada vitória de Costa, o redentor escolhido por cento e tal mil dos cerca de seis milhões de eleitores portugueses, é bem mais uma prova da falta de entendimento do momento decisivo que vivemos, o qual a realidade nos mostra em factos a que vamos fazendo vista grossa, convencidos de que, como de outras vezes aconteceu, alguém haverá de resolver os problemas que causam porque o crescimento da economia não pode parar sob pena de morrer.
Mas não conseguem ver que a “esta” economia já está morta!
Li, algures, a notícia que os jornais indianos dedicaram grande atenção a este “costal” evento que em Portugal teve lugar, afirmando que aqui nasceu o novo Gandhi!
Eu até poderia entender a necessidade de alguém assim, com determinação e uma mente brilhante que nos livrasse do jugo de uma economia que nos suga o sangue porque, em vez de a todos proporcionar a satisfação das necessidades próprias da vida digna que qualquer ser humano merece viver, apenas a alguns alimenta pelos vícios que nos criam as inutilidades com que nos deslumbra. 
Não é a isto que “Gandhi” Costa se propõe, mas à recuperação da economia consumista e dos "direitos de conquista" que, desiludam-se os optimistas e os esperançados, jamais será o que era! Por impossibilidade física. Mas não apenas, porque outros obstáculos poderosos se levantam no caminho desta economia moribunda que os criou e vai fazendo cada vez mais difíceis de ultrapassar.
Parece que a um estado de negação outro se segue de delírio como o que faz os insolados sedentos ver lagos de fresca água cristalina onde apenas existe a areia tórrida do deserto em que perderam o norte.
Como vamos crescer dentro de uma Europa que decresce? Como iremos enriquecer num mundo cada vez mais pobre? A que pobres venderemos o produto dos grandes investimentos que, porventura, um “mercado” com cada vez menos perspectivas poderá decidir fazer em Portugal?
No final, restar-nos-á aquele espectáculo com o seu quê de degradante, semelhante ao de matilhas que, em círculos quase perfeitos, se regalam cheirando-se uns aos outros.


Sem comentários:

Enviar um comentário