Quando, há muitos anos já,
fui convidado a visitar as obras de construção do túnel sob o Canal da Mancha, dizia-me
um colega inglês que me acompanhou naquela visita, de um modo que quis fazer
parecer brincalhão mas que eu creio não seria tanto assim: “finalmente, a
Europa vai deixar de estar isolada”.
Não lhe achei tanta piada como
a risada que dei faria crer, não porque me tenha sentido alvo de qualquer
chacota, mas pela verdade que poderia haver no que ele dissera.
Passou muito tempo e, de
novo, a separação parece à vista entre um Reino Unido que, muito recentemente,
mostrou que assim deseja continuar e uma Europa onde as divisões continuam
evidentes apesar de toda a “união” que finge querer criar.
Continuam a existir os
mesmos desamores de sempre, aqueles que tantas guerras provocaram. Só ao longo
da minha vida foram duas às quais se convencionou chamar “grandes guerras”
pelos danos enormes que provocaram nos muitos países que nelas se envolveram.
São hoje outras as armas
com as quais se luta, mas são quase as mesmas as guerras que se travam, com a
França a julgar-se protegida por uma frágil “linha marginot”, a Alemanha a
impor a força do seu autoritarismo e a Inglaterra a ser quem vai determinar
para que lado vai pender o fiel de uma balança que não pára de balançar.
A Portugal impõem-se
condições que não pode deixar de cumprir mas que outros, mais poderosos, julgam
ter o direito de não respeitar, mesmo aquelas que, a todos, são impostas. E
porque em vez de um défice de 2,5% que lhe foi imposto para o próximo ano,
Portugal decidiu acrescentá-lo para 2,7%, logo as sinistras troikescas
criaturas nos invadem para controlar o que se passa, sem cuidar de saber o que
com outros acontece!
Por exemplo, é não
cumprindo consecutivamente o défice máximo que a todos é imposto que a França
tenta disfarçar os graves problemas que a afectam, deixando para outros mais
submissos a austeridade que, inevitavelmente, terá de aceitar também, tal como
outros terão de o fazer. Até a própria Alemanha é cada vez menos o papão que a
todos punha em sentido!
E quem sabe se por uns
“míseros” 2.100 milhões de euros com que a Inglaterra se recusa a contribuir
para tapar buracos que outros cavaram, uma bagatela perante os números
gigantescos de que nos habituámos a ouvir falar, não vai ser desfeito o que o
Túnel da Mancha há tantos anos conseguiu: acabar com o “isolamento” da Europa.
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