ACORDO ORTOGRÁFICO

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quarta-feira, 8 de outubro de 2014

A JUSTIÇA QUE OS MERCADOS NÃO CONHECEM

Apesar do muito que nos afasta, tenho muita consideração por Daniel Oliveira cujas crónicas regularmente leio, porque não sou dos que crêem ter sempre razão. Tenho aprendido com ele algumas vezes e, quando tal acontece, consigo melhorar o modo como penso certas coisas. Fico, com isso, a ganhar!
Contudo, raramente, se alguma vez, me refiro ao que o Daniel escreve. Hoje, porém, terei de o fazer por discordar em absoluto da sua afirmação de que “Esta é a melhor forma de vencer o Tratado (orçamental): usando o incumprimento dos outros para também não o cumprirmos nós”.
Até poderia estar de acordo se se tratasse de um jogo em vez de uma coisa tão séria da qual depende o nosso futuro, até o mais próximo, o dos nossos filhos e netos que um simples tratado não regula, porque depende de uma realidade a que o Daniel não prestou, ainda, a atenção que merece.
Para Daniel Oliveira a realidade é outra, é a “dura realidade dos factos” como o é a França dizer a Bruxelas que não vai cumprir o Tratado Orçamental nem este ano nem nos mais próximos e não aquela pela qual o não vai poder cumprir. Esta é a que a Natureza impõe quando excedemos os seus limites, os ciclos de reposição que a Ciência reconhece mas não consegue alterar.
Não sei de que valeria repetir as leviandades que nos levaram ao fracasso, fazendo vista grossa à realidade que nos comanda, preferindo a realidade dos factos que outros criam na esperança de, assim, adiar o inevitável.
Onde iríamos nós conseguir os meios financeiros de que não podemos abdicar se fizéssemos como a França que tem dos mercados uma confiança que Portugal não tem? Não me parece ser de esperar deles uma atitude de compreensão de um princípio de justiça que Daniel de Oliveira reclama quando temos uma dívida quase impagável que a não redução do défice ainda mais agravaria.
É evidente que tudo aponta para que seja cada vez mais difícil cumprir as regras de orçamentação que o bom senso recomenda e que talvez tenhamos de cumprir outras, porventura mais duras do que as que o Tratado Orçamental impõe, até que reconheçamos a necessidade adoptar hábitos de consumo moderados pela escassez que é uma característica inalterável da Natureza a que pertencemos.
Aliás, nesta questão de imitar o que outros porventura façam, é corrente a expressão “ e se ele se atirar a um poço, tu atiras-te também?”


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