Por diversas vezes já escrevi sobre o modo
cada vez mais célere como vamos exaurindo os recursos naturais, de tal modo que,
excedendo cada vez mais os seus ciclos de regeneração, caminhamos
inevitavelmente para a penúria.
Uma questão bem actual, o controlo da pesca
da sardinha no mar ibérico onde a população de sardinhas pescáveis (com mais de
um ano de vida) caiu para níveis demasiadamente baixos, pode ser um bom exemplo
de como o excesso de consumo em que caímos nos torna vulneráveis a carências
futuras.
Desde há alguns anos que sistematicamente se
coloca a questão de quotas de pesca para evitar a extinção de espécies, o que,
apesar de tudo, nem sempre evita o desaparecimento ou quase desaparecimento de
algumas.
No caso da sardinha, o Conselho Internacional para a Exploração do Mar (ICES) considera que
seriam necessários pelo menos, 15 anos de suspensão total da pesca para repor o
stock em níveis aceitáveis.
Ainda que o parecer do ICES não seja
vinculativo, é um indicador que Bruxelas leva em conta na definição de quotas
para cada ano.
Lamento, naturalmente, o desarranjo que tal
situação vai causar aos pescadores, mas o mal está feito e não haverá como
escapar aos seus efeitos que serão bem piores se a realidade não for tida em conta.
Porém, o secretário de Estado das Pescas,
José Apolinário, contesta a validade do parecer do ICES, porque o Conselho
Internacional para a Exploração do Mar não tinha informação atualizada sobre a
população de sardinhas nas zonas do Centro e do Norte do país, quando fez esta
avaliação (?!). Essa informação seguirá dentro de dias e adianta que o
abaixamento excessivo da quantidade de sardinha no mar ibérico não resulta de
excesso de capturas mas das alterações climáticas, já que o esforço de pesca
não tem aumentado nos últimos anos.
É perante isto que a minha perplexidade
explode e me leva a perguntar se essa conclusão me deixaria ou não ainda mais
preocupado.
Além disso, em determinadas condições de decréscimo
da população, ela continuará a decrescer mesmo sem aumentar as capturas, daí
que seja necessário parar por algum tempo até que sejam recuperados níveis que
uma captura moderada permita manter.
Ao longo da minha vida em Lisboa, para onde
vim viver aos 17 anos, já me dei conta de enormes cardumes de sardinha que
penetravam no estuário do Tejo e, junto à margem sul, eram em tal quantidade
que quase se apanhavam à mão. Jornais da altura relataram, claramente, a
situação.
Então ninguém falava em quotas de pesca. Mas
há muito que me dou conta desta questão que evidências confirmam e obrigam a
cuidados para que a espécie se não extinga.
Agora não me parece que haja sardinhas no
estuário do Tejo de onde se afastaram, também, os golfinhos que eu tanto gostava
de ver saltar, por ali, constantemente.
Umas poucas dezenas de anos bastaram para a
abastança se tornasse carência.