Não sou dos que ganham
seja o que for com a “crise” que vivemos. Pelo contrário, vejo a reforma a que
ganhei direito depois de quase 50 anos de descontos, reduzir-se ano após ano.
Vi até, aquilo que jamais pensaria ver: exigirem-me um contributo especial de
solidariedade apenas porque sou reformado, em troca de cinco dezenas de anos de
descontos!
Apesar disso, não cedo à
tentação de me escudar em disparates que poderia dizer como tantos dizem,
apenas porque estou a pagar as consequências de uma situação para a qual não
contribuí porque não fui governante do país e, na minha casa, não contraí
dívidas nem pedi empréstimos para comprar o que não podia. São factos que me
colocam, definitivamente, do lado dos que pagam sem deverem, dos que jejuam sem
ter participado no banquete.
Obviamente que me revolta
a situação a que sou obrigado, mas de nada me adianta reclamar porque faço
parte da sociedade que cometeu os devaneios patetas que nos colocaram na
dependência dos que, ao longo do tempo, emprestaram o dinheiro com o qual tanta
gente se julgou rica, sobretudo os que mais reclamam.
Por isso, ser-me-ia fácil
escrever assim: “um governo deve
governar para o bem do seu povo. Este governo, porém, preocupa-se mais com o
interesse dos credores estrangeiros…”. Foi o que disse um professor de
Direito a quem, pela divulgação que é feita do que disse, todos prestam muita
atenção.
Aliás, esta é uma situação
em que tudo é dito e não feito por juristas e economistas que são quem comenta,
quem governa, quem julga, quem é escutado!
Mas nem tudo o que dizem
está errado. Obviamente!
Assim, concordo em
absoluto com a primeira frase das que transcrevi, porque um governo deve, de facto, governar para o bem do seu povo. Sendo
assim, porque não deveriam ter feito isso os governos que criaram a situação de
grave dívida que agora temos de pagar como mandam a honra, a dignidade e as normas internacionais
que temos de acatar sob pena de ficarmos sós e falidos?
Senhor Professor, é fácil
dizer o que o diz, apelar para a jurisprudência que entender, incluindo o Tribunal Europeu dos Direitos do Homem ou as
Constituições alemã ou portuguesa, porque tal nos não livra das obrigações que assumimos
depois do banquete excessivamente guloso que fizemos!
Deve V Exa ensinar aos
seus alunos que deverão ter o cuidado de evitar os erros que, depois de feitos,
são difíceis de remediar porque, decerto, sabe V Exa que, em justiça de facto,
não há jurisprudência que inocente os que são culpados.
Pela situação de reformado
que tenho, ser-me-ia fácil dar-lhe razão, fazer coro consigo nos protestos
“constitucionais” que por aí proliferam, mas diz-me a razão que não adianta
reclamar o que não posso ter.
Prefiro fazer parte dos
que cumprem os seus deveres cívicos em vez de contribuir, com retórica fácil,
para a desestabilização que dificulta a recuperação, estar entre os que pagam o que têm de
pagar porque me diz a razão que não há jurisprudência que disso me livre.
Como sempre, apenas tenho uma exigência que raramente é cumprida, a de que todos paguem equitativamente e se reponha a justiça na sociedade portuguesa, acabando com os privilégios indevidos que houver, mesmo os que a Constituição consagre.
Como sempre, apenas tenho uma exigência que raramente é cumprida, a de que todos paguem equitativamente e se reponha a justiça na sociedade portuguesa, acabando com os privilégios indevidos que houver, mesmo os que a Constituição consagre.
Sem comentários:
Enviar um comentário