Depois de uns breves dias retirado lá bem no meio das montanhas onde, há muito tempo, nasci,
regressei à bagunça que me desassossega e me faz temer as terríveis
consequências dos muitos disparates que se dizem e se fazem, dos quais a
proximidade de eleições autárquicas é uma ruidosa caixa de ressonância.
Nada, realmente, mudou! Repetem-se
os chavões do 25 de Abril que, infelizmente, ninguém conseguiu transformar na
realidade feliz que todos sonhámos, temos por pauta um Constituição desde
sempre não cumprida em muitos dos seus preceitos mas agora tantas vezes
recordada e invocada nas oportunidades que dão mais jeito, anunciam-se propósitos
que nada ainda justificou e tudo é alvo das mais rebuscadas acusações pelo que
uns ou outros possam, alguma vez, ter feito.
Por isso me não dou conta
de progressos no sentido certo pois, como sensatamente se diz, não adianta
chorar sobre o leite derramado. Pelo contrário, diz a sensatez também, que quando
tal aconteça melhor é que se limpe rapidamente, antes de o cheiro a podre se entranhar
e tornar insuportavelmente fedorento o ambiente!
É isto que me faz lembrar
a política portuguesa quando, a um Governo inexperiente, embora, mas dedicado e
empenhado na sua missão de resgatar Portugal das consequências de tantos
disparates crassos que em anteriores governações se fizeram, faz frente uma
Oposição comprovadamente incapaz, sem ideias que valham a pena porque não têm a
lucidez que a delicada situação exige e as necessidades do país reclamam, nem o
conhecimento de tantas coisas que lhes permitiriam ver como tudo está diferente
e torna as velhas soluções obsoletas.
Por isso, não sei se, em
Portugal, perante as perplexidades que uma situação totalmente diferente apresenta,
haveria algum governo que tivesse a experiência bastante para não errar mais ainda do que este errou e como, aliás, vejo acontecer um pouco por tudo o mundo,
onde a esperança dos que lutam pelo regresso ao passado impossível se sustenta nas
ambições daqueles a quem a mudança inevitável um dia vai tirar o poder que
ainda detêm e, naturalmente, com novos e maiores disparates tentam impedir.
Não são, por certo, razões
de Estado que tenham o bem-estar dos portugueses como sua preocupação
o que faz o PS recusar responsabilizar-se também pelas soluções que permitam
a Portugal ter, de novo, a sua independência económica que anteriores governos,
sobretudo seus, comprometeram, como o demonstra a extemporânea e inqualificável
recusa de aprovar um Orçamento de Estado que desconhece ainda! Eleitoralismo
puro que cada vez mais torna dispensáveis e faz parecer perversos os políticos que
não conseguem ignorar os interesses próprios nem os trocam pelo bem-estar daqueles a quem dizem servir.
Não precisa o Governo de Portugal
de inimigos para além dos que tem em casa, nem Passos Coelho pode contar com a
discrição dos “baronetes” do seu próprio partido na ajuda que a ele e ao país
seria tão benéfica. Dizem-no os ataques sucessivos e despropositados que lhes
são movidos tanto nas tentativas de assalto ao poder como nas propostas
levianas de solução que nunca se sabe quais sejam para além das costumeiras
mezinhas de cuja ineficácia há já provas que bastem.
Para além de tudo, é cada
vez mais gritante o ressabiamento de alguns astros de ribalta que, reduzidos agora
à condição de simples comentadores, constantemente regurgitam o veneno que provém da destilação
do ódio que lhes nasce na alma.
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