ACORDO ORTOGRÁFICO

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domingo, 22 de setembro de 2013

O MODO DE DIZER



Ainda que muito respeite a coragem de Passos Coelho para tentar fazer aquilo que não pode deixar de se feito, no que me parece estar sozinho ou mal acompanhado, desagrada-me o seu discurso frouxo e certinho demais, que coloca verdades indesmentíveis no contexto impróprio, utiliza palavras inadequadas para transmitir uma mensagem oportuna e apresenta propostas invitáveis fora dos momentos certos.
Parece que Passos não compreendeu ainda o que sensibiliza as pessoas a quem um Primeiro-Ministro necessariamente tem de se dirigir, o povo, para quem as palavras têm o significado mais básico que possam ter e não o que a ironia ou um entendimento mais evoluído lhe possam dar. Ainda não compreendeu que não se entusiasma o povo com aulas de economia nem com arrazoados complicados porque entende melhor os discursos simples, objectivos, confiantes e dinamizadores, no que os manobradores de multidões são hábeis como ele não consegue ser. Como ainda não compreendeu que a razão não é bastante para se opor às emoções que a demagogia sempre alimenta.
O discurso de Passos passa mal para a maioria dos cidadãos que não gostam de ouvir falar em “empobrecimento”, mesmo que tal seja a mais pura das verdades à luz de um modo de vida no qual todos se julgavam com direitos que, afinal, não tinham, entre os quais o ilusório direito ao “emprego com direitos” a que breves tempos de suposta abastança habituaram, em vez do “trabalho com riscos” pelo qual, durante milénios, sobreviveram.
Não se mobiliza um povo com a perspectiva de males que ainda estão para vir nem se motiva um país sem um projecto de qualidade de vida pelo qual valha a pena lutar.
Não é nada fácil, nesta sociedade que reclama dos governantes a abastança que recursos limitados não permitem sustentar, se agita e se revolta com a perspectiva da contenção a que a escassez vai obrigar, passar a ideia de felicidade numa vida mais contida, afirmar que a cooperação é indispensável para uma vida de paz e dizer que é necessário trabalhar mesmo para sobreviver. 
Por isso é mais ouvido o que promete a fartura que esbanjamentos passados já não permitem ter, mesmo sabendo que tal não é possível.
É neste domínio de oportunistas interesses restritos que a política se faz, os poderes se disputam e a Humanidade se perde por caminhos que jamais levarão ao futuro.

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