A
idade permite recordações que os mais novos não podem ter e, por
isso talvez, discutem certas coisas e tomam posições sem saberem
muito bem do que falam ou por que falam.
Ainda
me lembro do funcionário público que era aquele que, por ser pouco
ambicioso ou pouco capaz, ficava de fora do mais restritivo e
exigente mervado de trabalho privado onde cada um tinha de dar provas
das suas capacidades para aquilo que tinha de fazer, se quisesse
manter o seu posto de trabalho.
Não cabem aqui as excepções que, apesar de existirem, apenas são a confirmação da regra que a maioria justifica.
Não cabem aqui as excepções que, apesar de existirem, apenas são a confirmação da regra que a maioria justifica.
A
Função Pública era de fácil acesso e nela cabiam todos os que
o mercado de trabalho privado não queria, como se fosse um dever do
Estado garantir trabalho a toda a gente.
Também
eu comecei a minha carreira como engenheiro civil de terceira classe
num organismo público de que fiz trampolim para entrar no LNEC,
então um laboratório de vanguarda em todo o mundo, de onde, mesmo
assim, acabei por saír tentado pelo salário quase duplo que outros
me ofereciam!
Mais
tarde, bem mais tarde, a situação começou a mudar e, de conquista
em conquista, os salários dos funcionários públicos, os pagos por
todos nós, foram superando os privados, bem como lhe foram sendo
acrescentados privilégios que a mais ninguém eram concedidos.
E
de mal pagos, mas com lugar para sempre garantido, com condições de
trabalho em que, como me ensinaram quando cheguei, “nunca niguén
foi condenado por nada fazer”, os funcionários públicos foram
ficando bem pagos, com absoluta segurança no emprego, com serviços
próprios de saúde e outras regalias a que os demais não têm
acesso.
Hoje
são evidentes as consequências destas atitudes do passado. O Estado
tem, digam o que disserem, funcionários a mais a que coresponde uma
despesa que as finanças públicas não comportam, além de ser
notória a diferença entre alguns dos direiros sociais dos
funcionários públicos e dos demais cidadãos.
São
diferenças evidentes que, numa sociedade que tem de controlar melhor
os seus gastos e, para isso, pede grandes sacrifícios aos cidadãos,
não podem ser mantidas, por mais “conquistas dos trabalhadores que
elas sejam”!
O
Tribunal Constitucional não o entende assim, preferindo uma leitura
à letra de uma Constituição ultrapassada no tempo e que, por isso,
transforma numa obrigação do cidadão comum e das empresas, os criadores da riqueza nacional, a garantia de segurança
dos funcionários públicos que a Constituição estabelece.
Só
os incapazes de ver a realidade actual e, mais ainda, de ter alguma
perspectiva do futuro para o qual teremos de nos preparar, não
entendem que as mudanças são inevitáveis e que só pode ter más consequências tentar impedir o que a realidade, fatalmente, acabará por impor.
Tal
como o poder só existe se for aceite (Gandhi), também a Democracia
só existe se for regida por princípios de equidade, de bom senso e
de justiça que não cabem em listas de regras permanentes nem em
Constituições desajustadas, por muito que deles se diga serem os
seus pilares.
Não
sou contra o Tribunal Constitucional. Apenas sou contra a ideia
estúpida de querer manter igual aquilo que deixou de o ser.
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