ACORDO ORTOGRÁFICO

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quarta-feira, 11 de novembro de 2015

À ESPERA DE COSTA



Uns mostram-se muito preocupados, outros auguram desgraças, também há quem dê uma no cravo outra na ferradura porque, na política, é sempre bom estar de bem com Deus e com o diabo e há, naturalmente, os que se regozijam porque a democracia funcionou como desejaram que funcionasse!
Foi assim depois da queda do governo mais curto da História recente de Portugal, aquele que acabou por perder vencendo as eleições, parecendo que, de repente, o país acordou para o que tal facto representa e para os danos que, pelo modo como foi constituído e pelas frágeis bases em que assenta, pode vir a causar.
Foram entrevistadas pessoas que passavam na rua, ouvidos os que gostam de falar nos programas de “canal aberto”, opinaram os opinadores do costume e até se leu o que se diz lá por fora onde há quem pense que estamos a caminho da Grécia.
Não me pus a contar os que falavam deste ou daquele modo para no fim fazer contas, um hábito que o país parecia não ter mas que, agora, todos gostam de fazer em aritméticas fantásticas que deixam o bom senso de parte.
Mas ficou-me, facilmente, a sensação de que uma esmagadora maioria, que uma ou outra excepção contrariava, entendeu o que se passou como um desfecho que não esperava, contrário até ao que quis que fosse o resultado do seu voto, mesmo quando foi o desejo de um protesto que o ditou. Por isso lhes causa muita surpresa a interpretação da vontade do eleitorado feita pelos “vencedores” desta nova forma de interpretar os resultados das eleições que, em boa verdade, a Constituição permite aceitar.
Também eu não posso deixar de aceitar esta Cosntituição, mesmo pensando que não corresponde a uma realidade já tão diversa daquela que a ditou, o que, como se sabe, é contrário ao que uma boa lei deve ser.
Depois do que ouvi no Parlamento ao longo da suposta discussão de um programa de governo previamente rejeitado, entendi que não somos todos iguais na falta de pudor revelado pelos que pouco tinham para dizer e, nem sequer, se saíram bem na “defesa da honra” (como é hábito naquele hemiciclo) quando, numa intervenção ou noutra o tentaram.
Pareceu-me deprimente, mas não ponho de parte outras hipóteses de acabrunhamento ou de falsa sobranceria o que os seus rostos revelavam.  
Arrisco-me, até, a dizer que, aparte o ar de confiança arrogante que Catarina Martins sempre exibiu ao ponto de, no seu discurso, mandar umas indirectas violentas ao PS da “velha alternância”, não dei conta de grandes euforias na parte que diz que “a democracia funcionou” e, por isso, deve tomar o poder.
Eu prefiro conter os receios que não posso deixar de ter pelo enorme erro que este feito histórico me parece ser, arrebanhando os cacos que restaram daqueles em que a minha esperança se desfez, aguardando o passe de magia que, decerto, alguém fará para garantir o céu prometido quando tudo parece conduzir ao inferno!

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