Uns
mostram-se muito preocupados, outros auguram desgraças, também há quem dê uma
no cravo outra na ferradura porque, na política, é sempre bom estar de bem com
Deus e com o diabo e há, naturalmente, os que se regozijam porque a democracia
funcionou como desejaram que funcionasse!
Foi
assim depois da queda do governo mais curto da História recente de Portugal, aquele
que acabou por perder vencendo as eleições, parecendo que, de repente, o país
acordou para o que tal facto representa e para os danos que, pelo modo como foi
constituído e pelas frágeis bases em que assenta, pode vir a causar.
Foram
entrevistadas pessoas que passavam na rua, ouvidos os que gostam de falar nos
programas de “canal aberto”, opinaram os opinadores do costume e até se leu o
que se diz lá por fora onde há quem pense que estamos a caminho da Grécia.
Não
me pus a contar os que falavam deste ou daquele modo para no fim fazer contas,
um hábito que o país parecia não ter mas que, agora, todos gostam de fazer em
aritméticas fantásticas que deixam o bom senso de parte.
Mas
ficou-me, facilmente, a sensação de que uma esmagadora maioria, que uma ou outra
excepção contrariava, entendeu o que se passou como um desfecho que não
esperava, contrário até ao que quis que fosse o resultado do seu voto, mesmo
quando foi o desejo de um protesto que o ditou. Por isso lhes causa muita
surpresa a interpretação da vontade do eleitorado feita pelos “vencedores”
desta nova forma de interpretar os resultados das eleições que, em boa verdade,
a Constituição permite aceitar.
Também
eu não posso deixar de aceitar esta Cosntituição, mesmo pensando que não corresponde
a uma realidade já tão diversa daquela que a ditou, o que, como se sabe, é contrário ao que uma boa lei deve ser.
Depois
do que ouvi no Parlamento ao longo da suposta discussão de um programa de
governo previamente rejeitado, entendi que não somos todos iguais na falta de
pudor revelado pelos que pouco tinham para dizer e, nem sequer, se saíram bem
na “defesa da honra” (como é hábito naquele hemiciclo) quando, numa intervenção
ou noutra o tentaram.
Pareceu-me
deprimente, mas não ponho de parte outras hipóteses de acabrunhamento ou de falsa
sobranceria o que os seus rostos revelavam.
Arrisco-me,
até, a dizer que, aparte o ar de confiança arrogante que Catarina Martins
sempre exibiu ao ponto de, no seu discurso, mandar umas indirectas violentas ao
PS da “velha alternância”, não dei conta de grandes euforias na parte que diz
que “a democracia funcionou” e, por isso, deve tomar o poder.
Eu
prefiro conter os receios que não posso deixar de ter pelo enorme erro que este
feito histórico me parece ser, arrebanhando os cacos que restaram daqueles em
que a minha esperança se desfez, aguardando o passe de magia que, decerto, alguém
fará para garantir o céu prometido quando tudo parece conduzir ao inferno!
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