ACORDO ORTOGRÁFICO

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sábado, 21 de novembro de 2015

UM PASSADO QUE PODE VOLTAR



Naquele tempo, já lá vai muito tempo, os casos de tuberculose eram numerosos.
Muito ao jeito do que, num passado ainda mais longínquo, a lepra o fora, a tuberculose era quase uma doença de proscritos e uma doença temível, muitas vezes a última que muitos tiveram.
Não estava, ainda, disponível, a penicilina que resultara de um acaso numa experiência que Alexander Fleming fazia com estafilococos aureus cuja reprodução um fungo, do tipo penicillium, inibiu. Apenas em 1941 ficou disponível como o primeiro fármaco do tipo antibiótico, a penicilina, capaz de curar doenças infecciosas como a tuberculose o era.
Não tive eu a sorte de estarem disponíveis antibióticos quando, em 1936 tive a minha broncopneumonia de que as tórridas “papas de linhaça” da minha avó e os cuidados intensivos da minha mãe na minha alimentação foram o tratamento que contrariou o diagnóstico médico que preconizava o meu fim. O mais natural então.
A tuberculose obrigava ao recolhimento em sanatórios que se multiplicavam em climas de altitude e, muitas vezes, a cirurgias dolorosíssimas.
Foi na escola primária o meu primeiro contacto com tal doença quando me fizeram o teste da tuberculina e, depois, uma micro-radiografia, cuidados que o Estado disponibilizava a toda a gente através do Instituto de Assistência Nacional aos Tuberculosos (IANT), criado em 1953, a partir da ANT criada pela rainha Dª Amélia, pela Lei de 17 de Agosto se 1899, quando a doença matava quase 400 em cada 100.000 habitantes.
Os esforços feitos fizeram baixar a taxa de modo tão significativo que quase se acreditou na irradicação da doença. O que não é verdade porque, infelizmente, ainda hoje, em Portugal, é da ordem de cerca 20 por cada 100.000 habitantes, mesmo assim uma das mais elevadas da Europa.
Actualmente e a nível mundial, a ameaça da tuberculose aumenta, agravada pelo fenómeno da multirresistência das bactérias aos antibióticos, difícil de controlar devido à extrema escassez de meios nos países mais afectados.
Por excessos, por descuidos cometidos e por práticas erradas no uso de antibióticos, existe um verdadeiro perigo de regresso à era pré-antibióticos, que a descoberta, em criações de animais no sul da China, de um gene que torna todas as bactérias resistentes  ainda mais vem agravar.
Eu não vivi a era das mortandades brutais que, naqueles tempos, as epidemias causavam. Ouvi falar muito da “pneumónica” que tanta gente matou em finais do século XIX e no começo do século XX. Como ouvi falar dos seus efeitos que, lá para os lados onde nasci, fez muitas vítimas, de tal modo que a uma minha tia-avó morreram todos os filhos que tivera!
É um passado que pode voltar porque nem sempre o Homem encontra solução para os problemas que cria.
Infelizmente, os políticos, aqueles nas mãos de quem dizem que depositamos o nosso poder natural para de nós cuidarem, andam damasiadamente ocupados com a conquista do poder e não têm tempo para cuidar do que é mais importante.

 

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