Estou dividido entre o
apoio que tenho manifestado a um governo que tem como missão fundamental recuperar
as finanças do país e o desapontamento que sinto pelas atitudes que manifestam
a falta de sensibilidade social que não olha às dores que causa, em favor dos
resultados que, supostamente, alcança.
As dores estão bem
evidentes na pobreza excessiva e dolorosa que o “programa de ajustamento” criou
e continua a criar, enquanto os resultados me fazem lembrar as sempre longas
esperas por melhores dias durante as quais a um “aperto de cinto” outro se
segue, o túnel longo e escuro onde até a ténue luz de um pirilampo nos faz
pensar que é já o fundo ou um jogo de lotaria em que o mais provável é perder!
Mas pior do que tudo isto
é o estado de espírito que cria uma sensação de desamparo de um povo que não
consegue ver no seu governo quem o defenda contra os vampiros que lhe sugam o
sangue nem quem lhes dê conta das verdadeiras razões daquilo que faz, como
seria seu dever faze-lo.
O Governo deslumbra-se com
as loas com que a Troika o convence de êxitos de que não conseguimos dar conta e com os
louvores à forma disciplinada como cumpre o que lhe é imposto, mas esquece-se das
dores do povo que em si depositou a esperança que, aos poucos, vai perdendo.
O Governo entrou pelo
caminho da mistificação nas explicações que dá, nas afirmações feitas que desmente e nas
perspectivas que aponta. Não se constrói, deste modo, o futuro risonho que,
depois da tormenta, nos prometem, nem a esperança será suporte que possa acalmar a dor causada por tanta austeridade que um hipotético regresso à prosperidade exige.
O drama é que não vejo
alternativas a que possa confiar a esperança da qual já pouca me resta, porque
seriam excessivamente graves as consequências das aventuras em que PCP e BE nos
lançariam e não vejo qual possa ser o caminho que o PS nos propõe quando recusa
intervir nas decisões sobre as reformas de que o equilíbrio futuro não pode
prescindir. Uns fazem o seu trabalho de oposição sistemática e o outro espera a
sua vez na alternância que, mais cedo ou mais tarde, lhe reentregue o poder.
O que será de nós, o
futuro o dirá. Que seja bom, peço a Deus.
Sem comentários:
Enviar um comentário