ACORDO ORTOGRÁFICO

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segunda-feira, 12 de outubro de 2015

O ÓPIO DO POVO



Dizia-se, antigamente, que o regime, então o Estado Novo, distraía o povo com futebol e com Fátima, para que se não desse conta da vida difícil que levava.
O que poderemos dizer hoje, se há mais futebol do que nunca, se se fala mais de futebol do que alguma vez se falou em jornais e nas televisões e as telenovelas e os programas brejeiros não despegam nos programas de alguns canais televisivos?
Parece que foi Fátima quem se perdeu pelo caminho nesta manobra de distrair o povo das desgraças que lhe causam, porventura agora mais recatada e mais conforme com os seus propósitos de santidade.
Decerto que, no “ópio” que “estupidifica” o povo, continua firme o futebol, agora com clubes falidos mas, como parece evidente, muito rentável para fundos, agências de jogo, agentes de jogadores, alguns jogadores mais afortunados e comentadores, tanto quanto o é aquele pozinho branco para os que o traficam e fazem dos que o consomem autênticos párias.
Dias e horas há em que parece não haver um só canal que não fale, horas a fio, da guerra que alguns já movem aos mafiosos que transformaram a diversão que era o futebol numa actividade opaca e de procedimentos estranhos como é próprio das coisas socialmente reprováveis e, pelo que todos podemos ver, num campo de batalha em que os bem instalados no “negócio” rabeiam, esperneiam e maldizem os que lutem por um futebol que volte a ser o desporto/divertimento que era em vez da negociata vil em que se tornou.
O que mais estranho me parece no meio de tanta dissimulação e de tendenciosas “sabedorias” é que, sendo os clubes a razão sem a qual tudo o mais não existiria, se deixam enredar nas negociatas que os exaurem em vez de aproveitarem os valores que geram em proveito próprio, dos seus associados e da própria sociedade!
Não deveria quem de direito, aqueles a quem compete controlar os que, na sociedade, agem em seu desproveito, tomar a iniciativa, já tão atrasada, de meter as coisas na ordem e de fazer regressar o futebol àquilo para que nasceu? Um desporto popular com regras que devem ser cumpridas?
Mas não me parece que haja muita gente a defender a transparência que torna as sociedades justas e disponíveis para o bem-estar para o qual o futebol/desporto poderia contribuir também, mas que o futebol/negócio-escuro completamente impede.
Ou será que dentro dos próprios clubes há quem faça parte da tal máfia que deles se alimenta? Porventura alguém que, sendo o futebol uma fonte de paixões dos adeptos que o seguem, preferem, sem dar muito nas vistas, ir fazendo, à custa deles, os seus negócios?
Inebriado pelas guerrilhas com que o divertem, indiferente às lutas justas que se travem, o povo deixa correr e até toma partido, por agora talvez menos pelos que lutam pela forma certa de fazer as coisas e mais pelos que se batem pelo status quo que serve os seus propósitos pessoais.
Mas, seja “assim ou assado”, as coisas sempre acabam por mudar porque a corrupção também tem limites.
Quais são? Por isso se não pode saber quanto tempo ainda vai durar.


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