Pouco depois de nascer um dos
meus filhos, entrou na clínica uma senhora cuja gravidez estava, visivelmente,
em fim de tempo. Por certo apoquentada por dores, apenas gritava bem alto:
“desisto”! Surpreendido, dei comigo a pensar do que seria que ela desistia se
tinha no ventre uma criança que queria nascer. O parto era inevitável e teria
lugar muito brevemente.
Recordo muitas vezes esta cena em
situações de negação impossível, daquelas em que nada pode já evitá-las.
Portugal está numa dessas
situações em que pouco ou nada poderá ser feito que evite o empobrecimento a
que uma administração descuidada o condenou.
Temos no pescoço uma corda que um
passo em falso pode apertar demasiado, a ponto de nos sufocar.
É uma situação incómoda, difícil
de sustentar, penosa e revoltante que poderia ter sido evitada muito tempo
antes, se não tivesse sido feito aquilo que a provocou. Tal como naquela
gravidez de que a senhora queria desistir!
Está neste momento a discursar,
na Praça do Comércio, um Arménio que afirma haver outros caminhos que não os da
austeridade que o governo português nos impõe. Não indica outras soluções que
não sejam as de sempre, as que penalizam o capital, esse monstro sem pátria que
sempre se escapa quando o querem agarrar.
Não vale a pena insistir em
soluções descabidas, aquelas que ninguém adopta porque são impossíveis de
adoptar para além dos limites em que outros o façam também, porque de nada
serviriam. E a menos que todos os países da zona euro se unam num verdadeiro
esforço de recuperação, não há como fugir desta via que, verdade seja dita,
também não conduz a qualquer paraíso.
Infelizmente, não vejo maneira de
fugir a um triste destino que a nossa má cabeça e uma Europa egoísta nos
impõem.
Revoltam-se os gregos, os
espanhóis e nós também, protestando contra quem governa, em vez de um caloroso
e imenso protesto contra uma Troika que nos obriga a sacrifícios excessivos dos
quais é cada vez mais difícil sermos aliviados.
É essa a enorme manifestação que
falta, uma manifestação que mostre o descontentamento dos portugueses pelos sacrifícios que, do exterior, lhe são impostos, apesar do reconhecimento de que nada voltará a ser com antes, para o que
será necessário que seja feito o esclarecimento completo da situação em
Portugal, na Europa e no Mundo. Isso competirá, sem dúvida, ao governo.
A não ser assim, como cumprirá
Arménio Santos a promessa de que a CGTP não permitirá que os vencimentos sejam reduzidos um
cêntimo que seja! Pagando-os com o dinheiro que já tem garantido ou deixando-nos a todos sem vencimentos, sem pensões, sem nada?
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