ACORDO ORTOGRÁFICO

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sábado, 29 de setembro de 2012

A MANIFESTAÇÃO QUE FALTA



Pouco depois de nascer um dos meus filhos, entrou na clínica uma senhora cuja gravidez estava, visivelmente, em fim de tempo. Por certo apoquentada por dores, apenas gritava bem alto: “desisto”! Surpreendido, dei comigo a pensar do que seria que ela desistia se tinha no ventre uma criança que queria nascer. O parto era inevitável e teria lugar muito brevemente.
Recordo muitas vezes esta cena em situações de negação impossível, daquelas em que nada pode já evitá-las.
Portugal está numa dessas situações em que pouco ou nada poderá ser feito que evite o empobrecimento a que uma administração descuidada o condenou.
Temos no pescoço uma corda que um passo em falso pode apertar demasiado, a ponto de nos sufocar.
É uma situação incómoda, difícil de sustentar, penosa e revoltante que poderia ter sido evitada muito tempo antes, se não tivesse sido feito aquilo que a provocou. Tal como naquela gravidez de que a senhora queria desistir!
Está neste momento a discursar, na Praça do Comércio, um Arménio que afirma haver outros caminhos que não os da austeridade que o governo português nos impõe. Não indica outras soluções que não sejam as de sempre, as que penalizam o capital, esse monstro sem pátria que sempre se escapa quando o querem agarrar.
Não vale a pena insistir em soluções descabidas, aquelas que ninguém adopta porque são impossíveis de adoptar para além dos limites em que outros o façam também, porque de nada serviriam. E a menos que todos os países da zona euro se unam num verdadeiro esforço de recuperação, não há como fugir desta via que, verdade seja dita, também não conduz a qualquer paraíso.
Infelizmente, não vejo maneira de fugir a um triste destino que a nossa má cabeça e uma Europa egoísta nos impõem.
Revoltam-se os gregos, os espanhóis e nós também, protestando contra quem governa, em vez de um caloroso e imenso protesto contra uma Troika que nos obriga a sacrifícios excessivos dos quais é cada vez mais difícil sermos aliviados.
É essa a enorme manifestação que falta, uma manifestação que mostre o descontentamento dos portugueses pelos sacrifícios que, do exterior, lhe são impostos, apesar do reconhecimento de que nada voltará a ser com antes, para o que será necessário que seja feito o esclarecimento completo da situação em Portugal, na Europa e no Mundo. Isso competirá, sem dúvida, ao governo.
A não ser assim, como cumprirá Arménio Santos a promessa de que a CGTP não permitirá que os vencimentos sejam reduzidos um cêntimo que seja! Pagando-os com o dinheiro que já tem garantido ou deixando-nos a todos sem vencimentos, sem pensões, sem nada?

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