Esta foi a grande mensagem do
povo em dezenas de manifestações muito participadas e pacíficas, não
organizadas por profissionais da política! Foi uma manifestação genuína, ditada
por um sentimento profundo que, num só grito, juntou a angústia, o medo e o
desespero que, dia a dia, nos vai tornando numa sociedade infeliz e revoltada.
A mensagem transmitida foi, pelos
muitos milhares dos que percorreram as ruas, além de muitos outros personagens que,
de todos os quadrantes políticos e da “concertação social”, manifestaram a sua
discordância das medidas anunciadas, uma expressão significativa, quase um
referendo ao qual os órgãos de poder não podem deixar de reconhecer o valor de
uma ordenação, daquelas que, em democracia, manifestam a vontade que,
ordeiramente, o povo tem o direito de expressar. Porque o poder lhe pertence!
É este, sem dúvida, um momento
difícil para o país, um momento em que se impõem decisões que nunca serão
agradáveis pela situação financeira a que tantos disparates nos conduziram.
A bancarrota continua a ameaçar o
futuro de um povo que, mal orientado por quem tinha o dever de o governar, cometeu,
ele também, o erro de muitos excessos. A decisão que, em sede orçamental possa
ser tomada, nunca será agradável. As medidas que, porventura, substituam as
que, agora, repudiamos, sempre sairão de alternativas entre as quais, como
também o povo diz “venha o diabo e escolha”! Tudo isto porque não foi
atempadamente feito o trabalho de reestruturação que, há muito, é necessário.
O mesmo me apetece dizer, de um
modo geral, das alternativas que o nosso espectro político nos oferece, pois
tudo o que deles oiço, nem me convence nem é o que a realidade, quando atentamente
observada, sugere.
Continuam amarrados a ideias que,
mesmo quando dizem ser das mais modernas correntes da Economia, não passam de
velhas teorias que foram, há muito, ultrapassadas por uma realidade que os
modelos económicos que adoptam não levam em conta. Por isso os resultados
deixaram de parecer certos quando a escassez de meios deixou de permitir os
acertos periódicos, cada vez maiores e mais frequentes, a que o mau caminho
escolhido obrigava. Agora apenas temos em frente o mau caminho. Quem sabe por quanto tempo mais. A mudança de rumo para um caminho melhor, deixou de depender dos economistas incapazes de o alterar, para depender do entendimento que tenhamos de uma realidade que nos sugere outros caminhos.
Infelizmente, não é viável a um
país isolado, seja ele qual for, percorrer sozinho o caminho certo, porque este apenas
pode ser o caminho comum de um mundo que deixou de ter fronteiras que separem o
Ambiente para o fazerem bom para uns e mau para outros. A não mudarmos de
atitude, passará a ser cada vez pior para todos.
É cada vez mais pequeno este
barco em que todos navegamos e são cada vez menos os recursos que nele dispomos
para sobreviver.
É estranho como o Homem que tão
bem conhece a exiguidade a que por muitas vezes já foi sujeito, em guerras e em
cataclismos, tal como conhece a solidariedade com que a combateu, não reconhece
este como o momento de por em prática os princípios da sobrevivência que
conhece!
Serão cada vez mais numerosas as
manifestações de insatisfação e cada vez menores as possibilidades de lhes
corresponder sem reconhecer que medidas bem diversas das tradicionais terão de
ser adoptadas e, sobretudo, que teremos de aprender a viver apenas com o que
tivermos.
O caminho que seguimos é o da
ruína porque ainda não compreendemos que não há maneira de repor o fausto que a
estupidez nos fez crer estar ao nosso alcance. O caminho que prosseguimos é o
da infelicidade porque ainda não entendemos não poder desejar o que não está ao
nosso alcance.
Seja como for, alguma mudança
política se impõe. Mas que não seja a de uma ruptura contundente à qual não
resistiríamos.
Que seja a que os homens bons e
dignos deste país possam fazer. Que seja a que é própria de um povo que tem, no
inferno em que estamos quase a cair, a oportunidade de mostrar ao mundo novos
caminhos, tal como outrora, conduzido por homens sábios, já foi capaz de o
fazer.
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