ACORDO ORTOGRÁFICO

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segunda-feira, 10 de setembro de 2012

O SENHOR DOS PASSOS



Escutei a comunicação que Passos fez ao país para anunciar as medidas alternativas àquelas que o Tribunal Constitucional havia decretado inconstitucionais, a atitude mal pensada que despoletou toda esta bagunça!
Ficou para mim claro que a intenção de Passos não foi além disso mesmo, anunciar as medidas de substituição, as quais sabíamos que teriam de ser tomadas e no que se não poderia esperar muito mais do que o que foi anunciado.
Foi evidente para mim que outras medidas também necessárias, sobretudo as que dizem respeito à derrapagem orçamental que compromete a meta do “défice” fixado para este ano, terão de ser tomadas também e, naturalmente, anunciadas a este país sobre brasas pelas consequências da austeridade a que o obrigam. Se deveriam ter sido anunciadas em conjunto com estas ou não, não vou aqui discutir, pois até talvez ainda não estejam decididas, pois as negociações com a Troika são decisivas nesta questão. Então deveriam estas medidas de substituição ter esperado para serem anunciadas? Penso que não necessariamente porque se trata de coisas diferentes. Mas cada um sente o que sente e nem todos vivemos esta luta difícil com os mesmos níveis de ansiedade.
Para além disso, os “comentadores” sempre têm necessidade de encontrar razões para criticar negativamente, para mostrar como eles é que saberiam como fazer porque, sem isso, perde razão de ser a sua existência e lá se vão os proveitos que os seus dons de oratória e a sagacidade brejeira lhes granjeiam.
O anúncio de Passos foi para mim, um cidadão daqueles que continua a ver cortados os subsídios de férias e de Natal que parecia que o TC me havia reposto por serem inconstitucionais, uma daquelas coisas esperadas que, apesar de dolorosas, não podem deixar de ser feitas. Mas para muito analistas (como Marcelo Rebelo de Sousa, por exemplo) foi a oportunidade pela qual esperavam para se juntar ao coro de D Januário, de Otelo e de Jardim que, parece-me, começa a ganhar foros de “movimento nacional”.
É óbvio que outras medidas terão de ser tomadas e anunciadas. Eu, pelo menos, já espero por elas, as tais que os recalcitrantes dizem ter faltado.
Apesar de não ter contribuído para a "crise" com gastos excessivos nem endividamentos de novo rico que muitos gostariam de voltar a julgar que são, sei que tenho de aceitar este azar que me bateu à porta neste país de desgovernados.
Enfim, não vou discutir questões de oportunidade de anúncios de medidas quando sei que a “chaga” continua aberta e vai continuar a doer, digam os “espertos” o que disserem, sejam os governantes quais forem. Nem que seja o sábio Marcelo a governar, uma via política na qual nem conseguiu ser bem sucedido. A via grega está aí! É pena que a sigamos em vez das que a Irlanda e a Islândia adoptaram com mais sucesso.
Há quem veja na Democracia o mesmo que outros viam no Livro Verde de Komheini ou no Livro Vermelho de Mao, a solução de todos os males. De facto, todos têm algo em comum, a presunção de que não é preciso pensar porque é bastante o que neles esteja escrito, nem que sejam disparates.
Senão digam-me, que sentido faz falar de constitucionalidade quando a casa está a arder? Ora, todos sabemos que, em tempo de guerra se não limpam armas nem se fala de direitos que as condições não podem garantir.
Ainda não entenderam que as coisas jamais voltarão a ser como dantes? Ainda se não deram conta que as “leis” das ciências que inventaram – sejam as políticas, as económicas ou de direito – perderam muitos dos seus campos de aplicação e que apenas uma solução nos resta que, como o povo diz, é “pegar o toiro pelos cornos” se não queremos correr o risco de ser colhidos? Talvez então nunca mais consigam aprender.
Quanto a Passos, não me parece que esteja a revelar aquela “esperteza saloia” que os políticos usam, a arte e a manha com que, diz também o povo, se mete a tranca no cu da aranha. Mas é uma tarefa inútil a sua, a de tentar governar um ninho de vespas. Além de me parecerem perfeitamente inúteis os esforços para recuperar o que não se pode recuperar.
Por isso hoje lhe chamo apenas Passos, talvez o Senhor dos Passos que teve de conduzir, às costas, a cruz em que foi crucificado.

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