Referindo-se às manifestações
populares contra a austeridade, Passos Coelho disse na Assembleia da República,
durante o debate quinzenal, que “não somos cegos nem surdos. Certamente não
seremos mudos perante as dificuldades do país”, acrescentando que “é importante
que os portugueses saibam que já é reconhecido lá fora, vale a pena explicar
agora cá dentro por que razão é preciso continuar”.
Referindo-se à negociações com a
Troika, o Primeiro-Ministro classificou-as como muito duras para poder
flexibilizar as metas do défice, tal como foi conseguido. Realçou não poder ser
inutilizado o “esforço colossal” que o país já fez, o que acontecerá se desistirmos dos nossos intentos de recuperar Portugal.
Quanto à necessidade de
flexibilização de metas em consequência das derrapagens que o Orçamento 2012
sofreu, Passos Coelho afirmou que “há dificuldades acrescidas que não foram
antecipadas. Não se pode antecipar tudo”.
É verdade que a futurologia que à governação se exige, não é adivinhação. Mas que a crise se alastraria a outros países, tal como a outros ainda se vai alastrar, só não era previsível para os que crêem nada ter mudado, nem as regras em que se baseia em "procedimentos económicos" aos quais a realidade já retirou sentido.
É verdade que a futurologia que à governação se exige, não é adivinhação. Mas que a crise se alastraria a outros países, tal como a outros ainda se vai alastrar, só não era previsível para os que crêem nada ter mudado, nem as regras em que se baseia em "procedimentos económicos" aos quais a realidade já retirou sentido.
Sem retirar uma vírgula às
críticas que fiz a esta governação, em especial a de não terem agilizado as
reformas estruturais de modo a alcançar resultados que evitassem castigar ainda
mais os já mais castigados até aqui, com prejuízos dos quais já nada os compensará,
é bom saber que, finalmente, o governo entende ser necessário um esclarecimento
que mobilize os portugueses para a árdua tarefa de recuperar o país. De facto,
apenas mercenários se esforçam sem saber porque, desde que lhes paguem.
Até posso admitir uma certa
discrição, a falta de informação de que o governo tem sido culpado porque, como
todos sabem, o segredo é a alma do negócio. Enquanto as oposições clamavam por
negociações para dilatar prazos, era missão do governo não o fazer senão no
momento oportuno, antes de possuir créditos que pudesse fazer valer, sob pena
de não ser bem sucedido.
Todos, mais ou menos, sentíamos
que tal acabaria por ser necessário, alguns até o clamavam bem alto, as
oposições e outros que sempre querem dar nas vistas, mas que, apesar disso, não
podem reclamar os créditos de uma antecipação ou de uma visão melhor do que a
do governo. Foi esta vantagem que Seguro, em meu parecer o grande perdedor nos resultados
da recente sondagem, tentou obter quando pretende fazer ver ao Primeiro-Ministro que tinha razão há muito tempo.
Entendo que não pode haver
críticas eternas, quer porque os criticados podem, reconhecendo o valor da
crítica, introduzir as correcções necessárias, quer porque as críticas perdem
razão de ser se consentirmos, indefinidamente, na situação que as justifica.
Numa democracia esclarecida só pode ser assim. Ouso, até, afirmar que tem de ser assim.
Creio que, ouvindo o povo como se
propõe ouvir, o governo corrigirá os erros que levou tantos a criticá-lo e,
esclarecendo, finalmente, as razões dos seus procedimentos, o governo poderá
mobilizar os portugueses, como é indispensável que aconteça. Desde que neles faça nascer uma esperança razoável.
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