Qualquer dia (já nem sei há
quantos anos dura esta situação a que chamam “crise”) será insuportável ouvir
as opiniões que se tornaram lugares comuns enfadonhos, sobretudo este de que “diminuem
os rendimentos e, em consequência, reduz-se o consumo e a economia não cresce”!
Será que não sabem dizer mais
nada, talvez alguma coisa diferente que explicasse porque as receitas do
costume não funcionam? Nem inteligente se precisa ser para, perante evidências
claras, se concluir que as receitas ficaram desactualizadas, por alguma razão
não funcionam.
Os economistas que a ânsia do
crescimento económico transformou em mentores de garimpeiros de uma nova
corrida ao ouro que acabou nas desgraças que vivemos,às quais se seguirão outras talvez mais graves que nos esperam, tornaram-se
monocórdicos no que dizem, demasiadamente previsíveis no que fazem e
sistematicamente mal sucedidos nas suas tentativas de superar a andaço que, em
vez disso, se vai tornando uma epidemia mortal.
Quantos Prémios Nobel da Economia
a realidade já desmentiu nestes últimos anos que vivemos? Haverá melhor prova
do falhanço de uma “ciência” que em vez de resolver problemas os cria? Não
seria melhor reconhecê-lo e começar de novo a caminhada que, supostamente, nos
reconduzirá ao “paraíso”? Este deve ficar exactamente no lado oposto deste
inferno em que caímos, desta situação desesperante que nos não consente sonhar
o futuro e só nos pode preocupar pela a vida que os vindouros terão de viver,
talvez comendo “o pão que o diabo amassou” porque nós não quisemos amassá-lo
com o suor do nosso rosto!
Esta questão das receitas faz-me
recordar uma anedota muito antiga vivida numa pequena aldeia onde o “João
Semana” lá do sítio se viu a braços com um surto de pneumonia e tinha como “doentes”
um sapateiro e um alfaiate. Ambos estavam muito mal. As mesinhas do costume não
produziam qualquer efeito. Um desespero! Mas naquele dia, na visita diária aos
seus doentes, o clínico reparou em evidentes melhoras do sapateiro e logo lhe
perguntou o que fizera. O homem confessou-lhe, com o medo de quem sabia não ter seguido os sábios conselhos, que lhe tinha cheirado aos carapaus
fritos que a mulher cozinhara para o jantar e ele não pudera comer por estar
doente. Não resistiu à gula e, a meio da noite, enquanto a mulher dormia, foi à
cozinha e comeu todos os que ainda havia no tacho.
Na sua agenda o médico anotou “
para pneumonia, carapaus fritos”.
Logo de seguida, passa em casa do
seu outro doente e diz para a mulher “dê-lhe carapaus fritos e verá como ele
melhora”.
Assim fez a mulher que, a meio da
noite, teve de chamar o doutor porque o marido piorara. E foi já na frente dele
que não sabia o que mais fazer, que o doente se finou.
Na sua agenda o médico anotou “carapaus
fritos curam pneumonias de sapateiros, mas para alfaiates não prestam”.
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