Parece-me uma aberração,
mas verdade é que ainda há quem, como Soares que, tal como Sócrates,
ultrapassou os limites das nossas capacidades financeiras, abrindo brechas que
o FMI depois tapou, considere ser a revolta a luta certa nestas circunstâncias
de ruptura financeira grave em que a ajuda externa tem de suprir a falta dos
recursos que, imprudentemente, foram esbanjados!
Parece-me irracional que
se pense que o Governo exerça sobre o povo, por qualquer tipo de vingança, as
“sevícias” que tantos vanguardistas lhe atribuem, porque, a menos uma incurável
doença de loucura, ninguém bateria tão forte na própria cabeça. Que poderia
fazer bem melhor, eu não tenho qualquer dúvida, sobretudo se tivesse a noção do
que o futuro pode ser. Mas não tem, como, infelizmente, outros a não têm,
também. Mas que tem feito o que, numa situação de fraqueza absoluta, lhe é
imposto que faça por quem lhe faculta os meios para os seus gastos e tem
seguido o que os equívocos dos “gurus” da economia têm por remédio, também é verdade.
Apenas sinto, pelo que
conheço da realidade, que pode perder as esperanças quem pense dê bom resultado
fazer como antes se fazia e que se espere alcançar o que antes se alcançava
porque quando estiverem esgotadas as reservas que milhões de anos acumularam, restar-nos-á
o que, dia a dia, nos é dado. E, com isso, a "economia crescente" não se conforma.
Depois de tanta
discussão, ainda me não apercebi das virtudes das “alternativas” que são
sugeridas a este “pacto de agressão” ou “espiral recessiva”, sejam as que se
baseiam no que outros nos possam permitir fazer, sejam as “contas de
mercearia” que tapam uns buracos destapando outros, sejam as que se baseiam no
sonante mas ineficaz “não pagamos”.
E continuo a não perceber, porque do céu
não cai feito aquilo que, com as nossas mãos, a Natureza nos condenou a fazer, a razão de continuarmos a falar nos direitos do trabalho e não de como ele cada vez
mais necessário.
Que os ambiciosos pelo
poder queiram passar a ideia de hipotéticas farturas que a sua governação nos
traria,o que não pode deixar de fazer eco na alma de quem sofre a míngua, eu
entendo. Mas que quem sofre, porque não pensa ou não ouve a razão, se disponha a sofrer ainda mais por
conta de falsas promessas ditadas por ambições alheias, já não está ao meu
alcance compreender.
Eu penso que o melhor ao
nosso alcance será o inteligente e integral aproveitamento dos recursos de que
dispomos.
Em Portugal, a confirmação da desertificação progressiva do Interior
que significa o desperdício de muita da riqueza que nele se possa gerar, é o
contrário do que se deveria fazer para minimizar a austeridade a que nos vemos
obrigados.
Mas, por isso, qual é a luta que sai à rua?