Por vezes, alguém se lembra de citar aqui na net Eça ou Pessoa que, nos seus tempos, foram capazes de dizer coisas que ainda hoje são actuais.
Hoje alguém se lembrou de
que, nas suas “Farpas”(*), Eça comparou, em 1872, a Grécia com Portugal dizendo
que "Nós estamos num estado comparável apenas à Grécia: a mesma pobreza,
a mesma indignidade política, a mesma trapalhada económica, a mesmo baixeza de
carácter, a mesma decadência de espírito. Nos livros estrangeiros, nas revistas
quando se fala num país caótico e que pela sua decadência progressiva, poderá
vir a ser riscado do mapa da Europa, citam-se em paralelo, a Grécia e
Portugal".
Recordou,
também, como Eça descreveu brilhantemente, como era seu timbre fazer, o que
mais de um milhar de anos antes se conta que um general romano(**), de um modo mais brusco dissera: “Diz-se geralmente que, em Portugal, o
público tem ideia de que o Governo deve fazer tudo, pensar em tudo, iniciar
tudo: tira-se daqui a conclusão que somos um povo sem poderes iniciadores, bons
para ser tutelados, indignos de uma larga liberdade, e inaptos para a
independência. A nossa ,pobreza relativa é atribuída a este hábito político e
social de depender para tudo do Governo, e de volver constantemente as mãos e
os olhos para ele como para uma Providência sempre presente.”
Não
se pode estar mais de acordo com Eça de Queiroz num dia em que uma greve geral lhe
dá total crédito, uma greve contra o que pretende ser o arrumar de uma casa
desarrumada, a procura do crédito que se não tem, a adopção de hábitos de
trabalho e de iniciativa que andam transviados, a responsabilização de cada um
pelo futuro do seu país, o incitamento à iniciativa e outras coisas que acabem
com a ideia que compete ao Estado tudo fazer, que a Constituição paga os
direitos que consagra e que as conquistas se fazem na rua e não no trabalho
árduo de que o futuro de Portugal necessita.
Lembro-me
dos 150.000 empregos que Sócrates prometeu criar, dos muitos mais que, depois
disso, se perderam e, agora, Seguro diz poder recuperar! Quando perderemos o mau hábito de prometer o que não podemos dar, de esperar que nos dêem o que nos compete conseguir, de sermos tão dependentes dos outros, enfim, imerecedores da independência!
Será
que Eça tem razão quando diz quês somos “bons
para ser tutelados, indignos de uma larga liberdade, e inaptos para a
independência”?
Pena
seria se as consequências lhe dessem razão nesta greve cujo objectivo óbvio é forçar a demissão do Governo!
Por certas coisas que vi, nem sequer fiquei ciente de a greve ser um direito ou uma obrigação que piquetes impõem. Mas algo me diz que esta greve não prestigiou os verdadeiros direitos dos trabalhadores. É pena.
Por certas coisas que vi, nem sequer fiquei ciente de a greve ser um direito ou uma obrigação que piquetes impõem. Mas algo me diz que esta greve não prestigiou os verdadeiros direitos dos trabalhadores. É pena.
PS:
-
Agradeço ao Fernando Pereira da Silva que, num post, me recordou estas coisas
que Eça escreveu.
-
(*)As Farpas foram publicações mensais feitas por Ramalho
Ortigão e Eça de Queirós, no mesmo ano da realização das
Conferências do Casino.
- (**) Vive ali um povo que não se governa nem se deixa governar.
- No passeio que dei pela Costa do Sol vi imensos grevistas na praia...
- (**) Vive ali um povo que não se governa nem se deixa governar.
- No passeio que dei pela Costa do Sol vi imensos grevistas na praia...
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