Não é Mário Soares que me
preocupa mas sim a leviandade de quem toma como boas as ideias que ele debita,
radicadas num passado que nada tem de comum com o presente, porque entre os dois
momentos aconteceram coisas de que Soares dá mostras de se não ter apercebido.
Vida quer dizer mudança e
são os desequilíbrios que geram o movimento. Por isso, um segundo apenas e
muita coisa mudou, quanto mais nas dezenas de anos que distam da paragem do seu
pensamento político!
Só para Soares as coisas
deveriam ficar sempre iguais. Pois bem, que viva no seu mundo e abdique daquele
que é dos outros, dos que fazem da mudança a sua vida ou, melhor dizendo,
ajustam às mudanças do mundo a vida que vivem.
Porventura, nem uma só das
razões que ditaram as regras da democracia que Soares gostaria de ver perpetuada ainda persistem. São as que nos levam a crer que as coisas podem ser como quisermos que sejam, mas, na verdade,
chegou o momento de serem como a Natureza as impõe, no que apenas uma diferente atitude democrática nos poderá conduzir sensatamente.
Creio eu que não será já
na sua vida nem, até mesmo, na minha, que tal verdade será reconhecida, tantos
são os interesses, financeiros ou as casmurrices ideológicas, que remam contra a
maré do tempo que, depois de várias ondas que foram “ultrapassadas” com
esbanjamentos que as foram tornando sucessivamente maiores, envia agora uma em que o mundo
poderá enrolar-se, definitivamente. É isto que a história da "economia" nos mostra e a impotência de superação desta crise mais reforça.
Diz Soares que somos uma “pseudodemocracia”.
Engana-se na definição porque a realidade mostra que somos uma “democracia desajustada”,
fora da realidade das coisas, ignorante de um mundo onde os excessos de meios
para satisfação de caprichos acabaram, restando, agora, os bastantes para
vivermos com dignidade se, para isso possuirmos inteligência bastante.
A democracia não é o nosso
projecto de futuro. O autêntico projecto de futuro só pode ser a sobrevivência
da Humanidade ameaçada por crises cada vez mais violentas se não se conformar
com a vida que o seu Meio lhe pode proporcionar e a sua inteligência pode
tornar melhor, na condição de não cometer mais excessos.
Sem comentários:
Enviar um comentário