SAUDADES DA SERRA

Há sempre uma gaveta no fundo da qual se descobrem coisas fantásticas. Coisas que ali ficaram esquecidas, talvez até um caderno onde alguém escreveu o que mais lhe agradou, coisas que não quis esquecer. Talvez as cantigas que a mulher cantava e uma filha encontrou muitos anos depois...
Como esta,

"Chamaste-me sarranita,

Mas eu não levo a mal,

Eu sou da Serra da Estrela

A mais alta de Portugal".

Serranita, ou sarranita como também se dizia, era aquela moça linda que vivia no sonho de todos os rapazes lá da Vila que não resistiam ao impulso de lhe fazer uns “versos”.

Também a tive nos meus sonhos e, como qualquer outro, tocado pela sua beleza, uns “versos” lhe fiz também.

Tempos distantes mas que nunca esquecem.

Serranita... Serranita,

Diz-me, onde vais tão bonita?

Com o cântaro à cabeça,

Mal o dia ainda começa...

Irás enchê-lo na fonte,

Que brota daquele monte,
Detrás do qual o Sol cresce,

Depois, em brilho, aparece

Para doirar teus cabelos,

Luzir em teus olhos belos,

Aquecer o teu andar
Que mais parece bailar,

Nos passos que entretece...

Serranita... Serranita...

Por que serás tão bonita,

Que em sonho te estou a olhar,

Desde que o dia comece

Até a noite acabar?

Serranita... Serranita...

São teus olhos de mil cores,

Despertas milhões de amores,

Só porque és tão bonita!

Serranita... Serranita...

Diz-me, por que és tão bonita?