ACORDO ORTOGRÁFICO

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sábado, 22 de junho de 2013

O CINQUENTENÁRIO DA PONTE DA ARRÁBIDA E O CENTENÁRIO DE EDGAR CARDOSO



Faz hoje cinquenta anos que a Ponte da Arrábida foi inaugurada, poucos dias depois daquele em que se completaram cem anos desde o nascimento de quem a concebeu e projectou, o Professor Edgar Cardoso.
Fui seu aluno e tenho o gosto de haver merecido a sua amizade pessoal que, pela sua vida muito ocupada, não pude usufruir tanto quanto gostaria.
Recordo aquele sexto e último ano do curso de Engenharia Civil do Instituto Superior Técnico quando o Professor tinha como maior preocupação aquela maravilhosa obra de engenharia que era o cimbre do majestoso e elegantíssimo arco de betão armado que foi, então, o de maior vão em todo o mundo! Construí-lo e, depois, ripá-lo para a betonagem do arco paralelo, foi a parte mais delicada e engenhosa de todo o projecto que levou a engenharia portuguesa ao topo da engenharia mundial.
Falou-nos desta sua obra nas aulas, com o entusiasmo próprio de quem falava de um filho muito querido que lhe fazia perder muitas noites de sono. Parecia-me que, de cada vez que falava do projecto lhe surgia uma ideia nova, imaginava uma forma diferente de por em prática o que pensava. Afinal, Edgar Cardoso era assim mesmo pois, tal como de viva voz um dia me disse, cada vez que terminava uma obra sabia, exactamente, como não faria a próxima.
Era um engenheiro muito especial, o mestre de uma engenharia cujo princípio fundamental era não ter princípios invioláveis, não ter preconceitos. Com ele aprendi a por tudo em causa e, apesar de me não ter dedicado a estruturas, pois preferi a hidráulica, foi a sua atitude irreverente, não acomodada e de insatisfação constante que sempre me orientou.
Das vezes que nos encontrámos, uma das últimas foi numa ida ao Porto onde ele ia visitar a obra da ponte do Freixo. Convidou-me a segui-lo e suei as estopinhas para o acompanhar subindo e descendo andaimes, apesar dos mais de vinte anos que separavam as nossas idades. No regresso a Lisboa, no combóio, a nossa conversa foi, tinha de ser, sobre engenharia. Agradável e complicada, como sempre.
Entre muitas coisas que poderia recordar, vou terminar com um episódio que ficou célebre e foi do conhecimento público, o da pala do velho Estádio de Alvalade, no qual a sua opinião divergia da dos que entendiam estar aquela estrutura em más condições de estabilidade. Apesar daqueles “saltos” do velho Professor em cima da pala para mostrar que tudo estava bem, o reforço acabou por ser feito. Na dúvida, pareceu-me sensato, mas seria natural que, quando a pala foi demolida, houvesse interesse em esclarecer se as baínhas e os cabos de pré-esforço da pala estavam em boas condições, como o Professor garantia, ou se o reforço feito era, ou não, necessário.
Eu morava ali ao lado e preocupei-me em verificar se alguém por isso se interessou. Ninguém! Tenho pena porque é assim que o saber progride. O Professor, se ainda fosse vivo, tê-lo-ia feito. Com certeza.


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