A curiosidade de ouvir o
que o Ministro das Finanças tivesse para dizer, dois anos após o pedido de
ajuda externa ainda em curso, resultou, para mim, numa profunda desilusão.
Não me interessaram nada aqueles
pormenores do que se foi passando naqueles dias em que a bancarrota se
aproximava a passos largos, os arrufos entre os intervenientes do “drama” que então
se viveu e, menos ainda, como estavam ou estão as relações de amizade entre Teixeira
dos Santos e José Sócrates.
Esperava ouvir falar das
razões do que sucedeu, dos erros cometidos nas governações que fragilizaram a
nossa economia e exauriram os nossos recursos financeiros, das decisões de despesismos
tomadas mesmo quando se tornou evidente que a despesa pública excedia
largamente o que seria razoável e muitas vozes se levantavam já, alertando para
as inevitáveis graves consequências de tal política. Foram meses de alertas que
o governo não ouviu, em vez do que preferiu programar mais despesa, do que, num
discurso, Sócrates se orgulhou!
Em vez disso e para além
da descrição histórica que fez, Teixeira dos Santos fez algumas afirmações que
convém analisar.
Afirmou que o famoso PEC4
teria sido a solução que evitaria o pedido de ajuda financeira que, depois de
chumbado, se tornou inevitável. Não sei o que lhe consente fazer tal afirmação
porque com o PAC4 ou com a intervenção da Troika e apesar das garantias que,
disse, Angela Merkl lhe deu, o descalabro global que alimenta esta “crise” não
deixaria de acontecer. Eu, pelo contrário, penso que tudo teria corrido como
está a correr, tendo em consideração a evolução da “crise” pela Europa e pelo
mundo que o PAC4, por certo, não alteraria! Depois, ninguém pode garantir os
efeitos do que não aconteceu. Alguém com a formação do Prof. Teixeira dos
Santos, não se pode permitir dizer coisas destas que podem gerar conceitos
políticos erróneos e perigosos.
Mas o que mais me chocou
foi a sua afirmação de que “se governa em função das informações de que se
dispõe”! Assim, se soubesse o que sabe hoje, não teria reduzido o IVA nem
aumentado os salários da Função Pública!
Em tudo isto eu leio os
princípios contrários aos da boa governação que, como qualquer outra
administração, se não deve guiar pelas circunstâncias, mas proceder de modo a
influenciá-las, não se deve guiar pelas aparências porque deve saber ler, para
além delas, as perspectivas de futuro, porque deve ser o futuro o motivo das
suas preocupações, em vez das soluções intempestivas impostas pelo que,
inesperadamente, aconteça a qualquer momento.
Sem espanto verifiquei que
os eventos de crítica que se seguiram não conseguiram, também eles, afastar-se
dos mesmos assuntos que a entrevista tratou, da amizade e da fidelidade do
ex-ministro das finanças para com Sócrates, sem explorarem os aspectos que o
ex-ministro poderia esclarecer para servirem de exemplo para o futuro!
Enfim, foi mais uma entrevista política para intervir no "PREC" em curso.
Enfim, foi mais uma entrevista política para intervir no "PREC" em curso.
Sem comentários:
Enviar um comentário