Em tempos que há muito já lá vão, na
curta visão ao seu alcance, o Homem não tinha como prever o tempo que faria senão
a muito curto prazo, um dia ou umas horas apenas, o máximo que podia inferir
das nuvens que via no horizonte e do modo como se deslocavam.
Depois, medindo a pressão
atmosférica, com barómetros, passou a ser possível fazer umas “previsões” muito
genéricas que não eram, de todo, garantia de grande coisa.
Passando a dispor de meios
que permitiam analisar áreas vastas da atmosfera, foi possível estabelecer
cartas de isobáricas que davam a noção da dinâmica atmosférica, com a
localização de centros de altas e de baixas pressões, das superfícies frontais
associadas e da sua evolução, a partir do que se fazem extrapolações em que se
baseiam as previsões meteorológicas.
Apesar desta evolução
tecnológica, as previsões eram pouco fiáveis o que levava a que, por graça, aos
serviços se chamassem “mentirológicos” e se recomendava levar guarda
chuva quando bom tempo fosse anunciado.
Os radares, os satélites e
outros meios ainda, para além da experiência baseada na muita informação
entretanto recolhida e analisada em redes de observação cada vez mais densas e
melhor equipadas, permitiram previsões mais seguras. A meteorologia tornara-se
uma ciência fiável e os meteorologistas pessoas de competência reconhecida, em
cujas previsões se podia confiar.
As previsões foram-se
dilatando no tempo, ainda que aos maiores prazos correspondessem, naturalmente,
as menores garantias. Mas as previsões a três dias eram garantidas e apenas
muito raramente a realidade não correspondia ao que se previra.
Previsões para cinco ou
dez dias passaram a estar disponíveis, com um grau de fiducidade relativamente
elevado
Mas, tal como diz o
ditado, “não há bem que sempre dure” e nestes tempos que vão correndo, nos
quais a “crise” tudo ataca, não poderia a meteorologia ficar de fora. Depois de
um Verão que o não pareceu, vamos chegando ao Outono sem saber como fazer
quando se trata de vestir mais leve ou mais agasalhado, levar ou não o
guarda-chuva mas, sobretudo, saber quando mudará este tempo que se vai mantendo
estupidamente chato, com uma mudança que os especialistas vão adiando de
Domingo para Domingo!
É certo que, ainda há não
muito tempo, este tempo chuvoso seria normal, ainda que com menor intensidade, porque Setembro era o mês primeiro
do Ano Hidrológico e, por isso, aquele em que as chuvas começavam, para apenas
nos deixarem daí a uns seis meses…
Então por que esta crença
de que o bom tempo ainda virá aí, para além do afamado “Verão de S. Martinho”
que costuma aparecer nos princípios de Novembro quando se prova o vinho novo e
as castanhas “quentes e boas” são a delícia do momento?
Talvez porque não veio no
Verão, como devia, e o S. Pedro, a quem a santidade não parece resguardar das insuficiências próprias próprias da sua provecta idade, o terá guardado em algum lugar de que se esqueceu.
Mas que há-de vir é uma esperança que todos temos, quem sabe se em vão.
Fui professor de hidrologia
e embora as coisas se passem, basicamente, do modo como as ensinava, a verdade
é que quanto a estatísticas de frequências e de intensidades com que os fenómenos
acontecem, as coisas estão muito mudadas, daí que as previsões se tornem quase
impossíveis porque a “chuvada” dos cem anos parece ter agora uma frequência
anual…
São as mudanças climáticas
que os nossos descuidos ambientais aceleraram e tornaram bruscas, a tal ponto
que me não atrevo a dizer como será daqui a uns meses.
É um fenómeno tão evidente que começa a preocupar muita gente que se manifesta para exigir dos políticos atitudes que nos resguardem dos efeitos de uma economia apressada e descuidada que cada vez mais nos parece conduzir à pobreza.
Será que algum político se
apercebeu da MARCHA PELO CLIMA que ontem irmanou milhares de cidades e muitos
milhões de pessoas em todo o mundo?
Duvido!