ACORDO ORTOGRÁFICO

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quarta-feira, 10 de setembro de 2014

TÃO LADRÃO É O QUE VAI À VINHA…

Dentre os ditos de que me lembro dos meus tempos de menino, aqueles que o saber popular foi arrolando, alguns eram autênticos códigos de conduta e de julgamento para os procedimentos mais vulgares do dia a dia. Faziam parte dos ensinamentos que os mais velhos nos transmitiam, dos conselhos que nos davam para nos tornarmos pessoas de bem, respeitadoras e confiáveis.
Tem-me a vida, já longa, demonstrado como estavam certos esses princípios cujo desprezo se tornou causa de procedimentos que novos códigos de conduta consentem e a ambição acolhe, tornando-se, por regra, a causa de situações desagradáveis que uma atitude diferente, mais de acordo com princípios que o tempo fez esquecer, teria evitado.
Eram verdadeiros códigos de honra pelos quais a sociedade se regia. Era apontado a dedo quem os não respeitasse, quem não assumisse a responsabilidade do que fizesse, quem, quando alguma coisa corre mal, logo sacode a água do capote e se não consegue demonstrar que não tem a culpa logo a divide com outros para que não pese tanto.
Hoje é a permissividade que se impõe, segundo a qual o erro não é fazer o mal nem enganar os outros, mas sim fazê-lo e ser apanhado!
Talvez por isso, no preocupante caso do colapso do BES em que as irregularidades foram bem longe escapando ao controlo e à censura de uma sociedade habituada a assobiar para o lado, de Ricardo Salgado se diz que prepara já a demonstração de não ser apenas culpa sua a queda de um império com cento e cinquenta anos dentro de um buraco enorme de muitos milhares de milhões. E até deve ter razão porque não será ele o super-homem que fez tudo sozinho enquanto os demais dormiam. Assim como não terão sido apenas para ele os proveitos das trapalhadas feitas e cujo custo, pague o Estado ou pague a Banca, mais directa ou mais indirectamente, sempre acabará sobrando para todos nós pagarmos.
O que me espanta é a desfaçatez com que vêm a público declarações de quem fizesse parte de Conselhos de Administração ao longo de anos, participando em reuniões onde “entrava mudo e saía calado” e, mesmo até, sem qualquer ideia fazer do que por lá se passava. Tal como outros dizem de nada terem podido saber a tempo porque de nada sabiam...
E não posso deixar de lembrar quando se dizia que “tão ladrão é o que vai à vinha como o que fica ao portão” e por esse princípio eram julgados os que roubavam ou ajudavam a roubar as uvas dos outros…


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