Dentre os ditos de que me
lembro dos meus tempos de menino, aqueles que o saber popular foi arrolando,
alguns eram autênticos códigos de conduta e de julgamento para os procedimentos
mais vulgares do dia a dia. Faziam parte dos ensinamentos que os mais velhos
nos transmitiam, dos conselhos que nos davam para nos tornarmos pessoas de bem,
respeitadoras e confiáveis.
Tem-me a vida, já longa,
demonstrado como estavam certos esses princípios cujo desprezo se tornou causa
de procedimentos que novos códigos de conduta consentem e a ambição acolhe, tornando-se,
por regra, a causa de situações desagradáveis que uma atitude diferente, mais
de acordo com princípios que o tempo fez esquecer, teria evitado.
Eram verdadeiros códigos
de honra pelos quais a sociedade se regia. Era apontado a dedo quem os não
respeitasse, quem não assumisse a responsabilidade do que fizesse, quem, quando
alguma coisa corre mal, logo sacode a água do capote e se não consegue
demonstrar que não tem a culpa logo a divide com outros para que não pese
tanto.
Hoje é a permissividade
que se impõe, segundo a qual o erro não é fazer o mal nem enganar os outros,
mas sim fazê-lo e ser apanhado!
Talvez por isso, no preocupante
caso do colapso do BES em que as irregularidades foram bem longe escapando ao
controlo e à censura de uma sociedade habituada a assobiar para o lado, de
Ricardo Salgado se diz que prepara já a demonstração de não ser apenas culpa sua
a queda de um império com cento e cinquenta anos dentro de um buraco enorme de
muitos milhares de milhões. E até deve ter razão porque não será ele o super-homem
que fez tudo sozinho enquanto os demais dormiam. Assim como não terão sido apenas
para ele os proveitos das trapalhadas feitas e cujo custo, pague o Estado ou
pague a Banca, mais directa ou mais indirectamente, sempre acabará sobrando
para todos nós pagarmos.
O que me espanta é a
desfaçatez com que vêm a público declarações de quem fizesse parte de Conselhos
de Administração ao longo de anos, participando em reuniões onde “entrava mudo
e saía calado” e, mesmo até, sem qualquer ideia fazer do que por lá se passava. Tal como outros dizem de nada terem podido saber a tempo porque de nada sabiam...
E não posso deixar de lembrar quando se dizia que “tão ladrão é o que vai à vinha como o que fica
ao portão” e por esse princípio eram julgados os que roubavam ou ajudavam a roubar as uvas dos
outros…
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